“O jornal que incomoda as grandes corporações amazônicas pode parar de circular”, é o texto de Debora Lopes que acaba de aparecer na revista eletrônica Vice. Ele sai exatamente no dia em que termina a captação de recursos da segunda campanha em favor do Jornal Pessoal, liderada pelo jornalista Lucas Figueiredo. A primeira, já encerrada, foi da escritora Paloma Franca Amorim.
Segue-se o texto, que pode ser visto no endereço http://www.vice.com/pt_br/article/lucio-flavio-pinto-jornal-pessoal.
“Fiquei pobre, fui perseguido, respondi a 34 processos na Justiça, me agrediram fisicamente, fui ameaçado de morte, mas continuo a fazer o meu jornalzinho”, diz Lúcio Flávio Pinto, responsável pela publicação amazônica Jornal Pessoal.
Se existe alguém que ainda hoje se contrapõe à bundamolice do jornalismo brasileiro, seu nome é Lúcio Flávio Pinto. Paraense de sessenta e sete anos, sociólogo de formação, jornalista de profissão, alvo de 34 processos judiciais, ganhador de quatro prêmios Esso e dois Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), ele toca sozinho o Jornal Pessoal (JP), publicação que desde 1987 tira o sono das grandes corporações amazônicas.
Avesso à possibilidade de acatar anúncios publicitários para seu sustento, o jornal pode estar com os dias contados. Mas há esperanças de uma última lufada de sorte: termina nesta segunda (30) o financiamento coletivo proposto por um amigo de Lúcio Flávio com o objetivo de manter o JP por mais dois anos na ativa.
Filho de jornalista, ele se dedica às letras desde os tempos de escola. Aos 16 anos, passou em frente à sede do jornal A Província do Pará, em Belém, e resolveu entrar. Ao avistar o jovem, o diretor de redação Cláudio Sá Leal ficou curioso e puxou assunto. Pediu, então, ao garoto que escrevesse um artigo sobre o aniversário de 21 anos da Segunda Guerra Mundial.
No dia seguinte, o texto (sem nenhuma modificação) estampava a primeira página. “Fui admitido como repórter”, relembra. “Nunca mais deixei de ser um.”
Depois de 18 anos de carreira no jornal O Estado de S. Paulo, Lúcio Flávio deixou a grande imprensa e passou a se dedicar ao JP, seu jornal de um homem só. A primeira edição trazia como manchete “O Caso Fonteles: um crime bem planejado”, que abordava o polêmico assassinato do ex-deputado paraense.
Lúcio Flávio resiste e carrega nas costas 34 processos judiciais, estando quatro ainda em curso. Seu currículo e sua atuação incomodam muita gente. Em 2005, foi agredido dentro de um restaurante por Ronaldo Maiorana, diretor do jornal O Liberal, de Belém. O sobrenome do agressor é conhecido no Pará: a família Maiorana detém os direitos de transmissão da Rede Globo na região.
“O Jornal Pessoal está próximo de completar 30 anos. Acho que é um atestado da determinação de uma pessoa de levar a sua vontade ao extremo das possibilidades até bater à porta do impossível”, detalha, por e-mail, o jornalista. “Fiquei pobre, fui perseguido, respondi a 34 processos na Justiça, me agrediram fisicamente, fui ameaçado de morte, mas continuo a fazer o meu jornalzinho.”
As páginas do JP trazem pautas voltadas para o impacto causado pelas grandes empresas privadas e seus projetos na Amazônia; além de retratar o jogo político local e os escândalos financeiros.
Viver numa região de fronteira como a Amazônia “justifica uma vida intensa”, diz o jornalista. Quando transformou o JP em realidade, Lúcio tinha seus objetivos cristalinos como água. “O jornal teria o menor custo possível, daí ser feito por uma única pessoa, não usar cor nem fotografia, dispensar os recursos gráficos mais sofisticados; nem publicidade, para ter independência absoluta, dependendo apenas de quem se dispusesse a adquiri-lo em banca.” Por isso, nunca nenhum anúncio estampou as páginas do Jornal Pessoal.
“Salve o JP, voz e fiscal da Amazônia” traz o título da campanha de financiamento coletivo que pretende arrecadar R$160 mil para subsidiar a publicação durante dois anos. Até a conclusão desta reportagem, foram arrecadados apenas R$30 mil. O prazo se encerra hoje.
“Nunca me convenci de que a campanha chegaria à meta. Foi excesso de otimismo e generosidade do Lucas Figueiredo”, explica Lúcio Flávio ao mencionar o amigo que tomou a iniciativa de fazer o crowdfunding.
Ainda que a meta não seja atingida, o valor arrecadado irá ajudar Lúcio Flávio a continuar publicando até setembro, quando o JP celebra 30 anos. “Se eu sobreviver até lá”, pondera o jornalista.
Por que “se eu sobreviver até lá”?
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Porque está difícil aguentar tanto trabalho para manter os blogs, o jornal, os frilas e outras coisas mais.
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Na ausência de tempo, sugiro focalizar no que é prioritário e que da maior retorno para você. Melhor ter um portfólio menor. Lembre-se também que o potencial do JP ainda não foi totalmente atingido pela falta de um mecanismo de difusão para pessoas que vivem fora de Belem.
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E o maior incômodo é não se curvar às dificuldades imposta pelos poderosos. Portanto, vamos pensar um projeto para manter o impresso concomitante ao virtual.
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Vamos.
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Sobrevive sim, a forja aonde você foi construído é ciclópica.
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Deus lhe ouça, Thirson. E, se puder, confirme. Obrigado.
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Lúcio, pode contar com minha ajuda, sempre.
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Que bom, Marilene. Obrigado. Vale muito esse apoio.
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Que tal criar o liceu JP?
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Como seria, Luiz Mário?
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Quem se interessar pelo oficio de bem informar o público se disponibiria em custear sua prória aprendizagem.
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Infeçlizmente, isso ainda é utopia. Ao menos entre nós.
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Ainda que pareça algo distante, meu caro, é necessário acreditar que esse talvez seja o único caminho para a construção de porto seguro ante o mar tormentoso em que as jangadas largaram as amarras.
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Por favor, não desista !
Vamos fazer de tudo para que o jornal pessoal continue sua linda e brilhante tarefa: a de informar sem desinformar.
Conte conosco.
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Muito obrigado, Karlos.
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