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Cultura

Ah, a cultura!

A iniciativa mais contestada e que mais barulho provocou neste início de governo Temer não é, nem de longe, a mais importante delas: é a extinção do Ministério da Cultura. O MinC passaria a ser um apêndice do Ministério da Educação e Cultura, como foi durante muito tempo, inclusive, de forma eficiente, no período em que o agente executivo foi o Conselho Federal de Cultura, presidido pelo historiador amazonense Artur Cezar Ferreira Reis. Com apêndices importantes, como o Instituto Nacional do Livro.

O que dá peso a uma política cultural não é, necessariamente, o seu aparato institucional, mas a vontade e o sentido do fazer. Temer voltou atrás de voltar atrás com o MEC de origem. Agora quer criar uma secretaria para cuidar do tema, mas gostaria de entregá-la a uma lamentável ausência na sua equipe: uma mulher. As notáveis até agora procuradas disseram não ao convite. Porque gostariam de ter de volta o status ministerial?

O que está em causa na onda de protestos não é a política cultural do novo governo, que nem a possui, é verdade, inclusive por falta de tempo hábil para qualquer coisa que não seja embromação multicolorida. É a importância do cargo e sua jurisdição e poder. Quando trata de cultura, o Estado costuma ser um macaco em loja de louças: desastrado, incompetente, fisiológico, do compadrio.

Mas é o que a maioria dos artistas notáveis e imponentes quer: uma mamata estatal, uma fonte de recursos amiga, condescendente e compreensiva para a condição de artistas, da igrejinha ou da “tchurma”. Compensam a grana – preta ou mulata ou alva ou de qualquer cor, desde que sonante – com a adesão total, radical. Daí tanto artista falar tanta besteira e contribuir com tão pouco para a cultura nacional.

Os melhores mesmo são os que se mantêm independentes, ativos, críticos e cientes de que o Estado, em matéria de cultura, é um leviatã.

Discussão

42 comentários sobre “Ah, a cultura!

  1. Que perfeição de análise amigo Lúcio

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    Publicado por José Maria Souza | 18 de maio de 2016, 23:17
  2. O “novo” governo, até agora, tem se mostrado um desastre, não só no vislumbre da política para a cultura, mas em quase todas as áreas. Mas parece uma “gangue” do que uma equipe de governo, tal o nível de acusações que pesam sobre muitos deles; mas, pelo que noto, apenas a mídia alternativa tem se manifestado (além da imprensa estrangeira, como sempre). Há uma certa tentativa de abafar as decisões impopulares. Mas não é assim que se ganha legitimidade. O povo já não é tão ingênuo como muitos ainda julgam.

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    Publicado por Ricardo Condurú | 19 de maio de 2016, 09:46
  3. Mais parece (…)

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    Publicado por Ricardo Condurú | 19 de maio de 2016, 09:47
  4. Olha lá, seu Lucio Flávio…

