Milhares de belenenses amanheceram tirando água das suas casas inundadas. Fui – e continuo a ser, pois ainda há muita água por escoar – um deles. Não me lembro de uma enchente desse porte em maio, ainda mais no final de um mês que já é de transição para o dito verão. Foi o maior dentre tantos alagamentos do meu currículo de morador de uma baixada, bem central, no bairro do Reduto. Metida a besta, mas rudimentar. Carente de palafitas.
Em frente à minha casa passa uma galeria pluvial (herança da era da Biyngton, minha vizinha na praça da Trindade, comandada por um inglês que se orgulhava de não tomar água, só cerveja), capaz de deixar passar um carro. Sou um dos privilegiados moradores desta capital, a mais maltratada do país, a partilhar a rede de esgoto, que não atende nem 10% da sua população. Ainda assim, a água parece subir de ano para ano, causando enormes estragos, como agora. Torna-se cruel quando chuvas pesadas coincidem com maré alta.
Aliás, a elevação do nível do mar para além dos três metros dispensa a chuva para invadir ruas e casas. Basta observá-la nas marginais da ironicamente famosa Doca de Souza Franco (certo prefeito se declarou tarado por docas – e, naturalmente, cego à paisagem natural do sítio belenense). Mesmo sem chuva, há acumulação de água nas vias laterais do canal revestido que sepultou o igarapé das Almas (até na toponímia Belém vai ficando mais triste).
Peculiaridades locacionais à parte, uma coisa é certa: a capital dos paraenses, com seus 1,5 milhão de moradores, mostra-se incompetente para lidar com o elemento físico que a molda e, por inapetência humana, a fustiga permanentemente: a água.
A administração municipal devia contar com uma agência de manejo de água para fazer previsões corretas sobre marés e chuvas, alertar o cidadão para as emergências, agir de imediato em seu auxílio e ter uma política permanente de ajuste da cidade ao seu ambiente. Afinal, ela está ao nível do mar, ou abaixo, em suas muitas depressões, um mar cada vez mais incerto e pouco sabido.
Até lá, é levantar a cabeça e agradecer por sobreviver a mais um dilúvio dos muitos que se seguirão, tornando-se acontecimento certo e crescente na agenda do belenense.
Todos tem culpa nesses alagamentos em Belem, a natureza, o prefeito e a população. Mas a menos culpada no caso é a natureza!
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A natureza não tem culpa alguma. Suas modificações podem estar acontecendo como efeito da ação humana, o que é ainda uma hipótese (a elevação constante do nível do mar, de cuja cota Belém está, em média, a quatro metros. Devia ter crescido com drenagens, retificações e manejo da água. Ao invés disso, se assenta em aterros constantes, irracionais, absurdos. Era para ser uma Veneza tropical, como Recife, mas virou esta Belém impermeável aos elementos da natureza (agredindo a água, danificando o solo, bloqueando os ventos, atraindo a brasa do calor.
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Leio os comentários por pura diversão, garimpando pérolas como: “Todos tem culpa nesses alagamentos em Belem, a natureza….”
A culpa da natureza é ter criado o ser humano….rsrsrsrs……
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Você leu muito ao “voo de pássaro” o texto e não colheu meu comentário, que reproduzo: “Os aterros sempre foram a principal ferramenta dos políticos. Mesmo num programa de envergadura, como a macrodrenagem das baixadas, a diretriz foi transformar as drenagens em vias de tráfego e se esqueceu da microdrenagem, além de abandonar os equipamentos, a limpeza e a manutenção. Nosso general inverno, cada vez maior, age contra nós por nosso desatino”.
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Se as eleições ocorressem no nosso inverno, nenhum prefeito seria reeleito (os presentes e os passados). A memória do povo é curta, não?
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Os aterros sempre foram a principal ferramenta dos políticos. Mesmo num programa de envergadura, como a macrodrenagem das baixadas, a diretriz foi transformar as drenagens em vias de tráfego e se esqueceu da microdrenagem, além de abandonar os equipamentos, a limpeza e a manutenção. Nosso general inverno, cada vez maior, age contra nós por nosso desatino.
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AS goteiras que se abriram no telhado da minha casa, também me levaram a ser uma das vitimas do diluvio. Quando acabei de limpar a escada e a sala de trabalho, encontrei a cama toda molhada… Fui dormir exausta e apavorada que chuvesse de novo.
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Que tal um pout-pourri (à maneira de Helena de Lima e Elis Regina) das pequenas (e grandes) tragédias do cidadão comum ontem? Se não servir para nada, quem conta seus males esponta (com licença da língua).
Minha solidariedade, querida Dulce.
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SÓ FALTOU EXPLICAR QUE E UM “S” DOS ESSES do ZENADA FUNCIONADO, VOTE 45 O GOVERNO DA PARCERIA COM O GOVERNADOR JATEVE .
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A finanças do Estado vão bem, mas o povo….
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Lúcio, a Henrique Gurjão, onde meu pai mora, foi para o fundo. Aliás, fica no fundo sempre que cai uma chuvinha. Ontem submergiu de vez. É assim desde sempre. Quando cai uma chuva mais forte, ninguém entra, ninguém sai. Moradores sempre ligam para a SESAN, pedindo limpeza dos bueiros. Aí vem a chuva e deposita um lixo novo de volta, entupindo o bueiro de novo. A SESAN vem e limpa, aí vem a garrafinha pet e sua patota se intrometer de novo. Nos meus tempos de Ó de Almeida (déc 70 e 80), esta sempre enchia também, inclusive o nosso porão luzitano. Uma vez chamamos a prefeitura porque o bueiro em frente estava entupido. Até hoje me pergunto como um colchão de solteiro, de mola, foi parar lá dentro. E olha que a galaria ali embaixo é até generosa, dos tempos que tínhamos prefeitos de verdade e menos falta de educação. Mas segue…
Os alagamentos afogam o belemense com incompetência em saneamento, falta de planejamento, muita falta de educação ambiental e o lixo decorrente, muito lixo. A citadino tem parte importante nesse drama.
Sorte a minha de não ser mais ‘redutense’, mas um ‘marambaiano’ de um vasto chão que não enche nunca, porque alto. Mas mal-educado por aqui também grassa.
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Ao acessar a Defesa Civil e demais aparatos institucionais de pronto emprego para socorrer os atingidos, as ações gravitam na esfera pós evento.
Interessante que salas de situação mesmo que monitorem diuturnamente o efeito maritimidade e os fenômenos climáticos, ao menos no Brasil, não antecipam o nível de precipitação em milímetros para antecipar os cuidados ou na maior das hipóteses evacuar a população.
Ainda bem que não ocorreu o colapso da transmissão elétrica, neste caso o cenário de caos seria apocalíptico.
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Houve um ensaio, Thirson. Faltou energia – ainda bem que rapidamente. Mas a ameaça existe. Haverá arrastões em todos os pontos de alagamento, que são dezenas por toda cidade.
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