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Política

O piloto, cadê o piloto?

Gente ruim, medíocre, arrogante, venal e desonesta ocupa os palácios, as residências, os aviões, os carros e todo ativo oficial – seja federal, estadual ou municipal. Além de usar e abusar de mordomias e nepotismo, mete a mão no dinheiro público sem o menor pudor ou receio. Com uma audácia que faria a corte de Luís XVI parecer republicana. Gasta como se fizessem parte da corte sideral de um rei colocado no posto pela mão divina. E criaram um mundo de fantasia que, como uma bolha impenetrável, os isola da realidade, do dia a dia de trabalho e sacrifício, ou de renúncias e carências do homem comum, do cidadão que vai à luta para sobreviver.

A crise econômica tem solução. Os brasileiros não só acreditam nela como fazem a sua parte cotidianamente, numa rotina que resiste à expansão do desemprego, à queda do valor da renda, ao desaparecimento dos clientes, ao encolhimento dos negócios, ao crédito oferecido com taxas de agiotagem, às relações de troca desiguais, às incertezas, que causam imensa preocupação, mas não desânimo. O brasileiro comum é um forte, exceto na hora de votar.

Pode-se discordar e até abominar algumas das propostas que o governo, sem autonomia (felizmente) para decidir tudo isoladamente, propôs a um parlamento corrupto, desidioso, relapso, preguiçoso e incompetente, Ele é a pedra no meio do caminho da recuperação da marcha batida que o Brasil precisa adotar para se recompor e voltar a embalar num ritmo adequado às suas carências, em sintonia com suas potencialidades. Mas é pior sem ele, fechado à base de baionetas nada caladas, como é usual no Brasil.

O maior problema é agora o político, o que não devia ser, já que seu motor é a vontade o desejo, a disposição de fazer. Temer repete Dilma: demite um ministro atrás do outro, a cada nova crise, provocada por denúncias de malfeitos. Para Dilma eram até proveitosas as defecções: assim ela se livrava da influência dominante e já opressiva de Lula. Mas lhe faltava o talento do antecessor para criar sua própria base de sustentação no Congresso. Arrogante autoritária e com o vezo de sabichona, ela cavou o buraco no qual se afundou.

Já Temer. raposa passada na casca de alho, achou que bastava esperteza, relações públicas e espírito de corpo para ir levando os problemas na flauta, indiferente à urgência de atos concretas para estancar as hemorragias financeiras do país. Esqueceu que lhe falta a condição necessária para essa postura: a condição de chefe. O Brasil entrou no redemoinho encapelado, como na imagem de Guimarães Rosa sobre o sertão. Endemoniado, pois.

Discussão

10 comentários sobre “O piloto, cadê o piloto?

  1. Sabíamos que o Temer não era um líder. A esperança é que ele fosse um Itamar, que fizesse uma transição tranquila para o novo presidente eleito. Infelizmente ele é incapaz de fazer isso, pois se cercou por algumas das figuras mais nefastas da república brasileira. Rejeitou a regra número um de um bom gestor: selecionar as melhores pessoas, empoderá-las, e cobrar resultados concretos.

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    Publicado por Jose Silva | 26 de novembro de 2016, 20:27
  2. Pinto, a situação do golpe é muito pior do que apenas esse debate de entrar e sair ministros que já há muito tempo já são conhecidos seus malfeitos. Temer foi empossado para cumprir a agenda neoliberal nua e crua. Estou esperando com muita disposição para o debate uma análise mais profunda sobre a pec 55, o decreto sobre a reforma do ensino médio, previdência e trabalhista. Esses são os temas da ordem do dia que poderia ser melhor explorado. Estamos em ocupação da Universidade contra a pec 55 que vai ser votada no senado. E aí, vai debater?

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    Publicado por roni | 27 de novembro de 2016, 12:22
    • Já escrevi a respeito, Roni. Disse que nao se pode combater a crise com iniciativa de longo prazo, de 20 anos, apenas agindo no plano financeiro, econômico e orçamentário. É previso sustentá-la num plano bidecenal. Se não, é dar um cheque em branco, a partir de confiança absoluta em quem vai usá-lo, o que, evidentemente, não é o caso. Acho correto o governo não gastar mais do que arrecada para acabar com esse imenso desequilíbrio fiscal. Mas não se pode retirar investimentos de áreas fundamentais para o desenvolvimento do país. Para esses setores é nefasto apenas reajustar suas vebas pela inflação. Daí ser preciso ter o suporte de um plano.

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      Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 27 de novembro de 2016, 13:00
      • Pinto, o orçamento público é composto pelos gastos primários (educação, saúde, infraestrutura, previdência etc) e os gastos financeiros. O ajuste se faz apenas nos gastos primários, por isso é balela dizer que o estado está fazendo ajuste. Hj dos gastos públicos, 48% estão na rolagem da dívida, logo,esse fica preservado e ainda pode subir. Ou seja, na matematica, é retirar dos pobres e repassar aos ricos. Gastos primários geram riquezas e giram a economia, pagamento de juros, só gera entesouramento dos endinheirados. A pec está aí pra ser votada, poderia dar mais ênfase sobre isso.

