Um amigo me alertou: o massacre que analisei no artigo Holocausto brasileiro foi na favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro, mas na favela de Jacarezinho , na Zona Norte. É verdade. O texto expressa exatamente o que eu queria dizer. O erro é menor. Ainda assim, é erro. Serve de alerta para a repetição de erros desse tipo. Eles resultam de esgotamento físico e mental, por uma série de fatores, agravados pelo nosso tempo de pandemia do coronavírus.
Este é um blog de jornalismo. Jornalismo só se pratica pela apuração de fatos. Não todos, é claro, mas os relevantes, aqueles que precisam fazer parte da agenda pública para bem informar a sociedade, dando aos seus integrantes elementos para exercer a sua função de verdadeiros cidadãos.
Além disso, há sobre este blog uma expectativa mais exigente. Os leitores querem análises, opiniões, interpretações. A tarefa é árdua e extremamente desgastante. Ela é sobrecarregada pelo padrão de jornalismo da grande imprensa – no meu caso, a paraense. Os jornais locais colocam seus interesses particulares acima dos interesses coletivos, sobretudo diante de temas controversos e polêmicos. Esforço-me para preencher essa lacuna, o que só posso fazer parcialmente. Além disso, há a indiferença ou alienação de muita gente. Lutar com palavras é luta vã. Mas lutamos mal começa a manhã – alerta o poeta.
Dou um exemplo. A imprensa ignorou completamente o tema principal da sessão do tribunal pleno da justiça paraense da semana passada: o processo administrativo disciplinar contra dois muito conhecidos juízes da comarca de Belém, acusados de cobrar propina para vender uma sentença. A matéria não saiu nem no portal do TJE. A imprensa passou em branco. Só aqui o assunto foi registrado.
Espero que o episódio não se repita em relação à sessão de hoje. Cumpri o meu dever divulgando o resultado da apreciação dos dois casos. Para isso, acompanhei atentamente o julgamento (on-line) ao longo de mais de cinco horas. Encerrada a reunião do pleno, imediatamente escrevi a matéria, que já está postada no blog. E imediatamente foi apurar a sessão do STF sobre o ex-presidente Lula. Li a íntegra do voto do ministro Marco Aurélio Mello, apresentado hoje, na devolução dos autos.
Essa rotina tem me exposto a erros como o que meu amigo apontou. Não devo buscar os motivos que justificam essas falhas. Se não puder evitá-las, terei que me ajustar ás condições de trabalho e reduzir drasticamente a postagem neste blog, já que as causas desses erros estão bem claras.
De qualquer maneira, perdão, leitores.
Lúcio, só admite que errou quem tem a honestidade como lema de vida. É o teu caso.
Louvável atitude.
CurtirCurtir
Obrigado pelo apoio, Ronaldo.
CurtirCurtir
Lucio,aprendi com um velho companheiro de trabalho:Quem trabalha muito,erra muito;quem trabalha pouco,erra pouco;quem não trabalha, não erra,quem não erra, é promovido.
PS:Fui aposentado na letra.
CurtirCurtir
É verdade, amigo.
CurtirCurtir
Lúcio, que perdão que nada! Um erro ou outro nada significa; pior do que o erro é a omissão, e a grande imprensa pratica os dois e não poucas vezes intencionalmente. Eu tenho notado alguns pequenos erros nas matérias (como esse que ilustra sua penitência) que em nada comprometem o conteúdo. Você não deve nada a ninguém, escreve porque: gosta; sente-se na obrigação de fazê-lo; e o jornalismo, sabidamente, é a sua Julieta (pena que a original, coitada, tenha morrido virgem – para desespero do desafortunado Romeu). Você dá informações, análises, conceitos e o melhor do seu tempo a seus leitores que, avaros, apenas lhe pagam em parcos e miseráveis comentários. Estão, portanto, no lucro.
O odor fétido, nauseabundo, repugnante que os canais insaneados de Belém exalam na época invernosa, comparados com certas decisões dos nossos tribunais, qualquer um, de repente adquirem o olor suave e gostoso de brancas e puras açucenas.
CurtirCurtir
Obrigado, Alcides.
