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Imprensa

O perfume no ar

O blog completou hoje um ano. Nesse período recebeu mais de 219 mil visitas, nas quais foram lidas 815 postagens e feitos (com a minha participação) 1.574 comentários. Do total, 203 mil mil visitações foram feitas no Brasil, pouco mais de seis mil nos Estados Unidos, 1.256 na França, 1.194 na Alemanha e 1.072 em Portugal, as principais origens.

A tarefa de avaliar esses números é do leitor. Mas inegavelmente este blog não é um campeão de audiência. Seus números, modestos, guardam coerência com as suas características e as intenções de quem os criou.

Este blog não tem imagens nem músicas e nem vídeos. Raramente reproduz matéria alheia. Não por não desejar a participação dos seus leitores, mas porque há um critério bem profissional de edição. Trata-se de blog de jornalismo. Sua essência é a apuração de fatos. A interpretação tem que se basear neles e estabelecer parâmetros comuns para um diálogo produtivo, com acumulação e prosseguimento.

O critério da verdade é o da sua demonstração. Quem acha que opinião é mera emulação de desejo, subjetividade e “achismo” vai encontrar um filtro. Não de censura ou seleção, mas de questionamento rigoroso, sempre com base nos fatos. Se alguém disser que Lula (ou FHC) é ladrão, terá que provar.

Felizmente, graças a esse critério, o blog só foi acessado por um anônimo, justamente hoje. As pessoas, aqui, não têm motivo para esconder sua identidade e aproveitar essa máscara para dizer impropriedades, agredir ou sentenciar à base de categorias absolutas, refratárias à prova da verdade, no jogo bem conhecido (mas nunca abolido) dos fascismos. O esforço comum é pelo esclarecimento geral e o bem de todos. Acredita-se que esse objetivo será atingido por um jornalismo profissional, comprometido com a verdade.

Praticá-lo requer tempo, capacidade de apuração e possibilidade de transmitir os fatos com clareza. Só se consegue atingir essas metas com dedicação integral. Caso o leitor aprove o trabalho realizado, o que o blogueiro espera é que assuma a responsabilidade de garantir a continuidade desse processo.

O blog é de acesso gratuito, mas é preciso que as pessoas paguem para que essa condição se torne possível (Oscar Wilde lamentou numa carta a um amigo não ter tido tempo para ser simples). Um jornalismo a sério não pode viver de mecenas ou receitas deletérias. Tem que se manter do leitor. Infelizmente, porém, não se conseguiu ainda esse nível de consciência.

Um dos efeitos do blog foi tirar leitores do Jornal Pessoal. Os dois últimos números circularam com déficit. A continuar assim, o desfecho não será surpresa: o jornal acabará. Acabará também o blog. Acabará o jornalismo que ambos procuram praticar, sob as maiores dificuldades e limitações extremas. Não há milagres. O desfecho acontecerá, quaisquer que sejam os malabarismos e boas intenções.

O leitor padrão deste blog ou do JP não pode pagar 20 reais por mês para manter ambas as publicações, fazendo o depósito conforme as instruções, que aqui têm o seu devido link? Não pode sequer contribuir com 10 reais, o valor de cada edição quinzenal do jornal impresso?

Parece que não. Apenas uma dúzia ou menos de pessoas comparecem ao borderô, o que não paga nem a despesa da energia e os insumos do computador no qual escrevo neste momento. Se é assim, será assim. E vamos para outra.

Não sem antes fazer uma observação para os que vierem depois de mim, por este caminho ou por outros. No arquivo deste blog não há um único comentário dos principais intelectuais da terra, várias deles amigos, companheiros ou conhecidos. A academia passou ao largo, como o diabo foge da cruz.

