Paulo Rosman, professor de Engenharia Costeira da Universidade Federal do Rio de Janeiro, numa entrevista que deu à BBC de Londres, iniciou o contracanto às avaliações e previsões pessimistas ou mesmo catastróficas manifestadas até agora em relação ao significado e efeitos do desastre de Mariana, que aconteceu no dia 5, entre Minas Gerais e Espírito Santo.
Ele fala com sua autoridade técnica e na condição de autor de um estudo encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente para avaliar os impactos e a extensão da chegada da lama ao mar, no litoral capixaba.
Para ele, os 50 milhões de toneladas de lama que foram liberados para o vale do rio Doce, por causa do rompimento de uma barragem de deposição de rejeitos de minério de ferro processados pela Samarco, não o mataram nem arrasaram o seu leito e dos seus afluentes no percurso de mais de 700 quilômetros até o mar.
Ele disse para a agência de notícias inglesa que “há três diferentes cenários de gravidade do desastre e de velocidade de recuperação. No alto, onde a barragem se rompeu, próximo ao distrito de Bento Rodrigues, deve durar mais de um ano e dependerá de operações de limpeza dos escombros e de um programa de reflorestamento”.
No entendimento do pesquisador, na maior parte do percurso do rio Doce, “as próprias chuvas devem limpar os estragos e os peixes devem voltar ao rio no período de cinco meses, e, no mar, a diluição dos sedimentos deve ocorrer de forma mais rápida – até janeiro do próximo ano”.
As fortes chuvas que caem na região entre novembro e abril criarão uma correnteza, que “lavará” o rio Doce, num processo natural, retirando os sedimentos dos rejeitos de minério que ali foram depositados, numa massa de lama com aproximadamente 1,3 milímetros de espessura.
Quanto aos danos pela chegada da lama ao litoral, ele garante que serão muito pequenos, quase desprezíveis. Serão diluídos e levados pelas correntes. Ele compara essa penetração à descarga de um rio muito barrento, como o Amazonas, que joga muito mais sedimentos em suspensão na época de cheia, sem qualquer prejuízo ao mar.
“Risco sempre há, mas não tenho razões para acreditar nisso. Já ouvi pessoas que não são da área darem prognósticos devastadores quanto à toxicidade desse material. E já ouvi pessoas que são especializadas, da área de geologia, e que conhecem muito bem isso, dizerem o oposto, que se trata de um material de baixa toxicidade”.
Rosman não acredita em grandes impactos persistentes no longo prazo. “As pessoas podem tirar da cabeça essa ideia de que se trata de algo radioativo, de um veneno ambiental que vai matar tudo e nunca vai sair do chão. Não é nada disso”.
Quanto ao futuro da região afetada, sua primeira sugestão é para que o governo de Minas Gerais avalie “o que retirar de escombros, de estruturas danificadas, e ver se deixa algo como marco simbólico da tragédia. É um absurdo permitir o retorno das pessoas para aquele local”.
Se fosse do governo de Minas, “obrigaria a Samarco a fazer um parque memorial ali. Fazer um projeto bonito, fazer um paisagismo, uma correção de solo, um jardim, e ficaria como memória, com homenagem às pessoas que sofreram essa desgraça toda. Ninguém vai poder voltar a morar ali”.
Ele está certo de que o poder público “não poderia permitir a instalação de povoados em áreas de passagem de eventos como esse que ocorreu. Hoje não faltam ferramentas computacionais que nos permitem simular um rompimento de uma barragem e mostrar qual é a trilha de percurso da avalanche. Atualmente é inaceitável e injustificável ter povoados em rotas de avalanche de barragens, ninguém poderia morar nestes locais”.
Sem identificar responsáveis pelo acidente, sua visão é para o futuro: “a partir de agora, deste exemplo dramático e catastrófico, se o governo não tomar medidas para realocar pessoas em áreas de alto risco, em outros locais onde se sabe que poderia ocorrer algo semelhante a Mariana ou até pior, eu diria que estaríamos falando de uma atitude mais do que irresponsável, mas sim criminosa”.
Para ele, só há duas opções: “Você pode remover o povoado para outro local, ou se o povoado for grande demais, você embarga o negócio lá em cima. Para de usar a barragem, estabiliza, deixa secar, e pronto. Transfere a atividade para outro lugar. Tem que ver o que é mais viável”.
É uma posição sólida e um conhecimento de causa da situação, mas não a palavra final sobre um fato que ainda não foi inteiramente reconstituído e uma perspectiva que permanece em aberto. Para um debate mais positivo, agora que o pior passou, o Ministério do Meio Ambiente deveria dar ampla divulgação ao documento que encomendou ao professor Paulo Rosman.
Assim, os interessados poderão ter acesso à integra das suas observações e sugestões para analisá-las e manifestar suas próprias posições. O tema é grave e ainda não foi “pacificado” – nem pela ciência.
Em que mundo vive esse homem? Só faltou afirmar que o acidente ocorrido na barragem não provocou morte alguma.
Pelo visto, ele já está transferindo para as chuvas,as ações que o governo e as empresas devem concretizar.
Quando as chuvas começarem a “lavar” o rio para onde levarão os elementos tóxicos?
Já que as posturas dele são tão “nostradâmicas” por que ele não enviou,ao local e a tempo, asferramentas computacionais para impedir a avalanche de lama?
Outros setores científicos deveriam fazer, também, mais estudos para confrontar os dados já obtidos pelo professor. Mas isto deveria ser feito rapidamente antes que os peixes terminassem os seus passeios. Eles foram ali e já voltam. Em menos de cinco meses.
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