CurtirCurtir
São tantos os massacres contra os pobres no Rio de Janeiro, um atrás do outro, que o engano de um jornalista é compreensível. Quanto à omissão da imprensa local na abordagem de assuntos tão graves, infelizmente, não são poucas… daí a relevância do teu trabalho jornalístico, por excelência.
Não bastasse a omissão, a imprensa sofre da falta de imparcialidade quando aborda assuntos polêmicos e do maior interesse coletivo. Dou um exemplo: em O Liberal deste último domingo, o jornal deu duas páginas e uma foto sorridente para o vereador José Wilson Costa Araújo, vulgo Zeca Pirão, defender com argumentos indefensáveis o projeto de mega-gentrification da orla de Belém, mas não deu nenhuma página para o movimento da sociedade civil que é radicalmente contra tal projeto, que se enquadra na categoria “passar a boiada”, criada pelo ministro caído Ricardo Salles. Os argumentos do vereador Pirão se enquadram na linha dos argumentos do tipo negacionista da comunidade bolsonarista, ou seja, eles vão na contramão de tudo o que as Ciências Sociais já construíram, no sentido de demonstrar como os projetos de gentrification penalizam moradores, práticas sociais, econômicas e culturas urbanas historicamente estabelecidas, para promover interesses de mercado de grandes corporações econômicas e, por conseguinte, consumidores das classes sociais desde sempre privilegiadas.
Ao não ouvir os dois lados, primeira lição que um estudante de jornalismo aprende na faculdade, o jornal rasga o próprio manual universal de jornalismo…
Milionário, ao defender um projeto antipopular completamente fora da nova ordem social mundial clamada pelos movimentos de descolonização, antirracismo, antipoluição, anti-concentração de capital e anti-desigualdade social, o vereador Zeca Pirão-MDB, presidente da Câmara Municipal de Belém, trai não apenas o eleitor do povo, mas o próprio apelido que o ajudou a eleger, já que pirão é alimento muito popular feito à base de farinha de mandioca… Já a imprensa, também milionária, traí o leitor que espera mais jornalismo e menos publicidade… O que ambos têm em comum?..
CurtirCurtir
Obrigado, Marly. Sempre atenta com seu microscópio e luneta.
CurtirCurtir
Quando o andar de cima (com perdão da imagem surrada) quer expandir seus interesses, geralmente massacrando os legítimos e desprotegidos do andar de baixo, usa o cínico e igualmente surrado argumento de que “vai gerar empregos”, “dar renda para os pobres” etc. etc. A chamada “indústria da construção civil” é altamente predatória e conta com uma estranha e incompreensível boa vontade do poder público, melhor dizendo,
dos homens que o exercem.
CurtirCurtir
Isso é de menos, Lúcio. Quanto ao TJE, vamos convir: trabalhar como jornalista na administração pública é viver em uma completa limitação jornalística, talvez pior do que na grande imprensa empresarial. Como os profissionais que são servidores públicos publicarão o que é desabonador para a instituição em que trabalham?
CurtirCurtir
O que mais desabona a instituição é essa censura. Ou autocensura. Ou o sigilo que o relator do PAD quis impor.
CurtirCurtir
Exatamente. Quando você vai um jornalista vai trabalhar no serviço público, quase sempre acaba atuando muito mais como publicitário. Infelizmente é o que acontece.
CurtirCurtir
Sabe aquele ditado “farinha pouca, meu pirão primeiro”.? Pois é, para aqueles que querem liberar os atacadões, torres de concreto e galpões na orla, o ditado ficou assim: “farinha pouca, o PIRÃO deles primeiro”. Até agora, nenhum pronunciamento por parte do prefeito Edmilson, que, em campanha eleitoral, propunha uma “Belém de novas ideias”.
Se esse projeto bisonho for aprovado, as duas primeiras estrofes da música Belém-Pará-Brasil, do Mosaico de Ravena, vão soar como profecia:
Vão destruir o Ver-o-Peso
E construir um Shopping Center
Vão derrubar o Palacete Pinho
Pra fazer um condomínio
Coitada da Cidade Velha
Que foi vendida pra Hollywood
Pra ser usada como um albergue
No novo filme do Spielberg
CurtirCurtir