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        Publicado por roni | 27 de novembro de 2016, 15:30
      • Pelo visto, você não leu os meus artigos sobre a questão. Já escrevi imensas vezes sobre os juros, a dívida pública e todos esses temas. Se você se der ao trabalho de ler, verificará. Logo, não excluo nada disso. O problema é que enquanto pode cortar gastos orçamentários, que dependem de imposições legais (vinculadas pela Lei de Responsabilidade Fiscal) e de vontade, o governo não pode lidar da mesma maneira com o custo financeiro, que é débito dele. São relações contratuais e contrato faz lei entre as partes. O rompimento unilateral é extremamente gravoso. Mas pode-se rediscutir dívida, como fazemos domesticamente. A questão é que isso exige uma estabilização na gestão pública, capaz de influir sobre as reações do mercado. Daí a necessidade de situar o orçamento no contexto de um planejamento de longuíssimo prazo, que seria uma planificação. Não se pode resolver isso por ato administrativo.
        Detalhe: quando alguém parece querer insinuar uma ironia, me trata por Pinto, ao invés de usar a minha marca pessoal (Lúcio, Lúcio Flávio ou Lúcio Flávio Pinto) como fez o então senador Jarbas Passarinho, no primeiro de uma série de debate que travamos. Observei-lhe que não me ofende ser trato por Pinto. Muito pelo contrário: me orgulho do Pinto que tenho. Como tenho 67 anos (não sei a sua idade), ficaria grato de, ao preferir essa forma de tratamento, me tratasse por Senhor Pinto. Obrigado desde já.

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        Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 27 de novembro de 2016, 17:16
      • Pinto, algumas questões: primeiro, o gasto público em serviços sociais é fundamental para a circulação da economia e logo, arrecadação. Então se corta o gasto, reduz também a perspectiva de arrecadação, a não ser que aumentem muito os impostos e o custos dos serviços, privatização etc. Dois, há formas de aumentar arrecadação, uma dela é a revisão da dívida pública, que continua uma caixa preta. Três, o país perde por ano cerca de 500 bilhões com evasão fiscal dos pobres empresários e fincistas. Veja o caso esdrúxulo da repatriação. Logo, pra que serve o ajuste?
        Segundo a pesquisa do Pnad 50% do dinheiro que circula na economia são gastos públicos sociais, logo cortar bruscamente evoca menos $ na economia desemprego, perda de e
        Arrecadacao etc, ou seja, recessão.
        Detalhe: achava que Pinto era seu sobrenome, da mesma forma que cito Karl Marx como apenas Marx. Não sabia que Pinto era seu órgão genital, que ingenuamente acreditava que era pênis, portanto, desculpa.

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        Publicado por roni | 27 de novembro de 2016, 17:48
      • Noel Rosa respondeu a Wilson Batista, no célebre debate musical dos anos 1930, perguntando na réplica: quem é você que não sabe o que diz?
        Vox poeta, vox dei.
        O nome de guerra do Karl Marx era Marx, não Karl. O prenome era privativo da família e amigos mais íntimos. Todos me chamam de Lúcio, Lúcio Flávio ou Lúcio Flávio Pinto. De Pinto, só você. Logo, a fixação é sua, não minha. Eu estava apenas lhe lembrando que se você quis fazer ironia, errou.
        Como erra nessa embrulhada de números retirados da internet.
        De minha parte, obrigado.

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        Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 27 de novembro de 2016, 18:08
  3. Me impressionou vivamente, na tal entrevista ao lado dos presidentes do Senado e da Câmara, a arrogância, a idéia de deixa que eu sei chutar, respondo a qualquer pergunta. E nisto, a questão de Calero. Deu voltas e voltas, parênteses, vírgulas e na verdade, quanto mais nadou, mais afundou. Vergonhoso.

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    Publicado por Edyr Augusto | 28 de novembro de 2016, 15:19
  4. O piloto é o povo tendo que lidar com uma aeronave capenga graças aos mecânicos incompetentes que não fizeram a devida revisão.

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    Publicado por Jonathan | 28 de novembro de 2016, 19:02
    • Minha impressão do Brasil atual: (a) inflação foi escondida por muitos anos e está muito subestimada, com preços básicos norte-americanos mas com salários de madagascar; (b) as pessoas estão somente vivendo porque podem pagar absolutamente tudo a prazo, em 10 ou 12 meses, uma forma inventada para perpetuar os preços altos; (c) o povo está quebrado, com um nível de endividamento batendo recordes históricos; (d) todos os níveis de governo estão quebrados, absolutamente quebrados; (e) ninguém quer reduzir as despesas públicas, nem o povo e nem os políticos, pois a opinião que prevalece hoje é o quanto pior melhor; (f) a produtividade do país está em declínio, rápido declínio; (g) falta um líder de confiança para juntar os cacos do país deixados pelo PT-PMDB; (h) continuaremos empurrando as decisões difíceis para o futuro, sempre a espera de um salvador; (i) como nenhum consenso é possível e a falta de credibilidade de todos os atores públicos é generalizada, estamos nos movendo rapidamente para uma situação similar a do início do governo Sarney, com hiperinflação e crise de abastecimento. Para sair dessa situação, seria melhor passar a presidência para um mandato tampão para Carmen Lúcia até o ambiente se mostrar favorável a uma nova eleição, de preferência após a prisão de todos os envolvidos na Lava-Jato.

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      Publicado por Jose Silva | 28 de novembro de 2016, 20:41

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