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Ciência, Energia, Hidrelétricas

Evento expõe diferentes posicionamentos sobre energia

Esse debate é de quase 20 anos atrás, quando a UFPA discutia com muito mais frequência os grandes problemas do dia a dia do Estado e da região, aceitando no debate pessoas de fora da academia, como um jornalista, o único que não era engenheiro elétrico. Havia tanto interesse que o debate se prolongou por mais duas horas além do previsto, como grifei.

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“O programa de energia elétrica para a Amazônia” foi tema de um debate que aconteceu no início deste mês [outubro de 2004], no auditório setorial profissional [da Universidade Federal do Pará]. A iniciativa fez parte das comemorações dos 40 anos do curso de Engenharia Elétrica da universidade e reuniu profissionais que atuam em diferentes polos, produzindo uma reflexão entusiasmada sobre o assunto e marcando a extensão do debate para a programação da Semana do Centro Tecnológico.
De um lado da discussão, a voz da academia, representada pelo vice-diretor do CT, José Augusto Lima Barreiros. E no mesmo tom, abraçando a ideia do programa de energia elétrica a ser implantado, o engenheiro Francisco França, representante da Diretoria de Tecnologia da Eletronorte, e Dílson Trindade, diretor de Comercialização da empresa. Do outro lado da discussão, construindo a crítica ao atual programa, estavam o jornalista Lúcio Flávio Pinto e o deputado estadual Waldir Ganzer. A mediação do debate foi feita pelo professor Carlos Tavares, coordenador do curso de Engenharia Elétrica.

O debate começou com uma contextualização histórica do tema e logo dois discursos se chocaram: um que propunha o modelo atual de distribuição elétrica e a criação da Usina de Belo Monte, e outro baseado na afirmação de que a energia tem que estar subordinada às especificidades locais, ou seja, não se pode construir barragens sem levar em conta as populações, a sabedoria local, o ecossistema etc.

Debates públicos como esse estimulam o conhecimento e atualizam os saberes políticos da comunidade acadêmica. “É importante trazer esses temas para uma mesa de debates e obter o estímulo da comunidade acadêmica. Como diretor Comercial, aproveito estes espaços para dialogar e ver o contraponto que se coloca sobre a empresa”, diz Dilson Trindade.
A discussão convergia quando se tratava das riquezas do Pará e era ponderada no que diz respeito ao papel do engenheiro na sociedade, na relação com essas riquezas. Ele não pode ser apenas um “barrageiro”, aquele que só constrói barragens – uma metáfora para designar os profissionais da área que têm uma ótima formação técnica, mas uma consciência política maleável.

“É um debate complexo e fundamental para que possamos garantir a distribuição da riqueza, não a exploração desta população que vive na beira do rio. Os rios não devem ser apenas vias de passagem dessa riqueza. Estamos socializando as perspectivas que existem sobre a energia”, afirmou Waldir Ganzer.

José Barreiros disse que o setor de Engenharia Elétrica quer começar a construir, ainda este ano, um centro de pós-graduação na área de energia. “Neste processo seletivo de 2005 já são ofertadas 30 vagas para Engenharia Elétrica, em Tucuruí, e 30 vagas para Engenharia Civil. Em 2006, será implantado também o curso de Engenharia Mecânica”, diz o vice-diretor.
O curto tempo do debate foi criticado e a programação acabou se estendendo por mais duas horas.

“A academia pode e deve ter um papel mais ativo em relação a estes pontos levantados. O grande problema da Amazônia é que a agenda do cidadão não é a agenda da história. A Amazônia passa rapidamente de ‘0 a 80’ e as pessoas não conseguem acompanhar o ritmo. Então, fica-se fazendo arqueologia da história”, argumenta Lúcio Flávio Pinto.

A UFPA manifestou a proposta da continuação da discussão na Semana do Centro Tecnológico, que ocorrerá no período de 29 de outubro a 3 de novembro, sendo mais voltada para o papel da tecnologia em geral. É a tentativa de desenvolver consciência crítica sobre o assunto, concordam os participantes, pois a água da Amazônia representa muito mais do que kilowatts.

Discussão

Um comentário sobre “Evento expõe diferentes posicionamentos sobre energia

  1. Há pelo menos 2 questões que, a meu pensar, nunca foram pelo menos tangenciadas, nos poucos debates sobre energia ocorridos em Belém:

    I – as unidades habitacionais que, até aqui, têm sido predominantemente unidades consumidoras (UCs) de energia elétrica, tendem a se tornar, também, unidades geradoras (UGs);

    II – o futuro da geração da energia elétrica não tem a ver com combustíveis fósseis nem mesmo com hidrelétricas, e sim com fontes renováveis e com energia nuclear (neste caso, porém, não a partir de mega usinas, sempre vulneráveis a mega catástrofes, e sim de “pilhas” de menor porte e longa duração).

    As duas questões se interligam, e implicam repensar e redefinir toda a estrutura do setor, seja do ponto de vista da geração, seja da ótica da distribuição da energia elétrica.

    Hidreletricas, usinas termonucleares e distribuidoras de energia elétrica, hoje em dia, já podem ser consideradas anacronismos. Sobrevivências nefastas do século passado. Não há mais lugar pra esses dinossauros no mundo em que vivemos.

    Como essas corporações têm muito dinheiro e poder, elas farão de tudo e mais um pouco pra prolongar sua existência. E claro que conseguirão alguns êxitos, notadamente em países corruptos e onde a sociedade civil é burra, desorganizada e esculhambada, como o Brasil. Mas o fato é que a era delas acabou. Elas têm que partir. E já vão tarde!

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    Publicado por Elias Granhen | 8 de junho de 2024, 22:46

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