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Política

Uma trama silente

Um dos erros – não o mais grave, porém um dos mais danosos -cometidos por Dilma Rousseff foi ignorar e às vezes desprezar o apoio político. Se tivesse dado mais atenção aos partidos aliados, provavelmente eles teriam trocado o impeachment por um acordo. A presidente podia até impor termos mais elevados do que o mero toma-lá-dá-cá de sempre.

O autoritarismo e a arrogância de Dilma foram fermento para fazer crescer a má vontade dos parlamentares na hora de apreciar o crime de responsabilidade de que foi acusada para ser afastada do cargo. A maioria já não acreditava que ela fosse capaz de sair da crise econômica que precipitou para se reeleger, mas talvez fosse possível deixá-la como fiadora de um novo acordo nacional, do qual deixaria de ser a autora para se tornar a executora.

Desse mal seu sucessor não padece. Michel Temer tem demonstrado grande capacidade de entendimento com o Congresso e meios para conseguir votações favoráveis. Até algum tempo atrás se podia creditar esse sucesso à longa tradição política do ex-deputado federal paulista. Podia-se também acreditar que, pragmático, realista e provido de alguma boa vontade para com o país, ele tivesse consciência de que só assim, entregando os anéis, conseguiria aprovar medidas de correção dos rumos do Brasil.

Talvez ainda haja esses componentes na mente do presidente, mas agora o seu objetivo principal parece ser a sobrevivência. É claro que ele só poderá executar o programa formulado pelo seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, novamente no comando da economia (o que foi durante os oito anos de Lula), se permanecer no Palácio do Planalto. Movido pela necessidade imediata e urgente, porém, ele pode estar montando um esquema muito mais amplo do que a garantia da sua posição pessoal.

Ele parece ter conectado pessoas posicionadas em lugares estratégicos – no legislativo, no judiciário e no próprio executivo – para criar um muro de proteção compacto para si. Mas também para alguns dos personagens mais citados nas delações premiadas da Operação Lava-Jato. A indicação do ministro da Justiça para a vaga de Teori Zavascki no Supremo Tribunal Federal chega a ser cínica. Títulos e atributos não faltam a Alexandre de Moraes, mas sua condição de homem de confiança do presidente no ministério devia criar para Temer uma inibição ética e moral incontornável.

O leigo deve vaticinar o fracasso da iniciativa. Mas é provável que Temer não se tenha decido por essa aventura temerária sem antes fazer consultas junto ao Senado, ao qual submeterá o nome do candidato ao STF, e à própria corte. Suas polêmicas iniciativas devem ter seguido essa regra: um levantamento prévio de campo para não criar surpresas desagradáveis ou fatais. Se ele chegou a tanto na elevação de muralhas e escavação de um fosso em torno do Palácio do Planalto, é porque teve as aprovações devidas.

Se ele se salva graças a um esquema coletivo, vários outros podem se salvar junto com o presidente da república, livrando-se das teias da Lava-Jato, graças à profundidade e amplitude da engrenagem de apoio que está sendo constituída nos três poderes. Quem sabe, até Lula deu sua aprovação, apesar de todas as aparências em contrário, juntando-se ao PSDB e ao PMDB numa saída por cima (e pelos bastidores) antes que sejam despejados de suas posições de força.

Só há uma maneira de colocar tudo à meridiana luz do dia: chamar o povo às urnas para dizer o que quer. Passar a borracha sobre as garatujas do poder e acreditar que o povo, que sobrevive com seu trabalho, é que tem o direito de exercer sua soberania sobre os rumos a serem seguidos pelo Brasil.

Discussão

15 comentários sobre “Uma trama silente

  1. Do golpe à ditadura da corrupção.

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    Publicado por Luiz Mário | 8 de fevereiro de 2017, 18:04
  2. Não entendo o tanto de medo que PSDB e PMDB tem da operação Lava-PT. Mas como diz os ditos populares, melhor prevenir que remediar.

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    Publicado por Fábio reis | 8 de fevereiro de 2017, 23:15
  3. Segundo o que dizem, a coisa poderia ter sido pior, pois havia pressões do Renan e outros para indicar alguém pior ainda. De qualquer forma o Temer se queimou com a população é com sua biografia. Ele fez o mesmo que o Lula, que indicou o desqualificado e reprovado Tofolli para o STF nivelando por baixo as indicações recentes. Essa coligação PT-PMDB não cansa de nos surpreender pelo lado negativo.

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    Publicado por José Silva | 9 de fevereiro de 2017, 01:11
    • Inclua o PSDB nessa trama. E todos os partidos com culpa no cartório. Agora, sim, é uma trama política para obter a impunidade.

