Quando as notícias são maciçamente ruins na conjuntura atual, uma, gerada ontem, veio na mão contrária: o fim da reeleição para a chefia do poder executivo, que vai do presidente ao prefeito, passando pelo governador. E por uma maioria expressiva, na Câmara Federal: 452 votos a favor e apenas 19 contra. Contando para isso com a orientação de todos os partidos para a aprovação dessa mudança fundamental.
Para que a nova regra entre em vigor, a medida ainda terá que ser aprovada pela Câmara em segundo turno e receber 60% da aprovação dos senadores, em dois turnos de votação. O caminho ainda é longo e sujeito a armadilhas e surpresas. Mas pelo menos a inércia foi vencida. Se a alteração entrar em vigor, o Brasil se reconciliará com sua melhor tradição política.
A reeleição foi adotada pela primeira vez na vida republicana brasileira em 1997, para que o presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, pudesse se reeleger no ano seguinte. Ele pagou um preço alto, literalmente e simbolicamente, por esse troféu de legitimidade viciada. Precisou pagar favores para conquistar a adesão parlamentar. No novo mandato, uma conjuntura internacional crítica azedou seu último quadriênio.
Foi tão ruim o desempenho do país, que sua maior realização, a criação de uma moeda sólida a partir do Plano Real, foi esquecida. Seus méritos e conquistas sumiram do horizonte da memória nacional. O que ficou foi uma imagem deteriorada. O político se rebaixou e o intelectual se enodoou. Foi um castigo, mas ele fez por merecer.
Desde então nenhum presidente deixou de se reeleger. Com Lula, do PT, sucessor de FHC, ocorreu fenômeno inverso: ele quase não conseguiu um novo mandato por causa do escândalo do mensalão. Sua aura de cavaleiro sem mácula ficou definitivamente manchada, mas a estrutura de poder derivada da força do chefe do poder executivo prevaleceu, permitindo-lhe colocar em seu lugar aquela que ele vendeu ao eleitor como gerente eficiente.
Ela manteria o barco andando até a volta do seu grande timoneiro, em 2018. Mas os ventos passaram a soprar contra e a navegadora não consegue encontrar um rumo. A terrível situação do Brasil clama aos céus para que o Congresso Nacional sepulte de vez essa criatura maléfica, a reeleição para os cargos políticos no comando do executivo, mesmo que pagando o pedágio de aumentar o mandato único de quatro para cinco anos.
O povo brasileiro agradecerá se a correção for até o fim.
Caro Lúcio Flávio Pinto:
Caso exista material explanando a frase abaixo que retirei do artigo, gostaria de avaliar.
“Foi tão ruim o desempenho do país, que sua maior realização, a criação de uma moeda sólida a partir do Plano Real, foi esquecida.”
Desde já agradeço.
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Tem muito material. Os jornalistas Miriam Leitão e Guilherme Fiúza escreveram sobre a elaboração do plano. Maria Clara, que participou da equipe, também. Há várias coletâneas. É uma bibliografia extensa. O próprio FHC escreveu a Arte da Política. Coloque no Google Plano real livros que virá uma enxurrada.
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Senhor Lúcio Flávio Pinto:
Perdoe-me, creio não ter sido claro. Eu me referia a paternidade do plano. Se não for incômodo, por favor, esclareça a maior realização do Sr FHC.
Grato.
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O Itamar diz que o Real é dele. O Ciro Gomes também. Na verdade, porém, o Plano Real foi concebido e executado por um grupo de técnicos sob o patrocínio do FHC. É o que mostra a maioria das análises independentes ou de terceiros relativamente aos personagens da história. Foi essa a maior realização do FHC.
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Senhor Lúcio Flávio Pinto:
Acompanho sempre que posso suas publicações e admiro sobremaneira seu trabalho. Naturalmente existem algumas divergências que creio sejam salutares.
Mais uma vez meus agradecimentos por ceder gentilmente seu tempo.
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