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Fronteira, Internacional, Política

O risco da diplomacia de Lula

Em 2009, no início da reunião do G20, em Londres. o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva era o “político mais popular da Terra”. Era “o cara!”. A exaltação aconteceu no último ano do segundo mandato de Lula. Não houve muito tempo para aproveitar o entusiasmo do primeiro presidente americano da América racista (no Brasil, país de miscigenação, ainda não houve nenhum).

Parece que Lula, no seu terceiro mandato, decidiu capitalizar esse patrimônio, avalizado por Obama, para se tornar personalidade mundial e, quem sabe, conseguir um Prêmio Nobel de Paz como interlocutor e intermediário do agravado conflito entre palestinos e israelenses, deflagrado pelo ataque do Hamas. Em 75 dias do primeiro ano ele visitou 24 países, entre Estados Unidos, Europa, Ásia e África.

Os tropeços nos pronunciamentos de improviso e nas entrevistas coletivas, a aura do destino manifesto de grandeza de lula começou a dar a impressão de que a nova roupa brilhante do político brasileiro se desfazia, ameaçando desnudá-lo, como na fábula de Hans Christian Andersen. O pior é que à falta dos dividendos, que Lula esperava conseguir nas praças internacionais, se somou o desgaste interno, com a sensível perda de popularidade, o calcanhar de Aquiles do líder popular.

O presidente foi à cata da recuperação armado com o seu carisma e simpatia, e improvisando, com apelação ao sagrado da massa e atendendo ao antiintelectualismo do próprio Lula. Talvez consiga fazer a curva da aprovação voltar a subir, a um alto custo financeiro e econômico. Sob ameaça maior está o conceito internacional do presidente. Não mais no mundo inteiro, no qual as grandes questões, agora na pauta das grandes potências, o marginalizaram, mas no continente.

Lula engoliu cobras e lagartos, vestiu saia justa, calçou sapatos de salto alto com pedrinha dentro, e outros inconvenientes e vexames, tentando ser o árbitro do principal conflito em curso na América do Sul. Aparentemente, o duelo, ameaçando descambar para uma guerra aberta, é entre a territorialista Venezuela e a ex-colõnia inglesa. Retirada do sono subdesenvolvido pela descoberta e exploração de novas fontes de petróleo em seu litoral, com a participação de empresas estrangeiras.

O presidente Nicolás Maduro jogou fora s cartas de amor trocadas com Lula, ignorou os compromissos assumidos publicamente e retomou as iniciativas que não deixam dúvida sobre o seu propósito, de incorporar à Venezuela o Essequibo, a região mais rica em terra que tem a Guiana. Pode servir tanto à farsa eleitoral que ele montou para conquistar mais um mandato como para compensar as péssimas condições devida que firam sete milhões de venezuelanos emigrarem em uma população que era, até então de 28,3 milhões de habitantes, o maior êxodo continental.

O cenário desse conflito não é mais apenas regional, em cujo tabuleiro a diplomacia brasileira fundada pelo barão do rio Branco pontificou, garantindo a pacífica delimitação das fronteiras brasileiras. Na retaguarda já se posicionam as três maiores potências: Estados Unidos, Rússia e China. Todas três possuem objetivos geopolíticos em consolidação e interesses comerciais, econômicos e financeiros concretizados.

Os EUA deram, ontem, o passo mais largo para assumir uma posição pública, algo parecido à atitude de 60 anos atrás, com Cuba, ao decidir retomar o bloqueio à comercialização de petróleo pela Venezuela, detentora dos maiores depósitos mundiais, o que a distingue, dando-lhe maior poder, da Cuba açucareira.

No entanto, atrasada em tecnologia e capital em relação à neófita Guiana, que as grandes empresas petrolíferas estão dispostas a apoiar para enfrentar o vizinho cobiçoso, mas em situação delicada. Esse tensionamento deve se estender a outros países, principalmente à Colômbia, onde Lula esteve, exatamente ontem. Se conseguir ver, perceberá que sua maior contribuição em matéria internacional foi enfraquecer e esvaziar o papel secular da competente diplomacia brasileira. Aliás, hoje, ex-competente.

(Publicado no site Amazônia Real)

Discussão

7 comentários sobre “O risco da diplomacia de Lula

  1. Está cada vez mais claro que esse governo está se aliando ao eixo do mal articulado contra as democracias (liderado por Rússia, China e Irã). É fácil de exemplificar com dezenas de casos (Israel-Hamas/Irã, Guiana-Venezuela), sobre os quais Lula mente desbragadamente. Isso posto, vem a questão: como nós devemos se comportar diante dessa situação grave?

    O rei Lula está nu, mas ele se recusa a reconhecer sua própria nudez. Pior, quer que os outros finjam que estão vendo o presidente vestir sua roupa mágica.

