A jornalista Socorro Costa, minha cunhada, é casada com meu irmão, Luiz Pinto, que foi editor gráfico do Jornal Pessoal como dos meus livros. Apesar do elo de parentesco, a mensagem que a Socorro me mandou me emocionou muito. Por isso, me permiti a liberdade de partilhar o seu texto cm meus leitores.
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Lúcio, bom dia!
Li ontem teu desabafo doloroso, sob vários aspectos. Dá para ver o formato da tua decepção, do desalento diante da percepção de falar e não ser ouvido; de gritar e não reverberar; de explicar e não ser entendido; de informar e ser ignorado.
Tua dor – com fortes tons de revolta – é totalmente compreensível. Revolta não com a profissão que atravessou o portal da sobrevivência e se tornou missão de vida. Todo o teu relato é referendado pela certeza de que o jornalismo é, e sempre será, a tua estrada, a tua escolha, o teu farol. Não há motivos para arrependimento. Tua trajetória é única, linear, referência de profissionalismo, competência, determinação e ética, acima de tudo.
Essa Amazônia grandiosa e mítica, que abriga populações há séculos exploradas, vilipendiadas, manipuladas e esquecidas, só tem a te agradecer. Se chegarmos ao ponto da história em que restem apenas uma árvore e um caboclo nesse pedaço de mundo, com certeza eles ainda estarão ali porque houve quem os defendesse. Entre as armas desse pequeno exército – com ares e ímpetos de brancaleone da floresta -, estarão, com certeza, teus milhares de textos, escritos com a chama da sofreguidão só presente naqueles que lutam por mudanças.
A Amazônia, e o planeta, te devem gratidão eterna.
Infelizmente, como nem tudo é verde, e muito menos florido, pagas um preço alto por te entregar a esse ideal. Pagas, com juros escorchantes, o preço da coerência. Tua pretensão nunca foi ser herói; apenas coerente com aquilo que acreditas. E isso é insuportável para quem se “ajusta” aos mais estranhos e desengonçados padrões. Teus inimigos – a maioria sem estofo moral e intelectual para sustentar uma conversa de três minutos contigo – se recusam a aceitar que é possível atravessar a existência terrena sendo coerente, ético e sem deslumbramentos com riqueza e poder.
A essa altura da vida, alquebrado por doenças e decepções, ainda enfrentas o dilema diário – que para um jornalista é ainda mais crucial: fechar este livro e abrir outros, com leituras mais amenas, que te conduzam a outra estrada com menos curvas e sobressaltos.
Acredito que sempre é tempo de refletir sobre as palavras de Carlos Drummond de Andrade:
“Arrume a sua casa todos os dias… / Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo para viver nela… / E reconhecer nela o seu lugar.”
E arrematar com a doçura de Cora Coralina:
“Recria tua vida sempre, sempre. / Remove pedras e planta roseiras e faz doces. / Recomeça.”
Lúcio, viver não é fácil. Tua trajetória reitera esta constatação. Mas te permite não afundar na amargura, nas dores, na desesperança. Tua vida e teu legado são essenciais.
Se já não é possível navegar pelos mares bravios, deixa a canoa da vida deslizar pela mansidão dos igarapés.
Daqui, eu e Luiz só reiteramos nossa total gratidão pelo teu jornalismo, pelo teu exemplo, pelo ser humano Lúcio Flávio de Faria Pinto.
Forte e fraterno abraço,
Socorro Costa e Luiz Pinto
Carregado de muito emoção!
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