//
você está lendo...
Cultura, Memória

Memória de Santarém

Textoi meu para a coluna Memória de Santarém, publicada aos domingos (até recentemente, também aos sábados) no portal do jornal O EstadoNet, de Miguel Oliveira.

Documento inédito

Um ministro do império brasileiro, não identificado no documento (provavelmente é o conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira, Ministro Secretário dos Negócios do Império), consultou, em dezembro de 1872, o presidente da província do Pará, Miguel Antônio Pinto Guimarães. Em carta confidencial, pediu informações “sobre a posição que ocupava. No conceito que era tido no Pará” Henrique de La-Roque.

O barão respondeu, em ofício de janeiro de 1873, que La-Roque “gozava nesta praça sempre de boa reputação e posição como negociante, retirou-se para a Europa há doze anos, voltou agora, com o fim de estabelecer um filho no Comércio, pretendendo demorar-se um ano”.

Miguel Antônio Pinto Guimarães foi o primeiro nobre santareno. Recebeu o título de barão de Santarém por decreto do imperador Pedro II de 17 de maio de 1871. Como merecimento, foi lembrado por ser fazendeiro na Província do Pará. Faleceu em Belém, em 24 de agosto de 1882.

Seis anos depois e a pouco mais de um ano do fim da monarquia brasileira é que surgiu outro nobre santareno. José Caetano Correia recebeu o título de barão de Tapajós por decreto imperial de 19 de agosto de 1888. Era coronel da Guarda Nacional, um cargo também honorífico.

Mais cartas do barão

Carta de Miguel Antônio Pinto Guimarães a Ambrósio Leitão da Cunha, futuro barão de Mamoré.

Diz não ter relações políticas com os conservadores da capital por estes nutrirem desconfianças a seu respeito. Informa que em Monte Alegre o chefe era Manuel Joaquim da Costa, delegado de Polícia, mas que, em sua opinião, d. Manuel Onety era a alma do partido, a quem se devia a queda de Malcher, no tempo de [Pedro] Leão Velloso.

Chama a atenção para a necessidade de fortalecer o Partido Conservador nas localidades, especialmente em Monte Alegre, onde havia a influência liberal de [Aniceto Clemente] Malcher, tenente-coronel-comandante do batalhão.

Indaga se José Bento [da Cunha Figueiredo, futuro visconde do Bom Conselho], aceitaria a presidência da província e se haveria mudança no cargo de chefe de Polícia. Pede que intercedesse em favor do capitão José Thomaz da Silva, que solicitava melhoramentos de reforma no posto de major. Santarém, [Pará], 17/08/1868.

Duas cartas de Miguel Antônio Pinto Guimarães a Ambrósio Leitão da Cunha, futuro barão de Mamoré.

Agradece os esforços empregados para o despacho de José Tomás da Silva, bem como o emprego dado a seu recomendado, Teive. Diz que pouco podia dizer da política, cujo clima era de confusão; até aquele momento, não sabia o nome de todos os candidatos, apenas dos dois que se apresentaram, Freitas e Lobato. Felicita-o por ter sido escolhido para senador pela província do Amazonas.

Informa que estava aguardando ordens de José Bento [da Cunha Figueiredo, futuro visconde do Bom Conselho, presidente do Pará], que em sua opinião seriam no sentido de proteger sua candidatura ao Senado.

Apresenta o seu genro Amaral como candidato a deputado-geral e rogando a sua proteção. Informa que foi organizada uma lista com os nomes de [cônego] Siqueira, Fausto [Augusto de Aguiar] e [Antonio Francisco] Pinheiro.

Comenta que Olynto não aceitou a vaga de juiz de direito da comarca de Santarém; portanto, indicava o nome de Inocêncio Pinheiro Correa para ocupar aquele lugar ou para qualquer outra comarca. Santarém/Pará, 10 e 24/02/1869.

(Os documentos originais se encontram no Museu Imperial)

A biografia

MIGUEL ANTONIO PINTO GUIMARÃES nasceu em 8 de janeiro de1808 na Vila de Santarém, no Pará. Em julho de 1882 foi a Belém à procura de tratamento médico, chegando a pensar em ir à Europa. Acabou voltando a Santarém, onde faleceu dias depois.

Importante comerciante e chefe político em Santarém e no Baixo-Amazonas. Entrou para a política muito jovem, chegando à presidência da câmara municipal de Santarém por vária vezes até os anos de 1850. Deputado estadual pelo Pará de 1850 a 1870. Vice-presidente da província do Pará, exercendo à presidência em 1859, 1869, 1871 e de 1872 a 1873.

Proprietário de um imponente prédio em Santarém. No andar térreo funcionava o seu estabelecimento casa comercial. A residência ficava nos andares superiores. Proprietário de jornal Baixo-Amazonas, impresso em Santarém. Fazendeiro com casa-grande, engenho e senzala em sua fazenda Taperinha, onde tinha muitos escravizados. A casa-grande continua preservada até os dias de hoje representando a casa mais antiga da Amazônia.

Em 1867, ajudou a patrocinar a instalação de uns 300 norte-americanos sulistas da guerra de secessão a se instalarem no município de Santarém e na margem direita do rio Tapajós, no Baixo-Amazonas. Coronel Comandante Superior da Guarda Nacional, nomeado em 1852. Dignitário da Imperial Ordem da Rosa. Barão de Santarém, em 17-05-1871.

Existia no paço municipal de Santarém, em 1884, um quadro a óleo do barão pintado por Jean Langlois, pintor que teve um atelier à rua Santa Cruz, na cidade. O barão de Santarém era tio materno no barão de Tapajós, José Caetano Correia.

(Fonte: Contribuição de Priscila Bueno em pesquisas na Hemeroteca Nacional – http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx – em maio de 2020,
e de Antonio Manuel Scheliga na montagem da filiação de seu tio tetra avô, o barão de Santarém, em dezembro de 2021
).

Discussão

Nenhum comentário ainda.

Deixe um comentário