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    Publicado por igor | 18 de abril de 2024, 18:05
  2. Não há como ler este texto e imediatamente não se articular a mesma coesão textual a outros “reis e roupas” do cenário político atual, como o governador Helder Barbalho em busca de notoriedade ambiental pelo estrangeiro.

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    Publicado por J.Jorge | 18 de abril de 2024, 18:50
  3. Uma das estrategias da direita e patetas em geral é essa associação ao presidente Lula as tais ditaduras ( TODO O SILÊNCIO DO MUNDO AS DITADURAS CHEIA DE PETRODÓLARES DO GOLFO PÉRSICO CATAR, EMIRADOS ÁRABES, KUWAIT, INCLUSIVE O CAMPEONATO DA FIFA DE 2034 SERÁ NA DEMOCRÁTICA ARÁBIA SAUDITA, REPITO: DITADURAS COM PETRODÓLARES…SILÊNCIO.) Enquanto isso o presidente está pavimentando com políticas públicas a sua vitória em 2026 com as massas trabalhadoras.

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    Publicado por José | 19 de abril de 2024, 09:33
  4. No imbroglio Venezuela vs Guiana, o Lula está afinado com a atuação profissional do Itamarati. O próprio governo da Guiana já deu declarações formais elogiando a conduta do Brasil.

    Na questão Israel vs Hamas, de bate-pronto, Lula foi duramente crítico em relação à conduta do governo israelense, de extrema-direita. Os EUA, que no início, apoiavam o governo israelense incondicionalmente, agora passaram a adotar um posicionamento crítico, mais próximo do Lula do que dos EUA, há alguns meses E hoje, há um poderoso grupo de pressão do Partido Democrata americano, que trabalha abertamente pela realização de eleições em Israel. O objetivo — claro! — é descartar o atual governo, de extrema direita, que fracassou no quesito segurança.

    Na visita de Lula à Colômbia, tá na cara que o prato principal é a perda de força da esquerda e do centro-esquerda na América Latina, e a evidente ascensão da extrema direita. Os resultados obtidos pelo governo de extrema direita em El Salvador, no combate à violência, certamente que repercutirão politicamente em toda a América Latina, numa escala até aqui desconhecida. Lula tenta se opor a isso, e seu aliado natural na região é o presidente colombiano, de esquerda.

    Quem acha que a política externa do Lula é improvisada… tá é doido! Olha e não vê…

    Política externa é a praia dele. Creio até que mais do que a interna.

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    Publicado por Elias Granhen | 19 de abril de 2024, 11:14
    • O Lula tem mostrado duas coisas: primeiro um impulso descontrolado e que não é só em casos de improvisos; depois do impacto negativo na imprensa internacional – que se diga para ele e para nós; depois que os “bombeiros” começam a tecer explicações para aparar o tanto quanto possível as arestas, aí ele se recolhe e até repete fragmentos das besteiras que disse nos dias anteriores, agora enxertados com definições que ora amenizam, ora tornam a coisa “diferente”, nem que seja só para ele mesmo.

      Se existe algum brasileiro muito parecido comigo, este brasileiro vai achar que estes discursos são totalmente inúteis, onerosos e desnecessários. Ser de esquerda é como usar de um pensamento que, com certa moderação (não muita) aqui dentro funciona muito bem para arbitrar os interesses de lobos e cordeiros; incluindo até mesmo o MST.

      O Lula tem coisas mais importantes para fazer no plano interno. As recentes reformas trabalhista e previdenciária foram muito além do necessário; foram escorchantes para os cordeiros, apenas para expandir as desonerações de impostos e contribuições dos grandes lobos. Virou regra entre governadores e presidentes a promiscuidade total de captar dinheiro (e dinheirinho) para si e para o caixa 2 dos partidos aliviando as obrigações dos grandes empresários.

      Lula precisa tecer uma maioria no congresso em 2026 para então ter condições de estancar esta hemorragia no caixa da previdência. Não é arrumando encrenca toda hora que ele vai chegar a este objetivo.

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      Publicado por J.Jorge | 20 de abril de 2024, 08:52
  5. Lula viu como nós o capitalismo americano é a era 64. Acreditou numa alternativa, pouco compreendida, já poucos compreenderam Hélder, que espantou Tobias Barreto, e sem ele o marxismo seria, na verdade não seria, nem faria o barulho e o estrago que fez. Lula aposta no que sobrou dessa alternativa, hoje via Brics. Uma esperança? Não, não é. Mas ele não vê, nem verá outra. Mas encher a boca de paz e apoiar um fazedor de guerras, um homem que invade e incentiva o estupro no país invadido, é ser hipócrita, é ser cúmplice dessa realidade horrível. E ele sabe como todo populista, falar de uma realidade, enquanto os outros vivem noutra bem diferente.

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    Publicado por Paulo | 20 de abril de 2024, 02:20
  6. Herder.

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    Publicado por Paulo | 20 de abril de 2024, 02:21

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