    Andersonjor, no facebook

    Marco Feliciano chamar os artistas de vagabundo é esperado. Os fãs de Bolsonaro repetirem a bobagem de que o Ministério da Cultura serve para mamata de artistas famosos é só chover no molhado, mas LÚCIO FLÁVIO PINTO soltar uma dessa é sinal de que chegou a hora de fechar a baiuca e pedir pra ir embora.
    Em nota mal escrita, cheia de clichês e adjetivos mofados, o “grande repórter da Amazônia” mete os pés pelas mãos ou a mão pelos pés para justificar a extinção da pasta no novo governo Temer, ao qual ele vai sistematicamente apoiando, ainda que de forma desavisada, desde as primeiras notícias sobre o golpe – usa a tese da constitucionalidade para justificar uma ilegitimidade contra o voto popular.
    Falta ao Lúcio Flávio a vontade de apurar, antes uma marca de sua pena, e conversar com quem entende do riscado. E não adianta bater papo com quem leu um zilhão de livros, mas torce a boca e tapa os olhos para as ações que foram realizadas nos últimos 30 anos no setor. Há erros? Claro. Mas, não se conserta um equívoco extinguindo o canal entre o governo de plantão e a sociedade civil organizada.
    É difícil encarar a atual crise moral do país, quando o jornalista-referência, premiado, o cara que se gaba de escrever para História e não para os reles mortais contemporâneos, tem uma opinião mais superficial do que a do coronelão José Sarney, o criador do Ministério da Cultura, peemedebista e comparsa no golpe, ainda assim indignado com a medida do Temer.
    Muita gente venera Lúcio Flávio e sua quixotesca missão de carregar o estandarte da verdade, sozinho e isolado, em seu Jornal Pessoal. É bonito, é romântico, mas não abarca mais as narrativas que são engendradas todos os dias nas redes e nas ruas. Tem mais legitimidade e autoridade para falar sobre tal assunto o cidadão comum, diretamente afetado pelo problema e ciente da complexidade da porra toda, do que uma sumidade jornalística que vem arrotar (ou peidar) um texto só para fazer volume e dizer que está acompanhando o movimento.
    Jornalismo ainda é a humildade de ouvir, o que tem faltado nesse caso ao semi-deus da informação amazônica. Não quero acreditar que é a idade. Não quero acreditar que o Lúcio se contenta com as mesmas histórias que repete em palestras (que me lembre são a cruzada contra usina de Tucuruí, o golpe contra Allende e a morte do Paulo Fontelles).
    Não há heróis e, muito menos, intocáveis. E, ainda assim, se existir, parece que o de vocês guardou a capa e pendurou a chuteira e anda como uma preguiça danada de levantar a bunda da cadeira para ver o mundo de perto.
    Triste, mas sintomático dos nossos tempos.

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    Publicado por José Farias | 19 de maio de 2016, 10:23
    • Meu caro.
      1 – Será que basta uma divergência de entendimento para autorizar uma visão com essa entonação catastrófica? Ao invés de fechar a baiuca ( qual foi exatamente a que você abriu para a cultura?) e pedir para ir embora (pedir a quem?), não seria melhor considerar os argumentos do oponente e travar um debate pelo esclarecimento do distinto público?
      2 – Considero assunto vencido essa história do golpe. Só fanáticos, oportunistas e desavisados ainda a sustentam. Agora encontre no meu texto a defesa do fim do MinC. O que faço é propor questões. Fiz referência ao passado, com o Conselho Federal de Cultura e o INL (com sua excelente Revista do Livro). E perguntei se a questão é mesmo institucional ou de política cultural.
      3 – Infelizmente (falha da minha incapacidade de apurar os fatos, é claro) não conheço sua relevante contribuição à cultura do Pará. Mas sei um pouco do que fiz nestes 50 anos para ajudá-la, inclusive com textos meus incorporados a peças, como Ver-de-Ver-o-Peso, na sua primeira encenação, pelo grupo Experiência, tantos anos atrás.
      Sempre ouvi os artistas e tentei lhes ser útil. Durante esse período, Edyr Augusto Proença e Zê Charone estiveram à frente de um grupo teatral sem apoio do governo. Isso aumentou suas dificuldades e abreviou o seu fim. Mas não interferiu na qualidade do trabalho – dele e de muitos artistas e grupos artísticos independentes, autônomos e comprometidos com sua missão.
      4 – Vou ignorar essa sua escatologia rasteira. Não por ser contra mim. É por ferir a dignidade de um verdadeiro debate intelectual.
      5 – Pode acreditar no que você quiser. Você merece as crenças que tem. Quanto aos meus “causos”, por que não acrescentar ao ramerrão Jirau, Santo Antônio, Belo Monte, Carajás, Albrás, Alcoa, Vale, Tapajós e etc e tal. Agradeceria se você fizesse um guia temático e onomástico do Jornal Pessoal. Me ajudaria a não me repetir e a evitar o envelhecimento temático.

