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Cultura, Memória

Cabanagem: ingleses não mandaram arriar a bandeira brasileira

Os ingleses nunca tentaram obrigar as autoridades brasileiras a arriar a bandeira do país, quando três navios de guerra foram enviados ao Pará, em busca de providências para identificar e punir os cidadãos que assaltaram o navio mercante inglês Clio, em Salinas, matando toda a tripulação, à exceção de um grumete.

Na verdade, ocorrera uma insólita confusão, quase cômica. Ao entrar na baía do Guajará, o tripulante da nau capitânia da expedição, a fragata Belvidera, foi inquirido pelo comandante da fortaleza da Barra, situada em frente a Belém (que viria a ser destruída posteriormente pela explosão do seu depósito de munição) sobre a denominação da embarcação. O comandante da fortaleza, ao ouvir Belvidera, entendeu que lhe fora dada a ordem de baixar a bandeira.

A fonte dessa informação é uma carta publicada originalmente no jornal inglês Gore’s General Advertiser, traduzida pelo Jornal do Commercio, de Recife, de 10 de agosto de 1836. O documento relata a chegada ao Maranhão de dois envolvidos no massacre da tripulação do navio inglês.  E esclarece o episódio citado, envolvendo o suposto pedido dos ingleses para arriar a bandeira, informando que tudo não passou de um mal-entendido, que certas fontes historiográficas mantêm até hoje.

A preciosa informação foi obtida por Ricardo Conduru, infatigável pesquisador do tema, para o seu blog Cabanagem Redescoberta, uma das principais fontes de consulta sobre esse capítulo decisivo da história do Pará e da Amazônia – e do Brasil.

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“Do Gore’s General Advertiser traduzimos o seguinte artigo:

Extrato de uma carta do Maranhão, de 18 de abril de 1836.

O brigue de guerra inglês Snake aqui chegou semana passada, trazendo a seu bordo o americano Priest e um juiz de paz, ambos envolvidos na tomada e assassínio da tripulação do brigue Clio. O presidente exigiu que fossem entregues às autoridades, prometendo mandá-los para o Pará, a fim de serem processados, ou fazê-los sentenciar aqui mesmo. A fragata Belvidera, e os rigues Snake e Despatch foram mandados de Barbados com o destino de agarrá-los, e logo que chegaram ao Pará obtiveram uma ordem do presidente Eduardo [Angelim] para esse fim. Excitou-se grande clamor contra os ingleses por terem rompido o bloqueio, e dizia-se mesmo que tencionavam tomar posse da cidade, e que tinham mandado arriar a bandeira brasileira na ocasião de entrarem no porto; mas esta última asserção teve origem em um engano. A fragata, ao entrar, passou perto da fortaleza [da Barra], e dali lhe perguntaram como se denominava; responderam-lhe Belvidera, que o comandante da fortaleza metamorfoseou em arria a bandeira, e a cuja suposta ordem imediatamente obedeceu. Por este motivo foi preso e acha-se a bordo da Campista.

Discussão

2 comentários sobre “Cabanagem: ingleses não mandaram arriar a bandeira brasileira

  1. Falando de navios de guerra, veja só a carta do comandante da Marinha sobre o PL que quer transformar o líder da Revolta da Chibata, João Cândido em herói da pátria transcrita num artigo de Mario Sabino abaixo:

    https://www.metropoles.com/colunas/mario-sabino/a-carta-do-comandante-da-marinha-contra-tratar-subversivo-como-heroi

    Lúcio, olhando esse fato, na sua opinião, quem tem razão? O comandante da Marinha ou o deputado que quer transformar João Cândido em Herói da Pátria? Para o senhor, João Cândido deve ser tratado como herói ou não?

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    Publicado por igor | 26 de abril de 2024, 15:00

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