O funcionário público Walter Sarmanho Freitas devia acreditar em Papai Noel. Foi uma história desse tipo que ele contou em um protesto judicial que apresentou no fórum de Belém, em 1957.
Disse que estava bem posto em sua casa quando recebeu telefonema anônimo denunciando-lhe que, às proximidades da Usina Bitar, em Mosqueiro, “existia, semioculta no mato, uma partida de mercadorias, provavelmente ‘whiski’, ali ilegalmente desembarcadas”.
“Induzido pelo noticiário dos jornais”, que tornaram pública “a existência de vultoso comércio clandestino, nesta região, com o exterior”, Sarmanho decidiu cumprir uma missão cívica: fretou uma lancha, contratou alguns braçais e, à própria custa, tomou o rumo de Mosqueiro para apreender a muamba “e entregá-la às autoridades competentes”. Foi “sem grande dificuldade” que encontrou os volumes.
Tratou de lavrar “o competente Auto de Apreensão”, após o que voltou com o contrabando para Belém. Cochilava na viagem de volta, quando foi abordado por uma lancha da Alfândega e, comprovando tratar-se de autoridade competente, repassou-lhe a carga.
Eis que, ao ler os jornais de dias seguintes, foi o diligente cidadão surpreendido com a publicação de um edital da Alfândega, “no qual figuravam como apreensores os funcionários da fiscalização” e não ele próprio, o verdadeiro descobridor.
Foi então que ajuizou o protesto, “para a conservação dos seus direitos” como apreensor, fazendo jus, na forma da lei, “a substancial parte do valor dos gêneros apreendidos”.
Não deixaria de ser um presente de Papai Noel, ainda que fora de época, como se tornara comum na Belém de então.
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