Nada a registrar ou admirar se este não fosse um blog de jornalismo investigativo, cuja marca é abrigar temas e abordagens que não aparecem em nenhum outro espaço público. Logo, sem o blog e o JP, ficarão abolidas do conhecimento da sociedade, seja pelo desaparecimento dos dois espaços seja porque os difusores do conhecimento e extensionistas do saber se omitem, se calam, se acovardam. Muitos dos quais devem o que são e têm às escolas públicas – mas se recusam à contrapartida devida ao distinto público, que os financiou. Vivem no espelho dos títulos, fascinados por seus currículos Lattes.

Se a minha voz o vento pode levar, o meu perfume, como o do mestre maranhense João do Vale, fica morando no ar. É, pelo menos, a ilusão que me mantém.

 

Discussão

19 comentários sobre “O perfume no ar

  1. Lucio, sempre leio esse “destino” do jornal, com muito, muito receio. Leitores do jornal, não deixemos isso acontecer. Não esperemos que o jornal acabe para tomarmos providência/ nos unirmos, etc. Vamos manter o jornal!!!!

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    Publicado por thonesouza | 28 de agosto de 2015, 22:56
  2. Não há nenhuma possibilidade de fazer o Jornal Pessoal online, acesso restrito a assinantes? Eu sou um dos que acessa da Alemanha. Prefereria pagar e ter o meu jornal para ler como fazia em Belém (nem que seja em pdf). Assim, pessoalmente consideraria que a minha contribuição ao seu trabalho seria mais sólida do que simplesmente depositar um valor na sua conta corrente.

    Grato.

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    Publicado por Daniel Santos | 29 de agosto de 2015, 07:48
  3. Lucio ,

    Como pessoa , você tem uma sensibilidade libertária , politicamente libertária , rara e admirável ; como jornalista você é um exímio analista da micro-física das relações de poder no campo politico , na melhor tradição herdada de Michel Foucault . O teu trabalho é lindo, de fôlego, instigante , provocador , irônico , apimentado . No caso do JP , com a extraordinária colaboração da arte gráfica do Luis Pinto, seu irmão artista , isso tudo fica muito melhor. Portanto, meu amigo , esqueça os grandes intelectuais , você lhes dá mais valor do que eles mesmos se dão . Direcione seu olhar e seu pensamento para as multidões , aqueles que foram às ruas em junho de 2013 , para o intelectual anônimo das multidões ou para o homem simples , como diz o sociólogo José de Souza Martins , homem admirável e admirador do teu jornalismo nutrido na energia de um espirito livre, independente de amarras burocráticas . Esses homens simples que pensadores como nós , não tem nenhuma necessidade de dizer ” você sabe com quem está falando” ?
    E aproveite muito bem a sua estádia na paulicéia. Você merece esse convite especial e ele mesmo demonstra o seu extraordinário valor para a sociedade .

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    Publicado por Marly Silva | 29 de agosto de 2015, 09:28
    • Você tem toda razão, Marly, embora exagere amigavelmente nas minhas virtudes. O que faço é apenas jornalismo, que se destaca porque os próprios jornalistas estão abandonando seu dever de ofício. Espero que novos intelectuais se apresentem para o combate e se aproximem do povo, que tanto precisa dessa companhia.

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      Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 29 de agosto de 2015, 10:10
  4. Lúcio, fico muito entristecido com a atual situação do Blog e do JP, só de pensar que em um futuro breve não terei mais água dessa fonte extraordinária fico apreensivo, sou assíduo comprador do JP e mesmo dada as atuais circunstâncias vou ao borderô e incentivarei aqueles amigos que também se nutrem dessas fontes a fazê-lo. Sei que pode parecer insuficiente e inexpressivo, mas é o que todos deveriam fazer, visto que sabemos dos altos custos que a atividade acarreta. Mas caro amigo, não temas e continue escrevendo com afinco, pois sei que nessa legião de seguidores que apreciam seu trabalho existem pessoas que hão de ser sensíveis a questão.