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      Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 23 de maio de 2016, 17:09
      • Caro Lúcio, a grosseria e a falta de educação são as companheiras preferidas da ignorância – a burrice é sempre presunçosa. Chama atenção que um texto tão arrogante, tanto no autoritarismo das premissas gratuitas como na grosseria das ofensas proferidas como se fossem conclusões, tente em um determinado momento aplicar uma lição de “humildade”, sugerindo que o arrogante é você. Isso sim é sintomático, não de um tempo, mas de uma mentalidade. De fato, cada um merece que as crenças que tem. Abraço.

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        Publicado por marcelovieiradias | 24 de maio de 2016, 08:04
      • Talvez nesse caso a ironia não seja adequada. Humildade faz muito bem. Só aprende quem a tem. Por isso, Dilma, como Geisel, nunca aprenderam. Mas não esqueceram o que aprenderam.

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        Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 24 de maio de 2016, 10:05
  5. Que tristeza ler uma pessoa tão esclarecida como você falando uma besteira dessas. O MinC é responsável por toda a cadeia produtiva da Economia Criativa.

    Nem vou entrar na importância simbólica do MinC, e na revolução que o programa Cultura Viva realizou numa construção de identidades e reforço de um ganho imaterial para a população em geral…

    Vamos falar de questão pragmáticas, como a importância da referência Economia Criativa no cenário atual. Vamos falar do fato que, enquanto o comércio global caiu 12% no auge da crise em 2008, o setor criativo cresce em galopantes taxas de 14%, que movimenta algo em torno de 1 trilhão de reais ao ano, no mundo todo.

    E estamos falando de uma “nova” economia (porque a gente bem sabe que de novo só existe mesmo o conceito) que está surgindo em sua essência colaborativamente e ousando questionar o deus-mercado. Uma cadeia produtiva que é mesmo muito negligenciada neste país, e que agora virou nota de rodapé num governo que não entende absolutamente nada de produção simbólica, de empoderamento e, veja bem, de estabilidade econômica. Basta analisar a importância deste segmento para a geração de empregos em outros países, e como seus índices ajudaram e seguem ajudando a dar um fôlego nos índices de desenvolvimento, ainda impactando nas relações sociais destes países.

    Fico realmente estarrecida em te ver repetindo frases de efeito que refletem uma ranço político tão tacanho, e ainda ecoam uma percepção completamente equivocada e conservadora da produção criativa nacional. “Artista é vagabundo”… ou pior, o “verdadeiro” artista vive de ar, de luz, de inspiração.

    Que decepção, viu?

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    Publicado por Sarah B | 19 de maio de 2016, 12:25
    • Prezada Sarah B
      Serguei Eisenstein escreveu um livro deslumbrante, infelizmente nunca mais reeditado (só a arte gráfica vale a compra). O título é Memórias Imorais. Nada a ver com sexo ou impudicicia. Foi o protesto de um dos maiores cineastas do mundo contra a interferência do Estado soviético na sua obra e na cultura russa (que precedeu de muitos séculos a revolução bolchevique e sobreviveu a ela). Eisenstein era revolucionário, era partidário da nova situação e queria colocar a sua arte a serviço da transformação social. Mas não queria um censor às suas costas nem um roteirista do MinC soviético lhe dando ordens. Queria participar dos novos tempos com a SUA arte, não com o nefando realismo socialista, a versão cultural do hipócrita socialismo real. Depois de fazer Outubro, Linha Geral e O Encouraçado Potemkin, Eisenstein fez Aleksander Nevski e, no cume da sua obra, Ivã, o terrível, obra atormentada e dilacerada de um gênio que o totalitarismo político encurralava e mataria. A imoralidade do título das memórias (de leitura permanente) é a ação estatal na arte.
      Quando você diz que um órgão estatal, seja de qual status institucional for, “é responsável por toda a cadeia produtiva da Economia Criativa”, eu me assusto: que tipo de economia criativa pretende criar esse artista subvencionado? Criatividade na gaiola, como cantantes passarinhos aprisionados ao alpiste do dono da gaiola?
      Sem querer desmerecer a decepção que lhe provoco, cara Sarah B. gostaria de lembrar que o mais artista dos vagabundos também, como Eisenstein, repudiou gaiolas de ouro. O verdadeiro grande artista é dessa estirpe.

