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Política

A história na chapa quente (54)

Caminhos do futuro

(Arigo publicado no Jornal Pessoal 260, de maio de 2001)

Depois de Roberto Arruda e Antônio Carlos Magalhães, Jader Barbalho é a bola da vez no Senado? Só a formulação da pergunta já acarreta desgaste ao chefe do poder legislativo nacional. A intensidade do questionamento agravará sua situação, dependendo do comportamento da opinião pública, da imprensa e dos seus pares, parceiros e adversários ao longo das próximas semanas. E, naturalmente, do próprio Jader Barbalho.

A primeira dúvida está em saber se sua passagem pela presidência do Senado será meteórica e desastrosa, ou se ele conseguirá concluir seu mandato. As fontes mais próximas do senador garantem que ele não renunciará jamais.

Em nenhuma outra instância do poder esse tipo de garantia está atualmente mais desgastado do que no Senado. Mas é um dado a considerar. Jader está disposto a continuar enfrentando a frente contrária.

Essa avalanche poderia crescer utilizando um atalho que foi fatal para Luiz Estevão, Arruda e ACM: o decoro parlamentar. Apesar de todas as denúncias feitas contra Jader até agora, nenhuma permite tecnicamente a caracterização de quebra do decoro parlamentar, que o faria trilhar para o cadafalso através da comissão de ética. Só um ato de vontade, que depende da correlação política, pode fazê-lo entrar forçadamente nesse corredor fatal.

À falta dessa circunstância, um tanto imprevisível a partir de agora (muitos dos elementos estão escondidos em escaninhos privilegiados), Jader terá que continuar a ser processado judicialmente, em procedimentos já instaurados e que avançam a passo de cágado, ou em novas iniciativas, como a que o Ministério Público do Pará finalmente adotou.

Tais ações chegarão ao fim antes do término do mandato do presidente do Senado, um significativo instrumento de poder que Barbalho tem em suas mãos para cuidar da própria cabeça?

Ele tentará preservar a qualquer custo essa prerrogativa, que o torna interlocutor necessário nos atos do poder brasileiro. Mas parece fora de dúvida que, ao final do biênio como presidente, Jader terá pouco mais do que o próprio mandato.

Na gangorra

Pesa sobre qualquer outra aspiração sua um estigma que se tornou pesado demais para que possa se beneficiar da desmemória nacional. Jader deverá voltar à condição anterior ao tiroteio com ACM: um político estadual.

Em 2002 Jader Barbalho ainda terá uma opção relativamente tranquila: poder escolher entre voltar a tentar ser governador do Pará (pela terceira vez) ou senador da república (pela segunda vez). Em qualquer das alternativas, ainda é, a despeito do seu enorme desgaste nacional, o candidato favorito.

É o resultado das pesquisas que vêm sendo feitas informalmente, inclusive pelo governo do Estado, que vê com preocupação os índices inferiores dos nomes com os quais conta dentro da coligação situacionista (o PT ainda é o segundo).

Todos, indistintamente, admitem que é muito cedo para qualquer prognóstico sobre como se dará a corrida eleitoral e o seu desfecho, dentro de menos de um ano e meio. Há, em primeiro lugar, os condicionamentos da política nacional, imponderáveis por vários fatores, alguns políticos mesmo, como os desempenhos de inimigos do Palácio do Planalto (Itamar Franco, ACM, Ciro Gomes e Lula), e outros mais palpáveis e materiais, como a crise da energia e seus desdobramentos econômicos.

Desafio da sobrevivência

Independentemente desses fatores, porém, as pedras no tabuleiro da política paraense se mexerão conforme o destino de Jader Barbalho. Desde que não seja cassado ou não surjam escândalos mais cabulosos do que os já revelados, ele dificilmente deixará de renovar o seu mandato senatorial. Basta não perder a estrutura que montou no interior do Estado no ano passado, com as vitórias municipais alcançadas pelo PMDB, que superou todos os concorrentes.

Como é que Jader conseguiu essa façanha? Além da sua indesmentível habilidade para fazer política (e sobreviver), ele se beneficiou do alheamento do governador Almir Gabriel, que se ausentou do interior para se concentrar na capital (talvez preparando a volta à prefeitura de Belém, em 2004).

