Jô Soares, que morreu hoje, em São Paulo, aos 84 anos, fez tanta coisa, fazendo tudo com brilho e originalidade, que não se poderia esperar que acrescentasse um item mais ou menos tardio (apesar das colunas que escreveu) ao seu cartel, com a mesma qualidade das demais criações, ou até maior: a de escritor (de livros). Muita celebridade afundou nessa difícil travessia, apesar da consagração proporcionada pela mídia.
Sua autobiografia em dois rotundos volumes, O livro de Jô: uma autobiografia não autorizada, que ditou (ou fez a quatro mãos) ao jornalista Matinas Suzuki, é uma das melhores que li nos últimos anos: rica em acontecimentos, intensa, bem escrita e – como não poderia deixar de ser – bem-humorada. Lê-se com imenso prazer,. além de incorporar informações desconhecidas ou pouco conhecidas do picadeiro e dos bastidores da elite brasileira. E assim continuar na companhia do gordo – às vezes, ex.
Viva o gordo eternamente! Esteja onde estiver. Quem seria como ele? E quem poderia imitar o que ele fazia?
Tem gente que passa pela vida fazendo jus a cada minuto do tempo que nos foi dado por aqui. José Eugênio Soares, ou simplesmente, gigantemente Jô, foi um cara assim. Não só aproveitou seus dias, que pareciam infinitos, como desfrutou cada um deles e nos deixou um legado artístico e humorístico imortal. Freddy Mercury, Einstein, Newton, Garrincha, Maradona, Frank Sinatra, Darwin, Mandela, Freud… sempre que ouço esses nomes só dá pra pensar na verdadeira imortalidade humana. Há quem viva pouco, como Cazuza e Renato Russo, e não morra nunca. Se isso não é ser imortal, que diabos é então?
Jô Soares fez parte de ao menos duas, três ou quatro gerações inteiras (incluindo eu) de brasileiros, homens, mulheres, crianças, jovens e idosos que riram, gargalharam, se emocionaram, choraram com seus livros, peças, programas e personagens. Trouxe para o Brasil o formato de talk-show, tradicional nos Estados Unidos (do qual a versão americana do Jô, Larry King, morto no ano passado, foi um de seus maiores representantes), precursor dos atuais videocasts, assistidos diariamente por milhões de pessoas no Youtube. Fez o Programa do Jô na Globo, Família trapo, Viva o Gordo (também na Globo), Onze e Meia (no SBT) Planeta dos Homens, escreveu cinco livros, atuou em vinte e dois filmes, criou e interpretou mais de 250 personagens diferentes, muitos deles lembrados até hoje, como o Reizinho, o Capitão Gay, o Zé da Galera, além de bordões como “me tira o tubo” e “cala a boca, Batista”.
Acho que eu precisaria de 50 textos gigantescos igual ele para descrever 10% da obra deste gigante das artes. E depois de tudo, ainda estaria cometendo injustiças, me esquecendo de alguma coisa. Encerro apenas com pesar, com uma memória afetiva dele e com uma sensação de dever cumprido por parte dele, agradecendo-o por cada risada e reflexão que proporcionou a mim e a todos os brasileiros que o acompanharam.
Para quem já viu a trilogia de filmes Senhor dos Anéis, Gandalf, o mago do bem, ensinou: “não nos cabe decidir quanto tempo viveremos, mas sim o que faremos com esse tempo que nos é dado”. José Eugênio Soares soube como poucos o que fazer com ele. Para o Jô, só diria que valeu demais a sua passagem pela Terra! Ele foi e será, eternamente, “o cara”. Toda vez que Jô encerrava seu programa, dizia “um beijo do Gordo!”. Pois é, agora só resta a nós, nessa hora, mandar um último beijo pro Gordo.
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Falta apenas retificar o ‘m’ mal posto na palavra “coMsagração”. Não precisa tornar público este comentário.
A propósito, adoro o blog!!
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Obrigado, Deivison. Corrigirei.
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Em homenagem ao Jô, segue um artigo do pseudônimo Agamenon abaixo: https://oantagonista.uol.com.br/brasil/agamenon-um-beijo-pro-gordo/
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Lúcio, grande abraço amigo, sempre passo aqui pra ver suas postagens.
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Obrigado, Cláudio. Passe sempre. Receba abraço.
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