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      Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 23 de maio de 2016, 17:21
  6. Olha, acho que para uma maior e mais ampla discussão, essa matéria do Globo ajuda a mostrar como é importante o Minc e qualquer outra similaridade. Dia desses um cara me falou que cinema não é trabalho, emprego. Enquanto esse tipo de visão persistir, fica complicado…

    http://oglobo.globo.com/economia/cinema-injeta-19-bilhoes-por-ano-na-economia-brasileira-mostra-estudo-inedito-13874048

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    Publicado por ismael machado | 19 de maio de 2016, 12:42
  7. Análise perfeita.

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    Publicado por Livio Rodrigues de Assis | 19 de maio de 2016, 15:19
  8. É isso mesmo, Lúcio. Parabéns!

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    Publicado por Frederico Guerreiro | 19 de maio de 2016, 17:40
  9. é mesmo decepcionante ler esse tipo de argumento neste espaço, Lucio Flavio. Uma pena!

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    Publicado por pauloandrenassar | 19 de maio de 2016, 19:36
  10. Lúcio, seu texto é ofensivo e nem de longe reflete o bom jornalista que és. ..o que houve?

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    Publicado por Mary Cohen | 19 de maio de 2016, 21:08
  11. Lúcio,

    Análise perfeita.

    Se a cultura é uma “indústria criativa”, tal como se fala, então ela precisa encontrar formas de se auto-sustentar que vá bem além da filantropia. Um empreendedor cultural pode fazer parcerias com outros empreendedores e produzir bons “produtos” e com isso pagar o próprio trabalho sem depender do governo.

    Sempre haverá o risco do produto não ser aceito pelo público, mas sem risco não há inovação. Acho que ao invés da Lei Rounet, o governo poderia conceder empréstimos do BNDES a juros decentes aos empreendedores culturais ou utilizar parcerias com os bancos privados para fazer o mesmo.

    Transferindo essa responsabilidade de fomentar a “indústria cultural” para o setor privado, o governo poderia focalizar melhor nos bens culturais públicos e na educação cultural lato sensu. Por isso, faz todo o sentido ter a cultura no MEC, pois é isso que falta: cultura na educação.

    Concordo com você que cultura passa primordialmente pela ampliação do gosto pela leitura. Com bibliotecas sucateadas e livros inacessíveis para a grande maioria, temos hoje uma geração que não consegue ler mais de uma página de um texto simples. Sem a apreciação pela manifestação cultural mais básica da humanidade (a leitura), como o jovem poderá apreciar outros tipos de manifestações culturais? Acredito que o país retrocedeu muito nas últimas décadas do ponto de vista cultural.

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    Publicado por Jose Silva | 20 de maio de 2016, 11:30
    • Muito bom José Silva. Assino e compartilho com essa sua lúcida análise. Isso é que é debater os temas no plano das ideias, como pontua muto bem o Lúcio Flávio Pinto

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      Publicado por José Maria Souza | 20 de maio de 2016, 19:40
    • Interessante o seu ponto, José Silva. Muitos artistas desistem de tentar apresentar o seu produto porque sabem que não terão público para isso. É préciso de fato educar o povo culturamente como acontece na Europa onde os alunos lêem de tudo e conhecem vários trabalhos artísticos. Há até o ensino de música, que por si só já faz uma diferença danada. Já vi vários meninos passando a escutar clássicos e vários outros tipos de música depois de entrarem pra escola de música. Unir ao Mec é uma ótima ideia.

