
Quatro anos e meio atrás, o governador se indigna na visita ao Ophir Loyola. E o Pet-Scan não saiu da caixa
No dia 12 de fevereiro de 2019, apenas 43 dias depois de tomar posse como governador do Pará, Helder Barbalho fez uma “visita técnica” ao Hospital Ophir Loyola, unidade de saúde do Estado, que é um centro de alta complexidade em oncologia e referência em neurocirurgia, nefrologia e transplantes.
O governador disse que “fez questão de estar presente para observar, ouvir e saber da realidade dos serviços de saúde para aqueles que necessitam do tratamento de combate ao câncer junto com seus familiares, a situação é dramática e inaceitável”, segundo a assessoria de comunicação do hospital.
“Como podem pessoas serem tratadas dessa forma tão desumana, em um momento tão difícil de suas vidas? Já orientei a equipe da Sespa e do Ophir Loyola que me apresentem soluções, o mais rápido possível, que possam viabilizar uma nova forma de atendimento”, declarou Helder.
O secretário de Saúde, Alberto Beltrame, que participava da comitiva (e seria obrigado a renunciar, envolvido em denúncias de corrupção), observou que o HOL já fora uma grande referência nacional no tratamento de câncer. “Aqui era um lugar onde os paraenses tinham como certo e seguro para fazer seu tratamento. O que hoje encontramos é um hospital abandonado, muito precário, com várias instalações em péssimo estado, a começar pela cozinha, passando pela área de urgência e emergência, ambulatório, até as áreas de internações. É urgente fazer uma melhoria, para que o Ophir Loyola retome seu posto de grande referência no país no combate ao câncer”, destacou.
A paciente Andreia Nascimento, de 44 anos, que luta contra um câncer, ao ver o governador, manifestou a esperança de que ele pudesse resolver “algumas questões essenciais no hospital”: pediu que ele “providencie a estrutura necessária para instalação do PET-CT (equipamento para realização de exames de imagem), que chegou no hospital desde outubro e ainda não foi instalado. Um exame desses custa em torno de quatro mil reais”, disse.
Ao sair da visita, o governador postou esta mensagem no Tweeter:
É precária a situação das instalações e do atendimento do Hospital Ophir Loyola. Já orientei a equipe da Sespa e do Ophir Loyola, para que apresentem soluções o mais rápido possível, para viabilizar uma nova forma de atendimento aos pacientes. Não vamos aceitar isso!
Só ontem, mais de quatro anos depois, o governador voltou a fazer uma “visita técnica” ao hospital. Na ocasião, anunciou a incorporação de um novo espaço, fora das instalações do Ophir Loyola (na rua Mundurucus, no bairro do Jurunas, onde funcionou um hotel), as obras permitirão a ampliação dos serviços de alta complexidade em oncologia, particularmente nos tratamentos paliativos e de urgência e emergência. Essa será a segunda unidade de todo o Brasil e a primeira da região Norte direcionada para assistência paliativista, um avanço que o Pará estará conquistando no segundo semestre de 2023″, ressaltou Helder Barbalho.
Essa era uma reivindicação da paciente em fevereiro de 2019. Uma outra, porém, ainda continua como promessa, quatro anos e meio depois. A diretora-geral do hospital, Ivete Gadelha Vaz, informou que o Serviço de Medicina Nuclear e de readequação da radioterapia “também passam por obras de ampliação e iniciaram reconstrução neste mês de maio. Os investimentos somam mais de R$ 18 milhões, recursos oriundos do governo estadual, e integram o planejamento estratégico do hospital para modernizar os serviços e ofertar novas tecnologias para o tratamento do câncer. As obras devem durar 9 meses”.
Segundo sua assessoria, o serviço também será reestruturado para receber a instalação dos novos equipamentos. A princípio, serão realizadas reforma e adequação do espaço para a instalação da gama-câmara, um aparelho usado para visualizar a localização de diversos órgãos após a administração de baixas doses de um radiofármaco. Em seguida, uma área desativada será reformulada para ampliar o serviço com a instalação do Pet-Scan, aparelho usado no diagnóstico e estadiamento do câncer”.
A assessoria informou ainda que “outras obras estão em andamento e devem ser entregues, neste segundo semestre, como o novo Centro Cirúrgico, o Casarão Rosa e o auditório Luiz Geolás de Moura Carvalho, local onde são realizados eventos científicos”.
