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Jarbas, o milagroso

O presidente da seção paraense da Ordem dos Advogados, Jarbas Vasconcelos do Carmo, realiza uma façanha cada vez mais rara no Pará: transita com desenvoltura entre os grupos de comunicação das famílias Maiorana e Barbalho, que estão em guerra aberta em todos os fronts. No dia 25, ele foi à redação de O Liberal comunicar a Ronaldo Maiorana que ele receberá a maior comenda concedida pela OAB, a Ordem do Mérito Advocatício. A distinção será formalizada durante a VI Conferência dos Advogados do Estado do Pará, que será realizada entre os dias 10 e 12 no centro de convenções do Hangar.
Ronaldo Maiorana era diretor corporativo do jornal. Agora é o seu diretor jurídico, mas nunca exerceu a profissão de advogado. Em 2005 ele era o diretor da comissão em defesa da liberdade de imprensa quando me agrediu fisicamente, com a cobertura de dois policiais militares. Os PMs deviam estar no quartel naquele dia, mas atuavam como seguranças particulares do empresário. Na época sob a presidência de Ophir Cavalcanti Filho, a OAB não se manifestou sobre o episódio. Alegou que se tratava de “rixa familiar”.
Jarbas substituiu Ophir e se reelegeu presidente da OAB, por pequena margem de votos (2.492 contra 2.330, mais 1.106 de Duda Klautau, que enfraqueceu assim a oposição) sobre a sua principal concorrente, a ex-presidente Avelina Imibiriba Hesketh. Seu segundo mandato, compçletando seis anos no cargo, irá até 2015. Seu vice-presidente, Alberto Campos, já é candidato a sucedê-lo. Jarbas deverá ir para o conselho federal da Ordem, com pretensão a seguir o caminho de Ophir Filho, que presidiu a OAB nacional depois do próprio pai (falecido no início deste ano), que lhe abriu caminho.
Em 2011 Jarbas Vasconcelos comandou uma campanha contra a corrupção, à qual logo se juntou o grupo Liberal, desviando o alvo diretamente para o senador Jader Barbalho, do PMDB. Os veículos de comunicação da corporação, que é afiliada à Rede Globo de Televisão, promoveram à exaustão a passeata contra os corruptos convocada por Vasconcelos, que seguiu pela área central de Belém.
O principal executivo do grupo Liberal, que estava na sede da OAB à espera do momento aprazado para sua aparição luminosa na romaria cívica, preferiu fazer forfait, como diriam os colunistas sociais da “casa”. É que, não se concentrando nos Barbalho, sobraram palavras de ordem também contra ele e seu império de comunicação. Romulo Maiorana Júnior preferiu se poupar e sair de fininho, à francesa, para não se sujeitar à massa.
A partir daí o presidente da OAB entrou para o índex do grupo RBA. Surpreendentemente, porém, reverter a condenação ao limbo do ostracismo midiático dos Barbalho. Em maio deste ano incluiu Helder Barbalho, já candidato ao governo do Estado, entre os convidados especiais para uma audiência sobre o programa do Simples e o sublimite estadual desse imposto único. O objetivo do encontro era pressionar o governo a dobrar esse sublimite, que é de 1,8 milhão de reais, para o teto nacional, de R$ 3,6 milhões.
Segundo a notícia publicada no Diário do Pará no dia seguinte, Helder esclareceu sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade movida pelo seu partido, o PMDB, questionando a validade do decreto estadual que definiu o limite local. Nesta semana o governo estadual anunciou que modificará o sublimite do Simples, embora tenha manifestado negativamente em relação ao pedido até pouco tempo atrás. A mudança foi interpretada pelo Diário como iniciativa eleitoreira.
Esta definição também podia ser aplicada à ação de bastidores do presidente da OAB até conseguir uma posição singular no cenário do poder local: aparece bem tanto no noticiário dos Barbalho como no dos Maiorana, embora seja um crítico às vezes virulento da administração Simão Jatene, que o grupo Liberal apoia incondicionalmente. Divergências políticas à parte, a concessão da honraria a Ronaldo Maiorana, sem que se saiba objetivamente das razões para a indicação do seu nome, parece fazer parte de um acordo não declarado que colocaria a mídia local ao lado dos projetos de Jarbas Vasconcelos.
Naturalmente, no seu alvo está a eleição do seu sucessor, sua ascensão ao plano nacional da Ordem e sabe-se lá mais tanto e quanto. Em troca do quê? Esta é a questão, diria Shakespeare, pela voz do atormentado e ambíguo Hamlet.

Discussão

Um comentário sobre “Jarbas, o milagroso

  1. Parece-me o famoso ato de troca de favores.

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    Publicado por escribavirtual | 30 de agosto de 2014, 14:58

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