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      Publicado por Everaldo | 22 de maio de 2016, 10:21
    • Outro ponto a se levantar é que muitos artistas se beneficiam de dinheiro público vindo de governantes locais. Fafá de Belém todo ano recebe seus 60 mil dos tucanos paraenses para cantar no Círio; temos outros cantores locais,cujo sucesso só se resume à Belém, que bajulam qualquer político que esteja no poder pra receber uma grana e não é à toa que só fazem músicas ufanistas falando de como “o Pará é maravilhoso” (tudo a ver com a propaganda tucana); e ainda tivemos o escândalo do início do ano no qual Jatene deu dinheiro para uma escola Paulista homenagear o Pará/máscarar seu governo pífio e essa escola ainda foi rebaixada. O Pará é só um dos muitos locais nos quais “o investimento em cultura” não passa de uma farsa. Nem vou falar no dinheiro que o governo investe nos dois medíocres times locais para não aumentar ainda mais a indignação.

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      Publicado por Everaldo | 22 de maio de 2016, 10:38
    • O piauiense, formado culturalmente no Pará, Mário Faustino era um poeta de vanguarda. Na hora de criar, não fazia concessões. A mesma atitude na crítica literária, que o levou a atacar (às vezes injustamente) um dos maiores poetas brasileiros, Carlos Drummond de Andrade. Esquecendo-se dos seus próprios conselhos, CDA já fazia versos sobre circunstâncias perecíveis. Alguns muito bons. Outros nem tanto, sem chegar ao soneto que o imenso Manuel Bandeira dedicou ao sindico do seu prédio, um coronel.
      Pois Mário dizia também que o artista, fazendo a arte que o seu corpo lhe dita, mesmo que seja incompreensível ao homem do seu tempo (como é a sina de toda verdadeira vanguarda), tem a obrigação, sobretudo num país como o Brasil, então tratado por subdesenvolvido, de preparar o público para entender e apreciar a sua arte. Tem que ser artista e agitador cultural (não quer dizer agitprop), extensionista da cultura.
      Por aqui, muito artista se atribui a suspeita condição de vanguardista e quer realizar seus experimentos com a garantia do dinheiro da viúva, se possível, sem devolvê-lo. A arte vira espelho de auto-reflexão e contemplação. Poucos vão às ruas atrás do público que não frequenta os espaços culturais sofisticados – e patrocinados. Mas há muitos dos que seguem o conselho de Mário Faustino, sem conhecê-lo. Parece que não recebem as cascatas de patrocínios do BNDES, da Petrobrás e da Caixa, que soltam dinheiro para a “economia criativa” e para a corrupção de políticos, executivos e burocratas. Mera coincidência?

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      Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 23 de maio de 2016, 17:35
      • Lúcio, veja o exemplo de Kleber Mendonça Filho. Há alguns anos, é apontado como um dos principais cineastas brasileiros, e seu último filme foi apontado como um dos melhores da seleção do Festival de Cannes que acabou de acabar, apesar de não ter saído de lá com prêmios. Mas, além de cineasta, Kleber também é crítico (já era, antes de tornar-se cineasta), programador do cinema da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, e programador do festival Janela Internacional de Cinema do Recife. Sua contribuição para o cinema em todos os níveis (formação de público, distribuição e divulgação de obras relevantes e produção autoral) é notável – não sou de Pernambuco, mas já estive em Recife e pude constatar isso, vendo salas de cinema cheias e gente debatendo cinema com propriedade. Kleber pode ser considerado um “agitador cultural” mais ou menos nos mesmos termos em que você classifica Mario Faustino, a quem admiro (acho até que o ultrapassa, guardadas as devidas proporções e contexto histórico) e, é preciso destacar, também mantém uma postura política sabidamente crítica, questionando decisões governamentais e projetos de poder. Depois do protesto que ele e a equipe do filme fizeram em Cannes (não vou entrar aqui no mérito do protesto em si, mas podemos fazer esse debate), passou a ser tratado por gente reacionária e mal informada como apenas mais um artista inútil e lambe-botas que fica mamando nas tetas do Estado – um lugar-comum já repetido à exaustão e ao qual você, mesmo não se referindo à pessoa que eu aqui menciono, lamentavelmente repete.