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    Publicado por Vinicios | 29 de agosto de 2015, 21:33
  5. Lucio,
    Vou falar aqui que já lhe disse pessoalmente, portanto nenhuma novidade
    Sempre achei que deverias voltar ao sistema de venda de assinaturas e que cobrasse o devido valor para cobrir as despesas necessárias. Seria uma forma de ampliar a distribuição da informação e viabilidade do JP
    Quanto a frase abixo não entendi pois não fiquei sabendo de nada a respeito. Será que não faltou divulgação ?

    O leitor padrão deste blog ou do JP não pode pagar 20 reais por mês para manter ambas as publicações, fazendo o depósito conforme as instruções, que aqui têm o seu devido link? Não pode sequer contribuir com 10 reais, o valor de cada edição quinzenal do jornal impresso?

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    Publicado por Eduardo Daher | 30 de agosto de 2015, 09:47
  6. Lucio ,
    Não há exagero nenhum no que eu disse . Aliás , disse menos do que devia , já que você também é um grande analista da microfísica do poder econômico ou da economia politica que opera na nossa região . Além de fazer interessantes incursões no campo literário e artístico .É por isso que os teus leitores não te largam !!!, mesmo quando você dá claros sinais de uma vontade de curtir um ócio criativo ou se aventurar por outras searas de luta .

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    Publicado por Marly Silva | 30 de agosto de 2015, 20:06
  7. Caro jornalista, mesmo que algumas matérias publicadas no blog se repitam no JP, continuo comprando meu exemplar regularmente. Também fico preocupado com a possibilidade da extinção do JP e do blog, já que os tenho como uma fonte preciosa de informação e análise, que ajudam a entender a realidade circundante. Me sentiria órfão e tateando no escuro sem suas argutas análises. Por isso, vou procurar contribuir comprando mais de um exemplar nas bancas.

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    Publicado por allan souza dos santos | 31 de agosto de 2015, 09:10
  8. Srº Lúcio, pelo achismo, acredito que o blog e o seu jornal tenha um potencial grande. O problema é o como a sua produção irá chegar a ao consumidor. Eu até hoje não tirei um pouco do meu tempo pra procurar por Belém o seu jornal, talvez ficaria mais fácil se o jornal fosse até aos interessados… e existe muitas formas de faze-lo… sendo que a internet é uma delas.
    Você sabe que as locadoras de filmes das esquinas por aí foram extintas, pois encontraram maneiras mais eficientes de alugar e de assistir filmes. Netflix por exemplo, você paga algo em torno de R$ 20 e tem um acervo enorme de filmes, séries, etc em alta definição. Pense nisso, leve essa ideia ao seu produto. Talvez você consiga alcançar os seus objetivos.

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    Publicado por Rodrigo Reis | 31 de agosto de 2015, 10:23
    • Obrigado, Rodrigo, por seu interesse e sugestões.
      O problema para fazer o que você recomenda é a falta de capital, decorrente da recusa editorial à publicidade. Tenho que depender da venda avulsa, no caso do jornal, e da adesão voluntária, no caso do blog. A decisão é do leitor.

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      Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 7 de setembro de 2015, 10:51
  9. Depositei R$30,00 uns meses atrás, estou na faculdade e passou da hora de fazer outro depósito compensando os meses não pagos. Creio que esse seja um bom comentário.

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    Publicado por Thiago | 31 de agosto de 2015, 12:03
  10. Seu Lúcio, no caso de se optar pelo depósito bancário, quais as contas para contribuição. Concordo com o comentário feito acima de que talvez falte mais divulgação de como contribuir com o blog.

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    Publicado por allan souza dos santos | 31 de agosto de 2015, 12:09
  11. Lúcio,
    O teu perfume já está impregnado em nós e nesta terra, da qual tens sido um filho honrado, grato e atencioso, igualmente como foste com a tua mãe, nossa querida D. Iraci.
    Não desista nunca porque a tua voz jamais será silenciada e a tua palavra jamais passará.

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    Publicado por Edineide Coelho | 10 de setembro de 2015, 21:39

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