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Economia, Estradas, Estrangeiros, Grandes Projetos, Política, Transporte

A China é aqui

O governo do Pará assinou, ontem, um memorando de entendimento com um grupo empresarial do setor ferroviário e um fundo financeiro, ambos da China, que estariam interessados na obra da Ferrovia Paraense. Sintomaticamente, a solenidade foi realizada na sede da embaixada chinesa, em Brasília.

Na ocasião, o governador Simão Jatene desdenhou de seus adversários políticos, dos críticos e dos pessimistas em geral. Mesmo a pouco mais de um ano do final do seu mandato, ele está acreditando numa empreitada de mais longa maturação, como dessa ferrovia, com 1,3 mil quilômetros de extensão e custo de 14 bilhões de reais, que se prolongará pelo mandato do seu sucessor, mas que iria transformar a área pela qual vai passar. Pode vir a transportar mais de 100 milhões de toneladas anuais, quase do tamanho da ferrovia de Carajás, com o maior trem de carga do mundo, operada pela Vale há mais de 30 anos.

Os estudos que o governo realizou, liderados pelo secretário Adnan Demachki (que chegou a ser apontado como candidato à sucessão de Jatene) e pelo senador Flexa Ribeiro, do PSDB, garantiria a plena viabilidade do projeto. Mas como a licitação ainda não foi aberta, o que não entendi é a natureza do memorando de entendimento com um grupo que pretende entrar no negócio. Não significa conceder-lhe vantagem sobre os demais ou eventuais interessados, quase uma pré-licitação?

O memorando, lavrado em território simbolicamente chinês, pode ser interpretado até mesmo como um bastão de revezamento: o governo já fez a sua parte e agora delegaria poderes a uma empresa do ramo, com seu suporte financeiro, e mais a premissa de inclusão da Fepasa (que já foi nome de ferrovia paulista) no programa de financiamento do governo chinês. Ou seja: todos os lados do bloco atados. Um jogo de cartas marcadas?

É bom não esquecer que a China tem a segunda maior rede ferroviária do mundo, depois dos Estados Unidos, com 140 mil quilômetros de extensão. Mas em se tratando de trens de alta velocidade, a sua é a maior rede do mundo, permitindo aos seus usuários rápida capacidade de deslocamento mesmo num país imenso, incomparavelmente mais rápidos do que no Brasil.

A China já foi muito além do seu território. No ano passado, sua indústria ferroviária faturou 90 bilhões de dólares no mercado internacional. Vagões de carga foram exportados para a França e a Inglaterra, e sucursais foram abertas na Áustria e na Inglaterra.

Com essa voracidade, o que se pode prever que acontecerá na Amazônia, ainda mais com as vantagens dadas pelos governos? Além de construir e ser dona das ferrovias, a China devolverá ao nosso país o minério de ferro ,de Carajás que compra na forma de trilhos, trens e vagões.

Vamos logo tratar de aprender chinês. O governador Jatene deve ter saído na frente.

Discussão

13 comentários sobre “A China é aqui

  1. A China já está em todos os lugares da Amazônia. Domina o Equador, Peru, Suriname e Guyana. Está aumentando a influência na Colômbia e Bolívia. O país usa varias estratégias para garantir que estes países forneçam o que o país precisa para manter a sua grande máquina funcionando. A diferença agora é que a China quer ficar limpa. Desta forma, transferirá uma parte grade de suas indústrias sujas e consumidoras de energia para outros países. A China está investindo muito na sua indústria baseada no conhecimento. Enquanto isso, continuamos na mediocridade do extrativismo e do ruralismo arcaico.

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    Publicado por Jose Silva | 30 de novembro de 2017, 00:09
  2. Quer dizer Lúcio, que você acha que o Brasil pode construir ferrovias e o Pará não pode
    Quer dizer que não podemos ter ferrovia pra escoar a produção do Sul do Pará que se sentem abandonados?
    Quer dizer que o povo de Redencao, Xinguara, Santana do Araguaia não podem ter o privilégio de pegar um trem pra vir aqui pra Belém?
    Você Lúcio que se diz um jornalista de primeira linha deveria estar questionando é a ferrograo que vai ser construída pelo governo federal dentro do Pará, rasgando as florestas paraenses somente pra escoar a soja do Matogrosso pelo Pará e nem passageiros ela vai transportar
    Marcos Roberto

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    Publicado por marcos-pgm@hotmail.com | 30 de novembro de 2017, 06:25
    • Onde eu escrevi que sou contra o Pará construir ferrovia? O que observei foi que o Pará está se preparando para entregar a ferrovia à China, que para cá mandará financiamento, trilhos, locomotivas, vagões, trabalhadores e sua hegemonia. Sou contra ferrovias que servem apenas para escoar commodities para o exterior, sejam elas federais ou estaduais.

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      Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 30 de novembro de 2017, 10:19
      • Qualquer obra de infraestrutura isolada sem fazer parte de um sistema integrado que visa apoiar uma visão explícita sobre o desenvolvimento do estado está fadada ao fracasso. O Jatene tem uma visão (municípios sustentáveis), mas não tem um plano claro sobre como transformar esta visão em realidade. O plano precisa ter metas claras de desenvolvimento humano nas varias escalas espaciais. Isso, infelizmente, nunca foi apresentado. Como tudo no Para, é mais um tiro no escuro, cujas consequencias positivas são sempre superestimadas e as consequências negativas subestimadas.

