O presidente Garrastazu Médici foi visitar, naquele início dos anos 1970, o entroncamento de duas das principais rodovias que estavam sendo abertas (Transamazônica e Santarém-Cuiabá). Elas levariam colonos para as suas margens, com a missão de “integrar para não entregar” a região aos cobiçosos estrangeiros, mantendo-a brasileira, à luz da doutrina de segurança nacional.
Num barracão improvisado, o ministro dos Transportes, o também general Dirceu Nogueira, fazia uma exposição dos trabalhos. Sob um calor bestial e elevada umidade, os olhos do presidente começaram a se fechar, cedendo à modorra. Quando eles se fecharam, um cigarro ainda subsistia entre os dedos do presidente. Pressuroso, um ajudante de ordens se aproximou e, com todo cuidado, sob tensão e expectativa de todos, livrou o presidente do risco de se queimar. Médici permaneceu com os olhos fechados.
Um coronel então passou pela ala reservada à imprensa, confinada num quadrado, proibida de dali sair, e deu a ordem, embora em tom educado:
– Vocês não viram nada, não é?
E quem se atreveria a ver?
Lembrei da história ao ler a nota da Associação Brasileira de Imprensa, que a seguir transcrevo, na esperança de que o Brasil caminhe em frente, seja a que ritmo e orientação for, e não volte a esse passado, que já é história.
Diz a nota, assinada por um grande jornalista, Domingos Meirelles:
Posse de Jair Bolsonaro
Nota oficial da Associação Brasileira de Imprensa
A Associação Brasileira de Imprensa expressa profunda preocupação com o excesso de restrições impostas aos jornalistas credenciados para a cerimônia de posse do Presidente da República Jair Bolsonaro. Não há registro de comportamento discricionário semelhante na história recente no País. O que se viu em diferentes cenários de Brasília é incompatível com o regime democrático. O respeito à imprensa é um dos principais indicadores das nações que se consideram civilizadas.
A ABI espera que os exageros no trato com os jornalistas sejam creditados à inexperiência da nova criadagem do Palácio do Planalto e dos serviçais que assumiram a segurança periférica do Presidente.
Não é aceitável que repórteres e cinegrafistas sejam mantidos durante horas em determinados locais, como se estivessem em cárcere privado, impedidos de se locomoverem, e até de falar com o público.
Não se pode confinar a imprensa em alambrados como gado de corte.
Estamos convencidos de que as patuscadas que enodoaram a cerimônia de posse acabem se circunscrevendo a esses deploráveis episódios, e não voltem a se repetir.
A construção da democracia é um exercício diário que exige submissão aos mandamentos da Constituição além de extraordinária capacidade de doação e respeito pelo outro.
A partir de hoje, Jair Bolsonaro é o Presidente de todos os brasileiros, mesmo daqueles que não o honraram com o seu voto, nas eleições de outubro.
O Novo Mandatário também precisa ser alertado que a campanha eleitoral terminou.
Domingos Meirelles
Presidente da ABI
Uma nota a altura do descontentamento experienciado pelos correspndentes internacionais.
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Lúcio, você endossa a nota da ABI?
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O texto em si, não. A reação ao fato que o motivou, sim. E mantenho minha admiração pelo Domingos Meirelles.
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Sao tempos muito dificies q veem ai, por causa desse facista e d seus seguidores zumbis.
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“A ABI espera que os exageros no trato com os jornalistas sejam creditados à inexperiência da nova criadagem do Palácio do Planalto e dos serviçais que assumiram a segurança periférica do Presidente.”
Já sei: o culpado é o mordomo! Com a ressalva de que se trata de um mordomo inexperiente.
Então a culpa nem é do mordomo: é da inexperiência!
É isso mesmo! Todo mundo sabe que as pessoas inexperientes são despóticas, e tratam mal qualquer jornalista que esteja por perto. Com o tempo, os inexperientes se tornam experientes, e passam a cultivar e praticar os valores e os procedimentos democráticos, né?
Essa ABI… Só falta ressuscitar o eternamente sonolento Danton Jobim!
Ora, ora, ora… O cerimonial do Palácio do Planalto é, em sua esmagadora maioria, formado por pessoal efetivo. O que não falta a esse pessoal é experiência em organizar solenidades oficiais. Se o cerimonial do Planalto enfiou os jornalistas num curral, não foi por falta de experiência. Foi cumprindo ordens.
E são pouquíssimas — e facilmente identificáveis — as pessoas que podem dar e dão ordens ao cerimonial do Planalto…
Conta outra, ABI…
Tá botando o rabo entre as penas antes do tempo. Além do mais, pode ser que a ordem nem seja botar o rabo entre as pernas, e sim balançá-lo alegremente para o chefe, juntamente com graciosos requebros, no momento certo.
Por falar em experiência, a dita “grande” imprensa tem longa experiência nisso, né mesmo?
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O que é ou foi a Imprensa?
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Uma imprensa que a si mesma fez de lixo, seja ela nacional ou internacional, só deve ser tratada da forma que é, lixo. Os jornalistas que não são a escória, que não são o lixo midiático, devem demarcar com clareza solar, através do verdadeiro jornalismo, que não é o ideológico ou de compadrio, que ainda existe dignidade e profissionalismo na impressa, que existe jornalismo com credibilidade. A integridade profissional no trato com a informação dos fatos como verdadeiramente eles se apresentam deve ser a tônica de quem não quer ser confundido com lixo.
O respeito e credibilidade dependerá dos próprios jornalistas. Tem jornalista disposto a não ser confundido com lixo? Tem jornalista que quer ser profissional e não um militante partidário? Tem jornalista com notório saber técnico para abordar com seriedade e imparcialidade a verdade dos fatos em curso? Tem jornalista disposto a nadar contra a correnteza do corporativismo que protege bandido com carteirinha de jornalista? A nota da ABI e o seu comportamento nas ultimas décadas diz claramente que não.
O jornalismo é vítima dos jornalistas que o prostituíram e o desacreditaram em uma medida muito grave. Se a verdadeira impressa não fizer o expurgo da montanha de lixo que se tornou o jornalismo, não poderá receber da sociedade e das autoridades o benefício da credibilidade daquilo que a mesma reporta.
“Com o tempo, uma impressa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma.” Joseph Pulitzer. Alguém se habilita a desmentir essa profecia jornalística?
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Sugestão:
“Sempre encantada com a imprensa americana, porém, a brasileira tem agora um exemplo diário a considerar: a reação proporcional do Washington Post, do New York Times, da CNN e de outros aos desatinos de Donald Trump.
Salvaram a liberdade de imprensa nos EUA e a si mesmos.”
(https://www.viomundo.com.br/politica/janio-de-freitas-se-respeitada-a-dignidade-da-profissao-a-imprensa-brasileira-humilhada-teria-se-retirado-da-cobertura-da-posse-de-bolsonaro-como-alguns-poucos-jornalistas-estrangeiros.html)
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