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Imprensa

Jornalismo – ponto

A última vez que inscrevi um texto meu em qualquer concurso de jornalismo foi em 1984. Fiquei com o prêmio Esso desse ano, destinado à região norte, com uma extensa reportagem sobre o projeto Jari, publicada em O Liberal.

O texto se tornou o embrião de um livro sobre o empreendimento do milionário americano Daniel Ludwig, publicado nesse mesmo ano, com base em pesquisa que realizei na Universidade da Flórida, em Gainesville, com bolsa de uma fundação americana. Tudo que ganhei a partir daí foi por iniciativa exclusiva dos responsáveis pelas premiações

Por isso, me surpreende estar na liderança dos +Premiados Jornalistas da História na Região Norte, conforme a apuração da revista eletrônica especializada Jornalistas & Cia. Supunha que profissionais em plena atividade e competitivos estivessem no topo do ranking. Não um antigo repórter, há quase três décadas à margem (e contra) a grande imprensa.

No entanto, sem que eu faça qualquer coisa, títulos me tem sido concedidos em função de uma publicação tão pequena e tão pouco convencional como o Jornal Pessoal. Embora impresso em papel, de circulação restrita, com formato pouco atraente e desenho convencional, ele ecoa muito além do seu alcance físico e até da sua pretensão, por mais exagerada que ela fosse.

Minha liderança na relação dos mais premiados se consolidou e se expandiu porque fui o vencedor do principal prêmio criado pela Federação das Indústrias do Pará no ano passado. Não me inscrevi nem imaginei que estava sequer cogitado. Ganhei, apesar de mim mesmo. E fui receber o título por imaginar quanta discussão meu nome deve ter gerado e, ainda assim, foi sustentado e tornado vencedor pelos que me indicaram.

Nada mudou desde então. Continuo a abordar da mesma maneira todas as questões que pauto para este blog e o JP. Nem a Fiepa me mudou nem os eternos críticos, tanto mais ferozes quanto mais ocultos pelo anonimato. Este espaço e o JP estão sempre abertos à crítica, que recebo com uma combinação de humildade, desejo de melhorar, bonomia e civilidade.

Tudo isso condicionado a um princípio vital: o respeito aos fatos. Só a partir deles admite-se a interpretação, a opinião, a divergência. Pautados pelos fatos, todos aprendemos e a sociedade sai lucrando. Ainda mais quando se trata de uma sociedade sob jugo colonial, por isso privada de informações essenciais.

Eu não conseguiria transformar um minúsculo jornal numa fonte de informações importantes sobre a Amazônia se não tivesse passado 18 anos seguidos em O Estado de S. Paulo. O jornal se tornou a principal referência sobre a Amazônia em plena ditadura graças à qualidade dos repórteres que o supriam de dados vitais sobre a região, quando ela não integrava o índex da censura. Não só por causa dos insistentes críticos, mas porque uma parte do próprio governo militar não dispunha dessas informações – e queria tê-las.

Durante esse longo período cruzei a região atrás do que estava acontecendo. Fiz amigos e fontes em todas as suas capitais e em muitos lugares do interior. O jornal paulista sempre se dispôs a financiar minhas onerosas excursões por ter a garantia de que eu retornaria com boas reportagens.

Este foi o melhor capital que formei – e do qual lanço mão até hoje. Por circunstâncias específicas, um grande e conservador jornal me permitiu criar as bases de uma publicação alternativa. Assim é a história, capaz de escapar a esquemas explicativos rígidos e dogmáticos e oferecer surpresas, imprevistos. Como o de eu ser, apesar de tão combatido e perseguido, o jornalista mais premiado da Amazônia, mesmo sem ir atrás do título.

Isto é a história.

Discussão

8 comentários sobre “Jornalismo – ponto

  1. Parabéns Lúcio, você merece.

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    Publicado por Paloma Franca Amorim | 12 de janeiro de 2017, 11:16
  2. Soma-se ao seu repertório, Lúcio, a característica do profissional de vanguarda, pertencente a geração da máquina datilográfica, tecnologia que exige múltiplas capacidades, além da concentração, como uma cognição forjada pela disciplina diária.

    O DNA jornalístico como o seu, ao aliar a impressão vívida dos acontecimentos do País de meados do século XX ao assombro dos eventos cotidianos em franca entropia junto com os costumes humanos, imprime nas entrelinhas dos parágrafos das notas que redige essa essência, que o jornalismo contemporâneo adormeceu.

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    Publicado por Thirson Rodrigues de Medina | 12 de janeiro de 2017, 16:01
  3. O atual momento pede outro texto do mesmo quilate. E desde já, parabéns!

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    Publicado por Luiz Mário | 13 de janeiro de 2017, 11:22
  4. Que bonito! Parabéns!

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    Publicado por Marilene Pantoja | 15 de janeiro de 2017, 20:43

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