A versão induzida pelo Palácio do Planalto tenta convencer a sociedade que Michel Temer detonou uma conspiração para derrubá-lo quando assumiu a sua candidatura à reeleição de olhos no futuro, querendo completar a recuperação da economia nacional, aprofundando e ampliando o que realizou em menos de dois anos, depois do furacão Dilma.
Objetivamente, porém, a situação do presidente só faz se agravar à medida que a polícia vai eliminando as barreiras armadas em torno dele pelos seus amigos e assessores mais próximos, no papel de pontes e articulações até pouco antes. Como no título de um romance (depois filme) de alguns anos atrás, o passado o condena. Só que o completo não é klute: é kaput.
O melhor que se pode dizer em favor de Temer é que ele recebeu dinheiro ilícito para financiar suas campanhas a deputado federal e vice-presidente, e as de correligionários e companheiros de partido ou de viagem. O que complica essa interpretação mais benevolente é que o dinheiro era muito e boa parte dele ficou retido pelo caminho entre o doador através de caixa 2 e o político que tentava se eleger.
Em que país um presidente continuaria a exercer o cargo, equilibrando-se sobre alguns bons resultados econômicos, porém magros, enquanto a política pega fogo e a sujeira sobre dos porões para a sala principal da chefia da nação. Ao invés de ser eliminada, essa esquizofrenia é incrementada. O efeito dessa dilaceração será um custo muito maior até a eclosão final da crise, sua derradeira explosão.
O bom senso e a mais simples noção de moral pública recomendam a Temer que se licencie do cargo, se lhe é impossível simplesmente fazer o que deveria, que é renunciar. Livre para ser o advogado que é e o especialista em direito constitucional (mais uma ironia das elites brasileiras), autor de um livro clássico sobre a matéria.
Assim, ele poderia transformar em materialidade a inocência que reivindica de todos que a presumam. Ou se afundar de vez se não desmentir e desfazer cada item da ampla denúncia que lhe está sendo feita.
O enredo desse drama, às vésperas de se converter em tragédia, me remete a um dos políticos pelos quais mais me interessei: Richard Milhous Nixon. Derrotado ou semi (quase) vencedor nas eleições de que participara. Atormentava-o a marca profunda da derrota por margem mínima para John Kennedy (o desajeitado contra o cavalheiro, o feio contra o lindo, o primário contra o i9ntelectual, o homem comum contra o membro de família nobre, o homem de golpes sujos contra o herói nacional), Nixon finalmente conseguiu chegar à Casa Branca, na contramão da maré revolucionária da metade dos anos 1960, culminando no libertário 1968.
Em 1972, ele impôs aos democratas a maior das derrotas, se reelegendo. Teria vencido muito bem sem precisar recorrer a máfias para espionar os adversários e reeditar os golpes baixos do passado. O “escândalo de Watergate”, que o levou à derrocada, continua a ser um dos mais pungentes dramas políticos de todos os tempos, a desafiar o catecismo dos militantes dogmáticos e a compreensão das mentes primitivas, que só conseguem ver o mundo a partir de um pêndulo viciado.
Um juiz sério, um promotor altivo, uma imprensa competente e os amigos de Nixon foram obrigando-o a recuar front atrás de front até a renúncia, sem a qual teria sido o primeiro presidente dos Estados Unidos a sofrer um processo de impeachment (sem golpe parlamentar, viu?).
Penetrei pelas biografias de “todos os homens do presidente” (título do famoso livro de Woodward e Bernstein, do Washington Post, os heróis da mídia) até chegar a um quadro completo do time. Havioa gente competente, como Erlichman, Dean e Colson, por exemplo, até brutamontes como Handelman e gente da sarjeta, como os arrombadores e os recolhedores de fundos de caixa 2 e propina. Nixon podia repetir com o povo: meu Deus, cuida dos meus amigos que dos meus inimigos cuido eu.
Michel Temer pode se dar ao luxo de usar essa frase?
Lúcio, já assististe à série “O Mecanismo” do Padilha? Vais gostar, e seria excelente para os debates que suscitas por aqui.
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Ainda não. Não tenho Netflix. Mas verei, assim que puder. Já ia escrever um artigo em tese, mas está faltando tempo.
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Tu perdeste credibilidade. É golpista. Agora fiquem com o Temer até o fim.
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E foste tu que ajudaste a colocar ele lá.
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Torquemada ataca novamente. Com verrina, fel, anátemas e certo odor de enxofre.
Descobnri, enfim, o que você é: um temerista.
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Temer é o vice da Dilma?
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Quem discordo do Bolsonaro vira “comunista” ou “petista’. Quem discorda do Lula e do PT vira “golpista”. Gostaram? É muita inteligência desses dois lados.
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Temer não tem vergonha. Não renunciará. Ele precisa imediatamente encontrar uma solução para depois do mandato, pois corre risco de ser preso assim que descer a rampa.
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Temer é candidato a réu apenas . Não pode renunciar pois aí irá preso.
O resto é falsa candidatura para tentar vender cacife da máquina , apoio político para ser anistiado no futuro.
Se um coronel Lima destes resolver abrir o bico, à Palocci, já era.
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Pode, porém, se licenciar, para se dedicar à sua defesa como advogado em causa própria, a par do Mariz.
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Ditadura da Corrupção, pois!
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Sugestão:
https://jornalggn.com.br/noticia/temer-cai-carmen-lucia-assume-e-o-judiciario-confirma-seu-papel-no-golpe-por-luis-felipe-miguel
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O que uma aliança feita nos porões do mensalão, legou ao País?
Ainda gritam os órfãos da ciclista poste e seu guru, que essa herança não é responsabilidade deles.
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Republicou isso em Alô Brasil.
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