O mínimo que se pode dizer das obras anunciadas para permitir a instalação do pet-scan, que chegou ao hospital em outubro de 2018 e nele permanece encaixotado e sem uso, é que são obras de Santa Engrácia, como parte de uma história inconvincente.
No seu relatório de 2019, a direção do HOL anunciou, como uma das metas para 2020, “Reforma, construção e otimização de diversos serviços relevantes para a instalação dos equipamentos PET/CT e Gama Câmara”.
Em fevereiro deste ano, a direção do hospital fez outro comunicado aos dirigentes do Sindicato dos Médicos do Pará: essas obras começariam ainda no mês de março, com prazo de nove meses para conclusão dos trabalhos. De acordo com a diretora geral do Hospital Ophir Loyola, Ivete Vaz, até o dia 5 de março seria concluída a fase de seleção de empresas habilitadas para realização da obra.”
Ela frisou que não houve fila de espera de pacientes para exames que dependiam do aparelho porque todos são encaminhados para Clínica Som Diagnóstico”, segundo a nota distribuída pela assessoria do Sindmepa.
Se, em fevereiro de 2019, o governador realmente tivesse dado as ordens que anunciou, e se essas ordens fossem cumpridas, no final de 2020 o aparelho, o mais eficiente que há para o diagnóstico de câncer, já teria sido instalado e em funcionamento. Qual o custo dessa demora?
Sobre isso, ninguém do governo diz coisa alguma. Mistério.
Caro Lúcio, uma antiga anedota contava que ao visitar uma comunidade isolada do interior, Magalhães Barata teria ouvido chamarem um certo menino de Magalhães Barata. Curioso pela suposta homenagem, o interventor teria indagado do pai da criança por quê o batizara com aquele nome. Depois de algumas adivinhações obsequiosas (tanto quanto erradas) vindas do séquito que o acompanhava, o pai resolveu responder: “porque este é um mentiroso sem conserto”.
Quem trabalha na saúde pública já está enjoado de ver estas visitas. Durante os governos Jatene foram muitas. O mais engraçado é que se você entrasse em um hospital público e perguntasse se tal e tal coisa prometida pelo governador está funcionando, talvez nem entre os mais interessados no assunto haveria quem recordasse o fato. Helder Barbalho apenas continua a tradição, com uma diferença: já nem faz perguntas.
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O Helder Barbalho está dando continuidade ao que foi iniciado por Simão Jatene: a mercantilização da saúde pública. Me admira que no seu blog quase ninguém se manifeste sobre as vantagens e desvantagens da terceirização neste ou naquele setor.
Quem entra no Pronto Socorro Municipal percebe ali a presença de grupos etários com as suas demandas bem caracterizadas, as quais crescem geometricamente à medida em que o poder público virou as costas para a resolutividade dos problemas nas unidades de atenção básica e nas referência. São vários exemplos.
Os idosos do Pará não encontram um serviço projetado especificamente para as suas necessidades. Muitos deixam de realizar um procedimento por medo de reações e inadequações. Enchem os leitos e as macas dos corredores do Pronto Socorro por falta de locais específicos nos quais encontrariam todo o suporte integrado para lhes manter a saúde. O governo deveria ser o primeiro a oferecer aos idosos atividade física e ocupacional orientada, m.a.s n.ã.o q.u.e.r.
Estamos vivendo uma era em que a descoberta de numerosos fatores nutricionais com comprovado potencial como inibidores de doenças. Já era tempo de o governo estadual investir nesta fronteira; mas o receio da perda de receita para a classe médica e para a indústria farmacêutica, concorre para uma paralisação geral no SUS, guiada pelo CFM, gerando enormes atrasos na implantação de laboratórios e farmácias públicas que venham a distribuir estas preciosidades. O CFM chega ao cúmulo de usar a reportagem da Globo para demonizar o uso de suplementos nutracêuticos com mentiras.
Um novo SUS já deveria estar sendo redesenhado. Um SUS para reduzir as despesas do estado e para evitar agravos e internações hospitalares. Um SUS multiprofissional, voltado mais para a saúde do que para as contas médicas e para as contribuições de caixa-2 da política.
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Esse embróglio abominável protagonizado pelo casal governante & seus cumplices já me dá náuseas politicas.
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imbróglio
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