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Ciência, Ecologia, Estrangeiros, Governo

Pará aposta em Airbnb, vila provisória e cruzeiros para tentar vencer falta de mais de 30 mil quartos para COP30

O repórter João Gabriel, da Folha de S. Paulo, veio a Belém, a convite do governo do Pará, escrever esta matéria, publicada na edição de hoje do jornal paulista. Esse fato e o conteúdo da reportagem voltam a suscitar um questionamento, sobre o qual nem a ombudsman da Folha se manifestou: é possível escrever um texto realmente independente sob essa circunstância? Não seria muito melhor para a credibilidade do jornal custear a viagem do seu repórter; ou então desistir da pauta. Se o caixa da empresa está assim tão curto?

A matéria traz uma informação que o governo não forneceu: os 310 milhões de reais para embelezar a Doca virão de cerca de R$ 1 bilhão custeado com verbas de Itaipu Binacional, a fundo perdido. Outros R$ 2,3 bilhões são financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O restante, que poderá chegar a R$ 1,4 bilhão, é dinheiro do caixa estadual.

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Parte dos cerca de 32 mil leitos que, segundo autoridades do Pará, a cidade de Belém precisa providenciar para receber a COP30 (conferência do clima da ONU) deverão ser distribuídos em cruzeiros de luxo, uma vila provisória e aluguéis de Airbnb.

Esse é o plano atual do governo do estado para conseguir receber a cúpula das Nações Unidas, que acontecerá no final de 2025. Os gargalos de infraestrutura na cidade geram ceticismo entre diplomatas estrangeiros e até mesmo entre integrantes do governo Lula (PT) sobre a capacidade de Belém sediar o megaevento.

No total, o governo do Pará calcula que serão investidos de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões em obras de infraestrutura para a conferência —como drenagem e melhoria de canais.

Cerca de R$ 1 bilhão será custeado com verbas de Itaipu, a fundo perdido, R$ 2,3 bilhões virão de financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o restante, da gestão estadual.

Os organizadores do evento no Brasil calculam que a capital paraense pode receber até 50 mil pessoas. Atualmente, dizem, a cidade tem 18 mil leitos disponíveis. Para os demais necessários, buscam soluções como escolas e prédios antigos a serem adaptados e transformados em hotéis.

A capacidade pequena do aeroporto local também é um desafio.

“Estaremos aqui prontos, com as soluções peculiares da nossa região, sejam hotéis, sejam navios, sejam áreas que estarão adaptadas para bem receber [os visitantes], mas a certeza é que Belém estará pronta para receber a mais extraordinária experiência de COP já vivida”, afirmou o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).

Como mostrou a Folha, os questionamentos a respeito da capacidade da cidade de Belém para receber o evento fizeram com que o governo Lula colocasse na mesa a possibilidade de fatiar a COP, levando parte das reuniões para o Rio de Janeiro ou para São Paulo.

“Não existe qualquer possibilidade de mudança do calendário da COP30. A COP30 será em Belém do Pará, será a COP da floresta”, rebateu Barbalho, ao abordar o assunto.

A COP28, de 2023, em Dubai, foi a maior da história em número de pessoas, com cerca de 85 mil credenciados, e registrou um recorde de 154 chefes de Estado. O evento nos Emirados Árabes foi considerado de outra escala, principalmente pela infraestrutura e capacidade logística do local.

O patamar não deve se repetir em Belém, mas os organizadores ainda aguardam a conferência do Azerbaijão, a COP29, que acontecerá no final deste ano, para ter uma estimativa mais precisa de números.

A expectativa é que a COP neste ano reúna cerca de 60 mil pessoas.

Segundo o governo do Pará, na Cúpula da Amazônia, em 2023, a cidade de Belém recebeu aproximadamente 27 mil pessoas.

As projeções atuais para a COP de 2025 giram em torno de 140 autoridades do mais alto escalão —chefes de Estado, de governo e outros líderes mundiais.

A maior dificuldade será onde hospedar esse público e suas comitivas, que exigem acomodações de categoria A, com maior conforto, luxo e segurança.

Uma das principais alternativas é atracar cruzeiros na baía do Guajará, próximo à região das docas, que é um dos centros comerciais da cidade e onde devem ficar instalações com programação do evento, como o Porto Futuro.

A organização estima entre 7.000 e 12 mil leitos flutuantes, a depender da quantidade de transatlânticos que companhias privadas mobilizem. A vantagem é que muitas já dispõem de acomodações de luxo.

Por outro lado, atualmente o rio Guajará não comporta atracar navios tão grandes. Parte do R$ 1,3 bilhão que a usina de Itaipu destinou à COP30 será usada pelo governo do Pará para aprofundar o leito do rio e permitir que as embarcações ancorem ali.

O local fica a cerca de 20 minutos de carro do Parque da Cidade, onde devem acontecer as principais reuniões do evento.

Ao lado do parque, o Pará estuda construir a Vila COP, uma instalação provisória para cerca de mil pessoas, que depois pode ser adaptada para funcionar como escritório administrativo do governo estadual.

Também devem ser reformados três prédios antigos na zona portuária. Dois serão passados à rede de hoteleira Vila Galé, e o antigo prédio da Receita (que pegou fogo) foi cedido pelo governo federal para servir de hotel. Juntos, devem somar até 600 leitos.

Todas essas estruturas ficam dentro do que é chamado pelos organizadores de polígono da COP, área da cidade de Belém entre as docas, o aeroporto e o Parque da Cidade onde devem se concentrar os principais eventos da conferência.

A expectativa dos organizadores locais é que as casas de luxo que ficam em condomínios de alto padrão um pouco afastados dessa área também possam servir de hospedagem, via sites de aluguel por temporada.

Desde 2023, o governo tem parceria com a empresa de locação Airbnb. A ideia é ampliar a oferta de casas desse tipo —inclusive, para receber o público mais exigente do evento. Esses locais podem dar conta de suprir a parte dos leitos que não for possível conseguir com as outras alternativas.

A possibilidade da construção de hospedagens provisórias no estádio do Mangueirão não é descartada.

Caso seja necessário, a organização também avalia ampliar o polígono central do evento, espalhando mais os locais principais de hospedagem e de atividades.

Algumas agendas já estão previstas para acontecer fora dessa área principal. É o caso das reuniões da Aldeia COP, espaço em construção que deve ser destinado a debates relacionados a questões indígenas, no parque do Utinga. A UFPA (Universidade Federal do Pará) também pode ser um polo importante para debates científicos. ____________

O repórter viajou para Belém a convite do governo do Pará.

Discussão

3 comentários sobre “Pará aposta em Airbnb, vila provisória e cruzeiros para tentar vencer falta de mais de 30 mil quartos para COP30

  1. Ainda dá tempo de dividir o evento com Santarém e Manaus.

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    Publicado por pedrocarlosdefariapinto | 20 de maio de 2024, 10:00
  2. Inevitavelmente, vai ser fatiada, com sessões no Rio e São Paulo. Já é de prever que haverá muita desistência por falta de acomodação. A de 2023, em Dubai, como diz a reportagem, atraiu 154 chefes de Estado e teve 85 mil participantes credenciados.

    P.S. A essa indecência de repórter viajar com despesas pagas pela fonte eu chamo de Gratistur…

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    Publicado por SERGIO ROBERTO BUARQUE DE GUSMAO | 20 de maio de 2024, 16:46

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