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Cultura, Imprensa

Livros de jornalismo

Quando dava aula no curso de comunicação social da Universidade Federal do Pará, nos anos 1990, preparei uma bibliografia de jornalismo para os meus alunos, com mais de 20 títulos. O critério que usei na seleção foi a lembrança espontânea. Relacionei os livros que me vieram imediatamente à memória associados ao jornalismo ou escrito por jornalistas.

Para efeito prático, listei apenas os livros publicados no Brasil. Infelizmente, muitos outros, valiosos (como a “história convencional do nosso tempo”, de I. F. Stone, em seis substanciais volumes, e os ensaios de K. S. Karol), nunca foram traduzidos para o português (que acolhe, porém, uma legião de teorias e teoréticos da comunicação).

Alguém estranhará a presença de ficção pelo meio, mas quem não tiver intimidade com a literatura dificilmente escreverá bem. Os que escreveram maravilhosamente bem, como verdadeiros mestres, atravessaram o deserto que separa o jornalismo para penetrar na selva selvaggia da literatura. Ensinam a narrar e descrever, sempre um desafio para repórteres.

Não citei qualquer manual. Manuais costumam emburrecer. Fórmulas prontas são mortais para o talento de um criador.

Não atualizei a lista por falta de tempo. Ainda assim, espero que, mesmo não sendo um levantamento completo nem – necessariamente – inclua o melhor, seja útil para os jornalistas e os seus leitores.

Os livros:

1–Soldados da Noite (ou Os Degraus do Pentágono, na primeira tradução) e A Canção do carrasco, de Norman Mailer.

2 – A Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe.

3 – Todos os Homens do Presidente, de Carl Bernstein e Bob Woodward.

4 – Honrados Mafiosos e Fama e Obscuridade, de Gay Talese

5 – O Julgamento de Sócrates, de I. F. Stone.

6 – Monopólio da Informação, de Bem Bagdkian.

7 – A Regra e o Jogo, de Cláudio Abramo.

8 – Quarup, de Antonio Callado.

9 – A Primeira Antologia do New York Review of Books.

10 – Cipriano Barata, de Paulo Garcia.

11 – Chatô, de Fernando Moraes.

12 – Chega de Saudade, Estrela Solitária e O Anjo Pornográfico, de Ruy Castro.

13 – Jornalistas e Revolucionários, de Bernardo Kucinsky.

14 – A Arte da reportagem, de Igor Fuser.

15 – O Afeto que se Encerra, de Paulo Francis.

16 – Millôr Definitivo, de Millôr Fernandes.

17 – De Beirute a Jerusalém, de Thomas Fredman.

18 – Notícias de um Sequestro, de Gabriel García Marques.

19 – Repórteres, de Audálio Dantas (organizador).

20 – As crônicas de Nelson Rodrigues organizadas por Ruy Castro, em oito volumes.

Discussão

10 comentários sobre “Livros de jornalismo

  1. Lúcio, não caberia nessa tua relação o Crônica de Uma Morte Anunciada, de Gabriel Garcia Márquez? Acho que a história que envolve uma prima de Márquez, mesmo escrito em forma de ficção, tem uma narrativa jornalística. Ou estou equivocado?

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    Publicado por Ademar Amaral | 29 de setembro de 2019, 16:55
  2. Eu proporia a inclusão, dentre outros:

    A Sangue Frio (Truman Capote),
    O Governo Invisível (David Wise e Thomas Ross),
    O Ópio do Povo (que se reivindicou como o 1º livro-reportagem brasileiro, da Extra: Realidade Brasileira), e
    Irã: Petróleo e Revolução (publicado pela Versus).

    Os dois últimos são excelentes exemplos de trabalho jornalístico de equipe. Salvo engano (estou citando de memória), cada um esses dois trabalhos foi feito por equipes de 4 redatores. Mas o texto final se apresenta com unidade de abordagem dos assuntos, estilo, ritmo do texto, etc. Do ponto de vista do leitor, não jornalista, que sou eu, isso é ótimo!

