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Imprensa

O recurso dos que temem

A história é maior que a covardia

(Com muita emoção e profundo reconhecimento, transcrevo o texto a seguir, escrito pela jornalista Socorro Costa. Casada com meu irmão, ainda assim – e ainda mais porque, desde Brizola, cunhado não é parente – ela fez uma análise sobre o debate realizado na UFPA, graças à professora Marly Silva, para assinalar os 30 anos do Jornal Pessoal, e o próprio JP, que melhor eu não poderia desejar. Nem com acesso de vaidade e egolataria, doença que meus inimigos costumam me atribuir, eu não poderia ser mais generoso ou indulgente comigo. Partido de uma jornalista criteriosa e de uma mulher notável por sua bravura, o texto de Socorro é um presente dos céus e um bálsamo sem igual. Muito obrigado, amiga.)

Na era da intolerância, da inversão de valores, dos dogmas sem lastro, é urgente perguntar: Qual o preço da covardia? Qual o ônus para quem se camufla e se esconde, para se mostrar apenas diante da tela de um computador, ou quando se sente seguro pela conivência de seus pares?


Na última sexta-feira, 27 de abril de 2018, a Universidade Federal do Pará, com a coragem e determinação da professora Marly Gonçalves das Silva, da Faculdade de Ciências Sociais, fez história, ao promover um seminário sobre os 30 anos de circulação do Jornal Pessoal, uma publicação solitária do jornalista e sociólogo paraense Lúcio Flávio Pinto, com o apoio na parte gráfica do cartunista Luiz Pinto.


São três décadas de um trabalho jornalístico, histórico e sociológico sobre um tema apaixonante, sob qualquer ponto de vista: a Amazônia – grandiosa, diversa, rica, cheia de mistérios e misticismos, mas ao mesmo tempo explorada, degradada, empobrecida por décadas de decisões tomadas de cima para baixo, por pessoas que, na maioria das vezes, sequer pisaram em um mínimo ponto de seu vasto território.


O Jornal Pessoal busca ser a voz desta Amazônia, mesmo diante de suas inúmeras dificuldades financeiras e logísticas. Muito mais do que um veículo de comunicação – que se tornou essencial para quem, realmente, se importa com a Amazônia, e o Brasil de modo geral -, o JP é uma missão, o símbolo vivo de um jornalismo que está moribundo, mas se recusa a parar de respirar.
Diante da importância do JP para a imprensa e a história – plenamente reconhecida por instituições internacionais – debater os 30 anos do JP com seu criador foi uma oportunidade única de avanço intelectual e pessoal.

Lúcio estava ali, na mesa, como sempre esteve: de peito aberto, sem artifícios, sem demagogias, sem dogmatismos. Estavam ali o homem íntegro e coerente; o profissional competente, preparado para o debate, para o confronto de ideias; o amazônida consciente da necessidade de defender sua terra, sua história, suas referências, com a única arma que sabe manejar com destreza: o compromisso com os fatos.


Infelizmente – não para o Lúcio e as pessoas que compareceram ao seminário -, mas para aqueles que perderam essa oportunidade, a história se fez. E essa história ficará registrada para sempre, assim como a covardia daqueles que, por medo de chegar diante de Lúcio Flávio Pinto e não conseguir sustentar teorias conspiratórias e dogmas anacrônicos com argumentos, optaram por se esconder nas sombras, “ignorar” – no que esse termo tem de mais perverso -, um evento que não foi feito para agredir ninguém, para defender posições partidárias, para fossilizar pontos de vista.
O seminário não foi um palanque ou uma arena. Foi um espaço de troca de conhecimentos, de experiências, do que realmente se espera de uma universidade: questionar, incentivar o saber, avançar.

Lúcio, e todos os professores, pesquisadores e estudiosos que por lá passaram, falaram para poucos. Mas, ao contrário do que pretendiam os autores da crítica vazia, raivosa, desrespeitosa e, por isso mesmo, fadada ao esquecimento, a voz de todos os participantes do seminário ecoa, e vai chegar muito além dos muros da Universidade Federal do Pará. Porque, onde estiver, Lúcio Flávio Pinto sempre terá leitores e ouvintes, pessoas que podem concordar ou discordar de suas abordagens, mas que não se acovardarão diante do debate, do saudável confronto de ideias.

Aqui ressalto a coragem e a decência dos professores, pesquisadores, jornalistas e estudiosos Marly Gonçalves da Silva, Samuel Sá, Sônia Magalhães, Maria do Socorro Furtado Veloso, Rogério Nascimento, Charles Clement, Ruthane Silva, Tito Barata, Úrsula Vidal e André Nunes, que, com suas análises sobre o Jornal Pessoal (e sobre toda a trajetória de seu criador) trouxeram ao evento conhecimentos, opiniões e convicções dentro das normas que regem uma sociedade civilizada. A mesma coragem e decência demonstrada por quem estava na plateia. A todos, a certeza de que a conta da covardia, da pequenez de caráter, da vil ignorância, não baterá em suas portas. (Socorro Costa)

Discussão

19 comentários sobre “O recurso dos que temem

  1. Deveria fazer uma edição especial com suas melhores reportagens. Parabéns. Sem dúvida, seu trabalho desenvolvido ficará com uma grande fonte de conhecimento para a posteridade.