        Concordo que a postura de muitos artistas que querem apenas ter o Estado como salvaguarda para as suas “obras geniais”, e mesmo a ideia de uma suposta indústria criativa financiada quase que exclusivamente com dinheiro estatal, seja bastante questionável. Mas não podemos incorrer em generalizações a respeito do que está acontecendo no Brasil nessa área, como é o que parece ocorrer com o seu texto. Existem, sim, políticas públicas de cultura resultando em ganhos sociais efetivos, e há muita gente agitando a bandeira da cultura por aí, mesmo que a tal “mamata” não seja lá grandes coisas, muito longe disso. E os resultados só não são melhores porque os desafios são imensos. Ademais, cultura e educação, mesmo que se relacionem intimamente (nenhuma dúvida a respeito disso), diferenciam-se bastante em termos de agenda, no que tange à organização de políticas públicas.

        Enfim, mesmo respeitando o seu posicionamento (que siga mantendo sua postura independente!), creio que o seu texto passe longe de tratar, de maneira um pouco mais acurada, da questão da cultura. Mas que siga o debate. E melhoras na saúde!

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        Publicado por lucasschuina | 24 de maio de 2016, 02:51
      • Obrigado por sua solidariedade e suas ponderadas observações.
        Mas você está tratando da exceção, não da regra. Levante a quantidade de dinheiro que saiu da Petrobrás, BNDES, Caixa, Banco do Brasil et caterva e o retorno desse dinheiro público.
        Vejamos um caso extremo, Chatô, o rei do Brasil.
        O ator Guilherme Fontes recolheu oito milhões de reais (R$ 66,2 milhões em valor atualizado) pela Lei Rouanet para iniciá-lo em 1995. Só o exibiu, e muito limitadamente, 20 anos depois, numa carreira curta. Sua grande glória foi receber quatro prêmios do festival do ABC (por coincidência, reduto político e domiciliar de Lula), exclusivamente para funções técnicas. Nada de prêmio de filme, direção, interpretação ou equivalente.
        Em 2008 a hoje extinta Controladoria-Geral da União considerou irregular a prestação de contas e determinou que Fontes e seus sócios devolvessem aos cofres públicos R$ 36,5 milhões.
        Guilherme Fontes foi condenado a três anos, um mês e seis dias de reclusão por sonegação fiscal pela justiça Rio de Janeiro.
        A própria justiça poupou o ator de ser preso, em 2010. Sua pena foi convertida em trabalho comunitário de sete horas semanais durante os três anos da sentença original, além do pagamento de 12 cestas básicas de R$ 1 mil para instituições sociais no Rio. Ele recorreu da decisão.
        Em 2014, Guilherme Fontes foi mais uma vez condenado e teria que devolver R$ 66,2 milhões aos cofres públicos, além de pagar multa de R$ 5 milhões, o que não aconteceu. Na época, ele divulgou uma nota “aos amigos e aos fãs”: “lutarei contra toda e qualquer violência contra minha pessoa. E esta me parece ser mais uma”.
        Conhecida essa retórica, não?

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        Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 24 de maio de 2016, 10:04
  12. Grande mestre Lúcio, concordo integralmente com o texto, mas mesmo que discordasse não poderia deixar de passar aqui para externar a minha admiração pela tua coragem e coerência, de quem não submete a inteligência e leitura crítica da realidade às pressões de grupos organizados em torno de práticas e valores nefastos, inclusive os que pensam que a crítica só se aplica aos que estão “do lado de lá”, que o jornalismo é uma ação entre amigos. Uns oprimem com a força do dinheiro, outros com a desqualificação pessoal e bullying virtual em redes de internet. No mais, essa cultura da agressão e do desrespeito só demonstra como, no Brasil, à direita e à esquerda, a liberdade de expressão é um valor ainda não assimilado. Obrigado por mais essa aula.

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    Publicado por Marcelo Vieira | 20 de maio de 2016, 11:32
    • Caríssimo Marcelo.
      Vou acender uma vela para agradecer aos céus por ainda existirem pessoas justas e lúcidas como você. Ter leitores do seu padrão compensa as agressões que sofremos por acharmos que a verdade não cai do céu como o maná nem vem acoplada a uma liberação da Petrobrás ou do BNDES – ou do Itaú.

