André Nunes não rimava com tristeza, muito menos com morte. Múltiplo, espaçoso, alegre, jovial e receptivo, André não nasceu para morrer. Sua morte física, de hoje, é apenas mais um incidente, acidente ou acontecimento na sua vida. Ele é daquelas criaturas que se instalam em outras pessoas de tal maneira mansa e harmoniosa que delas nunca mais sai. Desaparece da visão dos olhos, duas lunetas físicas acopladas à exterioridade do corpo. Permanece para sempre, na eternidade efêmera dos humanos, em escaninhos íntimos: no coração, no cérebro, na alma, no além – e acima – de nós.
Circulando livremente por ambientes e entre distintas comunidades humanas, André era um Zelig, um camaleão que se adapta ao ambiente não por oportunismo ou por instinto de sobrevivência, mas por prazer, pela busca do gozo da vida, pelo desejo de usufruir, desfrutar e captar o maior patrimônio vivo neste planeta: as pessoas, suas diferenças, seu caleidoscópio, seus mistérios.
Na alta maturidade, André drenou de dentro do mais profundo eu dessa vivência para a ponta dos dedos para a função de escritor. Não precisou de maior esforço para gerar seguidos livros, tanto de ficção quanto ensaios, produzidos a partir da sua rica trajetória. Os originais do primeiro, sobre um riozinho da bacia do Xingu com a marca da sua família, ele me passou receoso, temeroso. Li com surpresa e prazer, lasquei meu curto prefácio de aprovação para que logo os leitores tivessem acesso a essa joia, um dos mais preciosos testemunhos já dados sobre o lindo Xingu que ele tanto amava.
Aí André montou a sua aldeia na maltratada Marituba e reinou como um verdadeiro cacique sobre legiões e tribos atraídos por sua conversa, seu amplo sorriso e sua cativante humanidade.
Não fuja, meu amigo. Daqui tu não desarredas. Mesmo que tenhas ido atrás de um riozinho maior na latitude da alma.
Dora Kramer, sobre a morte de José Mindlin.
“Não é sempre, mas de vez em quando soa injusto quando a natureza aplica a regra geral da inexorabilidade da partida”.
Sentimentos.
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De fato, Seu André era tudo isso. Depois que me informei sobre o riozinho do Anfrísio, é que soube que ele havia escrito o livro. Continuará vivo, certamente!
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É, parece uma injustiça essa partida.
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Muito triste. O Xingu e o Pará sentirão falta.
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André, mon ami rouge, continuará em nosso viver.
Um dia, após ler A batalha do Riozinho do Anfrísio, lhe disse e aqui renovo: tivesse eu a caneta de Governador promoveria que a história fosse roteiro para um filme: XINGU.
paz&paz ao André
Paz&saúde para o que aqui continuamos.
Namastê.
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Lúcio : em tempo , Parabéns pelas palavras . Paz&saúde
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Obrigado, Miro. O André deve estar levantando um brinde, onde esteja, no curso do Riozinho, para agradecer também.
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Ao eternizar o legado do André, o reescreve post-mortem nos novos páramos para ser recebido com a deferência e os mesmos sorrisos e braços abertos dispensados à ele no nosso vale de lágrimas.
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Estamos todos de luto.
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Lúcio, o André foi meu amigo de uma juventude que já vai distante.
Sem embargo das nossas diferenças ideológicas sempre travamos o bom combate. Nossa amizade cresceu no respeito mútuo que mantivemos durante o período das “lutas universitarias”.
O Bem Comum, mesmo por estradas diferentes era é o nosso sonho de uma humanidade que um dia possa, afastados do ódio primário, a razão das nossas vidas.
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No velório, Ronaldo, os testemunhos sobre o André comprovavam o vau e a largura da sua calha humana, semelhante ao Xingu.
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A lixa dos anos não costuma poupar ninguém, mas logo o André, foi-se o Riozinho do Anfrísio, a Terra do Meio …
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Mais do que uma pessoa, o André era um território.
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