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Minério

Bomba-relógio: sem diversificação econômica, Itabira pode implodir (e Parauapebas?)

Por Gustavo Linhares / De Fato
No início de maio, a Vale informou ao Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema) que não fará parte de um grupo técnico criado para discutir o fechamento das suas minas em Itabira. O comunicado foi feito por meio de um ofício assinado por Daniel Argento Soares, coordenador de Relações Institucionais do Sistema Sudeste da mineradora. Em meio às incertezas quanto ao futuro do município no pós-mineração, a postura adotada pela empresa preocupa e causa temor de que possamos vivenciar uma situação similar à de Barão de Cocais com a Gerdau.

Na cidade vizinha a Itabira, a Gerdau anunciou, na última semana de maio, de maneira repentina, a hibernação da sua usina siderúrgica, causando a demissão de 487 colaboradores diretos — e de quase mil trabalhadores indiretos. Um impacto social que afetará diversos setores de Barão de Cocais, de empresas terceirizadas até o comércio local — que amargaram muitos prejuízos. Isso sem contar a queda da arrecadação municipal, estimada em R$ 4 milhões.

Em Itabira, a saída da Vale também será repentina? Com enorme dependência da atividade mineral, com cerca de 85% da arrecadação municipal atrelada à extração do minério de ferro, o passar dos anos para o município itabirano é como o andar do ponteiro de uma bomba-relógio prestes a explodir — e sem quem possa desarmá-la.

Ainda longe de estar preparada para a exaustão mineral, Itabira poderá ver a sua estrutura socioeconômica implodir com os fechamentos das minas. Atualmente, a Vale é, disparada, a maior empregadora do município; a empresa com maior contribuição para o orçamento da cidade — seja pela Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), seja pelo recolhimento do ICMS —; e o principal vetor de fomento ao comércio local, que é alimentado pelo consumo dos colaboradores da multinacional.

Essa enorme dependência da indústria mineral foi fomentada pela própria Vale ao longo dos anos. Até a criação da mineradora, em 1942, Itabira contava com duas fábricas de tecidos (Pedreira do Instituto e Gabiroba), várias forjas e pequenas produtoras de vinho e cachaça, que não suportaram a concorrência com a multinacional, que tomou a mão de obra local e sufocou as tradicionais iniciativas locais.

Como se não bastasse, a Vale tomou para si a posse dos principais mananciais da cidade, rebaixou o lençol freático, contaminou o céu e a água — gerando profundos passivos ambientais, que se tornarão a sua herança para a cidade. A mineradora arrancou trilhões de dólares do nosso solo e o que nos restou? O ponteiro de uma bomba-relógio que segue correndo; e Itabira está prestes a implodir. Tic-tac!

MEU COMENTÁRIO

O tic-tac do relógio do tempo está batendo também para Parauapebas. O município paraense se tornou o maior produtor de minério de ferro do país e dono da maior receita tributária nacional. Mas a extração já está começando a aproveitar o minério menos rico e o mais explorado da província de Carajás. A situação de Itabira deve servir de advertência sobre o futuro, mais perto do que parece.

Discussão

Um comentário sobre “Bomba-relógio: sem diversificação econômica, Itabira pode implodir (e Parauapebas?)

  1. Lendo o texto, os portugueses devem estar aliviados do peso de terem explorado o Brasil por três séculos.

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    Publicado por pedrocarlosdefariapinto | 13 de junho de 2024, 19:15

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