Sempre fui um apaixonado por debates parlamentares. Testemunhei alguns enquanto meu pai foi deputado estadual (pelo PTB de Getúlio Vargas, que presidia em Santarém), entre 1955 e 1958.
Infelizmente, papai me levou poucas vezes ao prédio da Assembleia Legislativa, derrubado para ser substituído pelo monstrengo atual, aperfeiçoado por um puxadinho do arquiteto-mor da cidade, Paulo Chaves Fernandes.
Ainda era menino quando Jessé Feitosa me apanhava em casa e me levava para as galerias do parlamento e as sessões do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, ao lado, no casarão do barão de Guajará, a mais bela das antigas edificações particulares de Belém.
Como repórter, assisti a inúmeras sessões na AL (rebatizada para Alepa). Não eram as exibições oratórias que eu prezava, mas superavam em muito os anódinos e irrelevantes discursos de hoje.
Só uma vez estive no palácio Tiradentes em funcionamento, no Rio de Janeiro. Mas foi o bastante para nunca deixar de dar uma passada por ele, agora na função de museu (com todos os sentidos que essa função lhe impõe). Passada demorada, conforme julgo necessário. Graças a uma gravação em CD, pude ter acesso aos pronunciamentos de alguns dos mais notáveis oradores brasileiros.
Apesar das minhas imensas restrições a esse orador em particular, não posso deixar de colocar Carlos Frederico Werneck de Lacerda como o maior tribuno de que já tive conhecimento. Reduzido às transcrições por escrito, ele perde um tanto da sua força. Ainda assim, sobra o bastante para lhe garantir essa posição.
Era indigesto enfrentá-lo. Mas ele não reinou sozinho. A banda de música da UDN tinha excelentes personagens.O PSD, o maior de todos os partidos políticos de antes de 1964, também. Quando eles subiam à tribuna, plenário e galerias emudeciam, por prazer e aprendizado. Foi assim que a minha geração aprendeu a cultivar e valorizar a democracia, que permitia grandes entreveros entre tribunos que sabiam falar e pensar.
Esse patrimônio foi ofendido pela atitude ontem das deputadas da oposição. Durante sete horas o gesto de intolerância e penúria intelectual que adotaram trancou a mesa da câmara alta à sua sessão regular. Sem impedir, ao final dessa ginkana de pura teimosia e obscurantismo, fácil vitória no voto de um governo considerado em final de festa sobre matéria tão controversa quanto a reforma da legislação trabalhista (necessitada realmente de reforma, na presunção de ser uma mudança para melhor).
Queriam promover uma insubmissão cidadã, uma resistência à maneira de Thoureau, então fizessem uma reedição adaptada do sermao das três horas da agonia, na sexta-feira santa. A que fez o então padre Carlos Coimbra foi antológica. Fizessem longos e ininterruptos discurso à margem do oficialismo.
Ao invés disso, querendo combater um alegado fascismo, praticaram um ato fascista, como fazem aqueles que, sem argumento, recorrem à força para impor seus objetivos e interesses. O espetáculo de ontem das senadores foi triste, melancólico, patético. Uma ofensa à instituição e à inteligência, delas e de todos.
Que esta página da história destes dias de intolerância seja logo virada.
Ei, psiu! Cadê o pessoal do DCE? Não vai vir aqui bater no Lúcio?
Tá ficando estranho o blog…
CurtirCurtir
ESTRANHO NÃO…PATÉTICO…
CurtirCurtir
Lúcio,
Esperar o que deste senado? Todo mundo sabe que esse grupo de senadores está entre os mais fracos de toda a história republicana. Para cada um bom, há pelo menos uns 10 que não passariam em qualquer exame básico de moral e cívica.
CurtirCurtir
Ruiu o um dos “Clube do Bolinha”? A História dirá.
CurtirCurtir