Devassa em Ananindeua: é técnica ou política?

A prestação de serviços de saúde tem sido uma constante fonte de desvio de dinheiro público. A privatização dessa atividade vital, antes exercida principalmente pelo Estado, agravou a corrupção, com ênfase no Pará. Dos 24 hospitais construídos e mantidos com verbas públicas, 21 foram transferidos à iniciativa privada, através de contratos de gestão. Para acessar essa fonte de dinheiro, as empresas adotaram a forma jurídica de Organizações Sociais de Saúde, alegando serem entidades sem fins lucrativos.

Têm sido constantes e múltiplas as denúncias, mas nas últimas semanas elas passaram a se concentrar no Hospital Santa Maria. Os jornais Diário do Pará e O Liberal já publicaram várias matérias, ambos com as mesmas informações, denunciando um esquema de corrupção que, segundo o Diário, atingiu 261 milhões de reais entre 2019 e 2023.

No período, o prefeito de Ananindeua, Daniel Santos, que também é médico, era um dos donos desse e de outro hospital no município, o segundo em população do Pará. Não por coincidência, o noticiário eventual sobre as irregularidades se tornou numa campanha intensa dos dois maiores jornais do Estado quando o prefeito deixou o MDB, dominado pela família Barbalho, se transferiu para o PSB e se desvinculou do esquema oficial para. eventualmente, se tornar candidato ao governo em 2026.

Hoje, o Ministério Público do Estado desencadeou uma grande ofensiva em Ananindeua, Belém e Santa Izabel. Com autorização judicial, executou bloqueio e sequestro dos bens dos investigados, apreendeu documentos e conseguiu o afastamento de servidores apontados como participantes do desvio de dinheiro para o hospital.

O Liberal não deu o nome do prefeito, que o Diário citou como o principal beneficiado pelas irregularidades. Em compensação, o assunto ocupou a manchete de capa do jornal da família Maiorana. Já o MPE não incluiu o principal fato do dia no seu boletim diário, que foi ao ar com 12 notícias.

Esses detalhes levam à dúvida maior: a devassa vai se estender à rede de hospitais ou ficará circunscrita ao hospital do prefeito dissidente?