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      Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 9 de fevereiro de 2017, 08:25
      • O José Silva é simpático aos tucanos. Sempre arranja um jeito de diminuir os estragos provocados por eles. Até mesmo quando se fala dos 20 anos de desgoverno tucano no Pará, ele acha que os 4 de Ana Julia foram pior do que 20 de PSDB. Kkkk

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        Publicado por Fábio reis | 9 de fevereiro de 2017, 09:58
      • E sim, Operação Lava-PT e Sérgio Moro são parciais. O dia que em prender Lula acaba. Petistas merecem a cadeia por terem feito o que fizeram, por terem roubado o que roubaram. Mas por que a Lava-Pt não prende também figurões de outros partidos como Renan, Serra, Aécio ou o próprio Temer já tantas vezes citados? Não me venham dizer que o Cunha é figurão porque é piada. Tudo que acontece só confirma as gravações: Cunha era figura fraca e o impeachmeht era para ser um grande acordo e esquema para os ladrões escaparem da justiça. Tudo funcionando como um relógio.

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        Publicado por Fábio reis | 9 de fevereiro de 2017, 10:05
      • Por enquanto foram presos mais empresários do que políticos. Mas estes começaram a ir para a cadeia. Sérgio Cabral é do PMDB. Não me convence – ainda – de que se trata de uma perseguição conduzida contra os petistas. Não basta a citação, é preciso prova. E quando há as prisões, os presos não têm conseguido provar sua inocência. A maioria preferiu logo fazer delação premiada, admitindo a culpa e se comprometendo a algo raro em matéria de criminoso de colarinho branco: devolver – ao menos parte – do que roubou.

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        Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 9 de fevereiro de 2017, 12:01
      • Fábio,

        Eu sou tão PSDB como você é DEM. Quando você se filiar lá eu me filio no PSDB, kkkkkk.

        E por falar nisso, o Lula vai ficar mais uma vez devendo ao FHC. Além do FHC ter deixado o país com inflação baixa para que o Lula pudesse fazer os populismos e marolinhas dele, o FHC ainda foi a justiça ser testemunha de defesa do Lula. Como esse mundo da muitas voltas, kkkkkkk. O demônio agora virou o anjo salvador..Quem diria!

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        Publicado por José Silva | 9 de fevereiro de 2017, 21:57
      • José,

        Por mim Lula tem que pagar por sua corrupção assim como FHC deve pagar pela dele. Portanto, não sei porque você citou esse caso. Pouco me importa que um esteja defendendo o outro. PT merece tudo o que está passando. Não sou contra a derrocada dele. Sou contra sim a parcialidade da justiça e da da Lava-Jato que é evidente. Acho que nem eu e nem você queremos que tudo termine com um bode expiatório da corrupção e que corruptos se livrem. Ou será que quer? Até agora, o esquema proposto nas gravações de Machado funciona como um relgio. Temer, já citado inúmeras vezes é presidente , Serra citado também é ministro, Aécio… Impeachment como um grande acordo nacional para livrar os corruptos da punição. E os paneleiros? O MBL? Para eles tudo bem. O corrupto é só o PT. Tirou eles tá tudo bem. A corrupção acabou. Viva São Moro!

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        Publicado por Fábio reis | 10 de fevereiro de 2017, 16:42
      • Fábio,

        Eu citei o caso do FHC defendendo o Lula apenas para demonstrar como são as coisas da vida. Com o Moro apertando todo mundo, as forças políticas se unem para manter o status quo. Sem o Moro, nos não veríamos esse tipo de situação hoje em dia. Temos que acompanhar o voo dos bois..

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        Publicado por José Silva | 10 de fevereiro de 2017, 22:34
  4. É Fábio Reis, os fatos comprovam que roubaram o tapete mas há quem ainda não se acanhe em tentar sê-lo. Há quem tente usar até o papa para tal papel.

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    Publicado por Luiz Mário | 9 de fevereiro de 2017, 10:38
  5. Brasília é um mundo à parte, desconectado do Brasil. Os acordos para obter votações, chantagens, escândalos, nomeações para se prevenir. Um mundo sujo à parte. Pornográfico, diria. O modo de fazer política no Brasil está falido.

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    Publicado por Edyr Augusto | 9 de fevereiro de 2017, 12:59
    • Edyr,

      No Brasil e no mundo…quando se esperava uma melhoria da governança global, presenciamos essa crise política generalizada que já coloca em risco todos os progressos feitos até então.

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      Publicado por José Silva | 9 de fevereiro de 2017, 21:59
  6. Meu caro Edyr, não dá para concordar com a ideia desse tal “mundo à parte”. Fazer isso seria delirar com o Olimpo grego. Seria como se a Casa-Grande existisse sem a senzala….

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    Publicado por Luiz Mário | 9 de fevereiro de 2017, 17:54
  7. O erro é dessas figuras, não nosso

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    Publicado por Edyr Augusto | 10 de fevereiro de 2017, 13:10

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