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    Publicado por Elias Granhen Tavares | 30 de setembro de 2019, 08:17
  3. T. Friedman

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    Publicado por celso.. | 30 de setembro de 2019, 10:21
  4. Foi lendo “Repórteres”, organizado pelo Audálio Dantas, que descobri que você existia, Lúcio. O seu depoimento, junto com o do Domingos Meireles e Mauro Santayana, estava entre o mais impressionantes. Semanas depois da leitura, ao acaso, lendo uma revista “alternativa-pequena-anônima” que nem lembro o nome, fiquei sabendo sobre a agressão no restaurante. O que me deu coragem de te enviar meu primeiro e-mail para comprar livros seus.

    Franklin Martins, em algum lugar, eu lembro, citou “Metamorfose” de Kafka, e “Abolicionismo” de Nabuco; como dois textos básicos para estudantes de jornalismo. Kafka escreve de forma realista histórias absurdas; e o clássico de Nabuco nos faz questionar: como a elite poderia amar o Brasil se ela não sujou as mãos de terra e derramou o suor sobre esta mesma terra?

    De todos os livros que li durante a faculdade de jornalismo o que mais me marcou foi “A Regra do Jogo”, do Claudio Abramo. Nem sei como descrever sobre o “como” e sobre o “por quê” do caso. Acho mais significativo relatar que copiei a mão longos trechos do livro.

    Posso dar uma sugestão esdrúxula e exótica, mas com método? Entre 1989, 1991, mais ou menos, a Abril Cultural junto com a Time-Life; lançou a coleção “Mistérios do Desconhecido”. É um desafio ser equilibrado e imparcial quando um jornalista escreve sobre Lula, Bolsonaro ou um caso policial especialmente macabro? E como seria ao escrever sobre casas mau assombradas, óvnis, bruxarias e etc? Pois entre o ceticismo estéril e a credulidade perigosa, os textos desta coleção impressionam pelo equilíbrio e seriedade. Acho que podem ser facilmente encontrados em sebos e livrarias com livros usados. Além de serem editorialmente belíssimos.

    Um grande abraço.

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    Publicado por Aldrin Iglesias | 7 de outubro de 2019, 22:29
    • Sua leitura me honra, Aldrin. Além dos livros que citei, ao acaso, há muitos outros. Meu método sempre foi não deixar uma resposta, que eu próprio me faço, sem resposta, mesmo que pareça irrelevante. Mas aprendi a pensar lendo filosofia. Sugiro que leia o Lucien Goldmann, simples e profundo.
      rofundo

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      Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 8 de outubro de 2019, 08:26
      • Sugestão anotada e seriamente considerada.
        Só queria fazer uma correção: eu te mandei o primeiro e-mail muito tempo depois da faculdade. Acho que em 2009. Então não foi “algumas semanas” após ler “Repórteres”, mas sim uns três anos. Minha memória é boa com palavras e imagens, mas não com números. Acho que eu seria um mau contador. Ou talvez bom até demais… rs

        Aqui, uma coisa: você não teria alguma amigo estadunidense que também goste de I.F. Stone? Na impossibilidade de publicar os seis volumes, vocês fariam uma seleção dos textos mais significativos dele. Mas acho que a crise econômica ainda pesa. Indo nas livrarias, me chama atenção que até os dicionários gigantes desapareceram.

        Abraços.

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        Publicado por Aldrin Iglesias | 8 de outubro de 2019, 11:59
      • Infelizmente, acho que os livros do Stone não serão publicados aqui. Saiu só O Julgamento de Sócrates, pela Companhia das Letras. É excelente. Acho que já aos 70 anos, Stone aprendeu o grego clássico. Como o nosso Benedito Nunes, um pouco mais cedo.

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        Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 8 de outubro de 2019, 12:10

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