Mas também se valeu de longos braços da administração federal, graças à possibilidade de acesso ao gabinete do presidente Fernando Henrique Cardoso e, daí, aos ministérios e suas dependências, como a desbragada Sudam.

Na condição de presidente do Senado, é provável que, a despeito das aparências em contrário, Jader continue se beneficiando das gentilezas presidenciais. Se isso ocorrer, será o bastante para assegurar a reeleição.

Por que, então, ele iria se expor e se arriscar como candidato a governador, fechando a porta a uma aliança explícita com o tucanato e satélites? Os que apostam em Jader senador em 2002 dão pronta resposta a essa pergunta, por vários motivos, inclusive o de uma aliança ampla.

Fica faltando um elemento: se os superpoderes de Barbalho acabam com o fim da chefia do poder legislativo, o que ele poderá oferecer depois aos políticos paraenses e seus cabos eleitorais? Qual a garantia de perenidade nesse acordo, nessa – com perdão da palavra – parceria? Jader poderá ser senador fácil se costurar um acordo com Almir. Mas, talvez, nada mais depois. E o jaderismo dificilmente subsistirá a esse arranjo.

Se acontecer, como ele acontecerá? Por se tratar ainda de um mero exercício de imaginação, tudo é plausível. Menos o candidato a governador por tal coalizão ser o secretário especial Simão Jatene. Jatene significa o prolongamento do almirismo, para cuja empada Jader não pretende adicionar sua azeitona.

Como ele não tem um candidato de expressão eleitoral vitoriosa no PMDB, a opção seria o vice de Almir, Hildegardo Nunes, cada vez mais um indesejado no ninho tucano.

Mesmo que os almiristas pró-Jatene falem nos bastidores horrores de Hildegardo, de público o que o governador poderá dizer contra seu vice, que não lhe deu qualquer dos enormes e cabeludos problemas do antecessor, Hélio Gueiros Júnior? Que o vice tem perfil cada vez mais favorável do que o de Jatene e o do outro candidato a candidato, Nilson Pinto? Almir Gabriel estará disposto a renunciar aos seus projetos de poder? Sairá para a disputa senatorial, nela encerrando sua carreira política?

As pedras do xadrez

Talvez os personagens queiram se poupar de tais perguntas. O problema é que, ao rejeitá-las, formulam automaticamente outras indagações. Por exemplo: vedado o caminho de acesso de Hildegardo à candidatura da coligação oficial, estará aberta a via de aproximação com o PMDB?

Fontes próximas ao vice não respondem, mas argumentam que se isso ocorrer Jader estará quitando a dívida com o pai do provável candidato, o coronel Alacid Nunes, que contribuiu decisivamente para o primeiro mandato de governador de Barbalho (e, depois, foi descartado).

Mas qual será a credencial de Hildegardo para essa aliança temerária? Ele não tem uma posição de mando no seu partido, o PTB, controlado pelos Kayath. Pai e filho podem desfazer um compromisso e assumir outro, deixando o vice na mão caso decida enfrentar a má-vontade do governador.

Qual o outro partido disponível? O mais credenciado é o PFL. Um só PFL? O PFL de Hélio Gueiros? O de Vic Pires Franco? Não se sabe. Apesar de tantos desmentidos, porém, o que se sabe é de muita conversação. Envolvendo, inclusive, o senador do governador, Luiz Otávio Campos, ainda sem partido. Mas dialogando com todos, até com o do seu arquiinimigo (ex?) Jader Barbalho.

Por isso, apesar da repulsa nacional ao presidente do Senado, ele ainda é o vértice de todas as linhas projetadas sobre as especulações que levam ao poder no Pará. Tanto pelo que faz como pelo que não faz. Pelo que decidir e não decidir. O que serve de parâmetro para medir em que nível se encontra a política paraense.

Discussão

3 comentários sobre “A história na chapa quente (54)

  1. Todo político profissional, por força da condição, necessita de alguém, tipo um técnico com especialização, que dê um “geito” no produto de sua riqueza e poder. Quem seria, se houver?

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    Publicado por Luiz Mário | 31 de janeiro de 2017, 14:41
  2. Obviamente que o poder de Jader vem do acúmulo de muito dinheiro. Todavia, é necessário que talvez houvesse algum técnico, como um contador ou um economista, que possua toda informação sobre sua origem e seu destino. Simples assim.

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    Publicado por Luiz Mário | 1 de fevereiro de 2017, 10:14

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