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    Publicado por Eduardo Barbosa | 30 de abril de 2018, 17:23
  2. Já penso o que será do jornalismo independente, da Amazônia brasileira, daqui a 50 anos, sem o JP e Lúcio Flávio Pinto! Sendo católico, temente a Deus, devo crer que nascerá um substituto e certamente com outros recursos tecnológicos para tentar prosseguir a missão até hoje desempenhada com orgulho de todos que idealizam um mundo de consciências limpas, independentes e que propiciarão um mundo melhor! Parabéns, caro Lúcio!

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    Publicado por José de Arimatéia M. da Rocha | 30 de abril de 2018, 17:24
  3. Parabéns novamente. Concordando ou não consigo, que nunca faltem-lhe as costumeiras honradez e coragem.

    “Coragem é resistência ao medo, domínio do medo, e não a ausência dele.”
    Mark Twain

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    Publicado por Que bom que existem jornalistas como Lucio Flavio Pinto. | 30 de abril de 2018, 17:50
  4. A infalibilidade do Papa é o maior de todos os recursos….

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    Publicado por Luiz Mário | 30 de abril de 2018, 18:35
  5. Parabéns a Professora Marly por este projeto bem sucedido.

    E, ao Lúcio, por proporcionar ao amazônida o JP.

    Sem sombra de dúvida, um evento memorável.

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    Publicado por Thirson Rodrigues de Medina | 1 de maio de 2018, 00:16
  6. Lúcio, não é o único, não é a verdade única, mas o é, para mim, a melhor. Estou triste pela minha ausência. Parabéns. Paz&saúde. Namastê

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    Publicado por Valdemiro | 1 de maio de 2018, 04:24
  7. Parabéns a Marly e ao Lúcio pelo evento. Creio que você deveria ter divulgado pelo blog pelo menos um dia antes. Independente disso, a questão que permanece é porque os que te caluniaram não foram lá debater? Não possuíam argumentos?

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    Publicado por Jose Silva | 1 de maio de 2018, 07:44
  8. Que pena que não tive conhecimento em tempo para assistir. Parabenizo a Marly pela ideia…e LFP por existir e continuar insistindo.

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    Publicado por Dulce Rosa Rocque | 1 de maio de 2018, 09:12
  9. gentes!
    muito obrigada!!desse jeito vou ficar mais metida do que já sou .kkkkk
    lembrando que a programação alusiva aos 30.1 anos do JP prossegue com a Exposição a Arte do Cartunista Luiz Pe.ate o dia 30 deste mês no Espaço de Ensino Mirante do Rio.da UFPA.A exposição está linda! E aproveitem para visitar o espaço que tem uma belíssima vista do Rio Guama.Tudo free/grátis.

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    Publicado por marly silva | 2 de maio de 2018, 00:14
  10. Obrigado, Marly. Por ser leitor do Lúcio desde 1974 quando era obrigado a ler seus textos datilografados em pauta para transmiti-los, via telex, para a redação do jornal O Estado de São Paulo, conheço muito bem o trabalho desenvolvido por ele. Estava lá na gráfica do jornal O Liberal, em 1977, quando Rômulo o homenageou pela edição de seu primeiro livro, “Amazônia, o anteato da destruição”. Presenciei várias reuniões realizadas para “fechar” a edição do Bandeira 3. Li a antológica reportagem publicada na revista “Realidade”, de 400 páginas, que lhe proporcionou o primeiro Prêmio Esso de Jornalismo. De quebra, ainda lia a coluna que sairia publicada no dia seguinte nas páginas de O Liberal durante a caminhada que fazia rotineiramente, no final do expediente, da sucursal do Estadão, que funcionava em frente ao Arquivo Público, até a mesa do chefe da redação do matutino paraense. Foi um período de intenso trabalho que culminou com a constatação de que ele deveria se tornar independente se quisesse continuar a acompanhar a Amazônia com a mesma paixão.

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    Publicado por Pedro Pinto | 2 de maio de 2018, 10:03
  11. Que interessante , Pedro! Boa memória , hein?!
    Vai lá ver a Exposição . Os Pinto- que são muitos e de várias gerações – precisam prestigiar o Pinto-cartunista . Ainda não vi a assinatura de nenhum no Livro de Registro …O Luiz vai acabar ficando zangado com vcs.kkk

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    Publicado por Marly Silva | 5 de maio de 2018, 21:06

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