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        Publicado por Jose Silva | 30 de novembro de 2017, 11:00
  3. Lúcio, chegou a hora do imperialismo chinês? Nossa vocação é ser colônia, só alternando a metrópole?

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    Publicado por Alan | 30 de novembro de 2017, 08:11
    • Pelo heito, Alan, vamos sentir saudades dos imperialismos anteriores.

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      Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 30 de novembro de 2017, 10:20
      • Até o momento a China não mostrou nenhuma preocupação social e ambiental com os países que recebem os seus investimentos. Também pudera: o objetivo não é gerar qualidade de vida nos lugares onde eles investem, mas sim extrair r3cursos baratos para manter a máquina que sustenta mais de um bilhão de pessoas.

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        Publicado por Jose Silva | 30 de novembro de 2017, 11:03
  4. Ora o projeto da ferrovia faz parte do Pará 2030 que visa a industrialização do Estado
    A ferrovia vai trazer até o Porto produtos onde termina área retroportuaria que será o distrito industrial onde se concentraram a os alimentos que se transportará
    Claro que parte vai ser exportada
    Quanto a questão social e ambiental desde 2015 está sendo feito o EIA RIMA e através dele se protegerá a questão ambiental
    Repito Lúcio, essa região da ferrovia do Pará quase não tem mais floresta, o impacto vai ser pequeno
    Mas eu não vi uma linha sua até hoje sobre o imperialismo do governo federal que vai rasgar 800 kilometros de florestas do Pará através da ferrograo somente pra fazer do Pará corredor de passagem pra exportar a soja do Matogrosso
    Acorda Lúcio

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    Publicado por marcos-pgm@hotmail.com | 30 de novembro de 2017, 13:28
    • Marcos,

      Dois coimentários:

      1. EIA Rima não garante que as questões sociais e ambientais serão tratadas. Há inúmeros casos no Pará que demonstram o contrário.

      2. A região da ferrovia ainda tem floresta, pouco mas tem. Em uma região de escassez de florestas, qualquer impacto pode ser enorme para a biodiversidade e serviços ecossistêmicos. Porto, as ações ambientais e sociais deveriam vir antes da cojnstrução da ferrovia.

      3. Industrialização concentrada não resolve o problema do estado. É preciso sim ter clusters de indústrias, mas no interior. Novamente, a ferrovia é mais uma obra isolada e não parte de um programa coerente de desenvolvimento sustentável de longo prazo para a região.

      4. Quais os produtos (commodities) que serão transportadas? Onde serão beneficiadas? Quais os mercados que pretendem atender? Qual o custo-benefício para o estado? Do eu ponto de vista, estamos dando mais um passo para reforçarmos a importância do velho extrativismo/ruralismo que sempre dominou a economia paroara.

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      Publicado por Jose Silva | 30 de novembro de 2017, 13:49
    • SDe você se der ao trabalho de ler posts anteriores, vai ver que eu não durmo em serviço.

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      Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 30 de novembro de 2017, 15:55
  5. Dizer que uma ferrovia causa impacto ambiental é menosprezar nossa inteligência
    A ferrovia paraense que passa em áreas já alteradas no passado vai tirar milhares de caminhões da estrada e só o que vai deixar de emitir de CO 2 já justificaria sua aprovação de forma ambientalmente correta
    Agora a Ferrograo vai derrubar milhares de árvores do Pará para transportar soja do Matogrosso. E aí Lúcio? Nem uma linha? Você prefere o imperialismo dos mato-grossenses sobre os paraenses?
    O dinheiro da ferrovia da Vale talvez vá pro nordeste. E aí Lúcio. Nem uma linha? Cadê seu brado? Cadê sua indignação?

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    Publicado por marcos-pgm@hotmail.com | 30 de novembro de 2017, 18:13
    • Registrada em numerosas matérias aqui, no JP e no blog Valeqvale. Ao invés de atacar sem fundamento, devia ir atrás dos textos. Muitos deles escritos desde muitos anos atrás.

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      Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 30 de novembro de 2017, 18:40
    • Marcos,

      Você não está correto. Emissão de carbono é somente um dos impactos ambientais a serem considerados. Espécies ameaçadas, efeitos sobre os rios, erosão, etc, etc, são também tão importantes quando. Além disso, há os vários problemas sociais, incluindo, por exemplo, conflitos por terra.

      No caso da Ferrogrão, o governo já criou unidades de conservação ao longo da possível ferrovia. Estas unidades, se bem manejadas, minimizam o impacto ambiental. O problema lá é causado por alguns parlamentares do partido do proprio governador que trabalham forte para reduzir as unidades de conservação para abrir novas áreas para agricultura para os empresários…matogrossenses.

      Uma ferriovia pode até ser uma boa idéia. Entretanto, todas as medidas de precaução social e ambiental deveriam ser tomadas antes da construção da ferrovia. Infelizmente, o Jatene ficou 8 anos e parece que não fez nada neste sentido. Basta olhar os dados de desmatamento e os dados sociais dos municipios no entorno da ferrovia.

      Creio que faltou uma visão clara para o desenvolvimento do Pará.

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      Publicado por Jose Silva | 30 de novembro de 2017, 19:03

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