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      Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 23 de maio de 2016, 17:38
  13. Por um acaso, extinguir um ministério com dedicação exclusiva por motivo muito mais simbólico (direcionado aos reacionários) do que econômico, ajudaria a evitar um Estado “desastrado, incompetente, fisiológico, do compadrio” para com o assunto? Pra mim é bem claro que não. E esse me parece um argumento comumente usado por quem defende ou está passando a defender esse governo visivelmente (por telas de LED em altíssima definição) retrógrado. Argumento irmão deste: “Tem que acabar com esse MinC que serve só pra “artista” mamar nas tetas do estado e investir mais em saúde, segurança, blábláblá…” como se a eliminação de uma coisa resolvesse a outra. Quanto o que ocorre é, mais possivelmente, o oposto.

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    Publicado por Arthur Loureiro | 20 de maio de 2016, 12:19
  14. Leio os comentários por pura diversão, onde posso encontrar pérolas assim. “….. toda a cadeia produtiva da Economia Criativa.”
    O extinto MinC ( que já vai em boa hora) é quase uma Hollywood em produção…. rsrsrsr….

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    Publicado por Sou daqui. | 20 de maio de 2016, 15:39
  15. não que o ministério da cultura seja o de menos, lucio, porque: não é. mas concordo com boa parte do texto, embora os oportunistas sejam minoria: essa tchurma é de poucos e bons. o perigo é o poder de voz que têm, tais oportunistas, o que acaba de fato desvirtuando a causa e, nessa, artistas acabam virando massa de manobra. ocupar o minc é necessário, mas não só o minc e não só pelo minc. cultura não pode ser usada como moeda de troca na luta pela democracia.

    isso pra nem começar a falar nos X-9…

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    Publicado por caco ishak | 20 de maio de 2016, 19:22
  16. Achei um texto muito curto e opinativo, desta forma não avançaremos em posições fortes para a transformação do nível cultural brasileiro. Concordo que o sistema de compadrio e nepotismos são terríveis, mas um jornalista deve investigar os casos no qual o Minc é assolado por este problema. Todavia se continuarmos com um jornalismo opinativo sem dados materiais estaremos matando um paciente por está doente.

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    Publicado por Rodrigo Lima de Almeida | 21 de maio de 2016, 03:32
  17. Simplesmente, lamentável. Este texto talvez seja uma peça pregada pelo inconsciente, que é mais verdadeiro do que as atitudes deliberadas. No fundo, percebe-se, que o Sr. esconde sua natureza retrógrada e preconceituosa, e, pior, absolutamente ignorante. Sua visão rasteira e inócua – não apresenta qualquer reflexão sobre a questão – não merece qualquer esforço de diálogo, pura perda de tempo.

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    Publicado por Armando Sobral | 21 de maio de 2016, 09:49
  18. Muito bom Lúcio, concordo plenamente com você. Os críticos da extinção do MinC são simplesmente os defensores e beneficiários das benesses oferecidas aos militantes do governo incompetente e ineficaz do PT, que, diga-se de passagem, já foi tarde.

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    Publicado por SABINO JUNIOR | 21 de maio de 2016, 11:57
  19. Muito bem, Lúcio. Você deu sua opinião de forma civilizada, como sempre. Esses “artistas” é que não entendem…

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    Publicado por Naldo Araújo | 21 de maio de 2016, 17:47
  20. Caro Lúcio, só discordo do trecho em que você coloca que essa história de golpe é para fanáticos, oportunistas e desavisados. A defesa de que houve um golpe não é tão inconsistente assim, e também merece respeito, afinal, ela não está circunscrita a um pequeno grupo de alienados, mas ganha corpo entre pessoas esclarecidas e ilibadas no Brasil e no exterior. O episódio da gravação envolvendo Romero Jucá transparece sim, um conluio. Que venham novas revelações.

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    Publicado por Ricardo Condurú | 23 de maio de 2016, 22:51

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