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Polícia, Terras, Violência

O massacre

Os homens que ocupavam o acampamento na fazenda Santa Lúcia, em Pau D’Arco, eram criminosos. Já haviam invadido a propriedade, depredado suas instalações, matado um vigilante e baleado outro, resistido a uma ordem judicial de reintegração do fazendeiro na propriedade do imóvel. Eles estavam bem armados. Montaram trincheiras ao redor do acampamento e instalaram armadilhas contra intrusos. Iriam resistir a qualquer tentativa de desalojamento.

Sabendo de tudo isso (ou dizendo saber), a força organizada para cumprir mandados de prisão de alguns dos integrantes desse grupo foi com apenas 29 homens, 21 PMs e oito policiais civis, um efetivo equivalente ao dos integrantes do bando armado que promovia invasões de propriedades no sul do Pará. Numa manhã chuvosa, em 24 de maio, foram surpreendidos ao chegar ao local e recebidos com tiros. Naturalmente, os alvos da expedição não só sabiam que o contingente policial ia aparecer ali como se prepararam para atacá-lo de surpresa.

Os criminosos estavam numa área que conheciam bem, com a retaguarda do acampamento, bem armados, dispostos a atacar e se valendo de um fator fundamental num confronto: o fator surpresa. Não esperaram pela iniciativa da tropa, antecipando-se a ela.

Mesmo com todos esses fatores, não feriram nenhum dos 29 homens encarregados do cumprimento do mandado judicial. Eles se dispersaram, depois se reagruparam e partiram contra os inimigos. Mataram 10 deles, pondo os outros em fuga. Nenhum dos policiais sofreu qualquer arranhão.

Duvidar dessa versão absurda não significa querer que os policiais tivessem sido feridos ou mortos. Quer dizer apenas que ninguém, em sã consciência, aceitaria como verdadeira essa reconstituição dos fatos. Não precisa condenar antecipadamente a polícia ou colocar acima de tudo direitos humanos previamente estabelecidos para questionar o relato da polícia. É bastante raciocinar.

Um pouco de raciocínio confrontando a versão que a Secretara de Segurança Pública apresentou no mesmo dia seria suficiente para não acreditar no que foi dito. Desde então, as informações que foram se sucedendo confirmaram o ceticismo inicial. Mas se p que a secretaria e seus porta-vozes disseram fosse verdade, e a tropa não tivesse simplesmente feito uma execução em massa, o episódio seria definido como um desastre operacional, um erro técnico monumental, gravíssimo.

Com os dados que o secretário Jeannot Jansen disse que a tropa tinha, o ingresso na área da fazenda devia ter sido feito com tropa muito mais numerosa, aparelhada com todas as armas de intimidação do adversário, seguindo uma logística preparada com o cuidado necessário da inteligência para inibir resistências. A ação, porém, foi executada contrariando todas essas premissas, coerentes com o que está se consolidando na apuração dos fatos: uma execução deliberada dos membros do acampamento.

Chegar a essa conclusão não é negação da função da polícia ou defesa leviana dos direitos humanos, como proclamou a marcha corporativa de hoje: é apreço pela verdade e desejo de que o Estado seja realmente um agente a serviço da sociedade e não de eventuais parceiros,

Discussão

9 comentários sobre “O massacre

  1. O problema, é que o serviço de inteligência da polícia civil, está uma porcaria. HOje o trabalho da inteligência, e monitorar os adversários políticos do governador

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    Publicado por Geraldo silva | 4 de junho de 2017, 19:03
  2. “apreço pela verdade e desejo de que o Estado seja realmente um agente a serviço da sociedade e não de eventuais parceiros,”: o PSDB tem solene e veementemente negado tal condição…. Sociologia da Reeleição, chancelado pelo Financiador Habitual da Corrupção.

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    Publicado por Luiz Mário | 5 de junho de 2017, 10:13
    • Cala os dedos. Para de provocar vergonha alheia.

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      Publicado por anônimo | 5 de junho de 2017, 10:42
      • Pois é, ne? O cara só diz bobagens. Deve ser algum funcionário público que já está com a vida ganha, tem muito o que fazer pelo cidadão, mas prefere ficar por aqui todo dia escrevendo besteiras, causando constrangimento público. As pessoas até se afastam…

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        Publicado por Anonimo | 5 de junho de 2017, 14:44
  3. “Lida-se melhor com a má consciência que com a má reputação”, né?

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    Publicado por Luiz Mário | 5 de junho de 2017, 18:33
  4. Só vou fazer um pequeno comentário: até agora não ouvi ou li nada que se referisse ao Oficial de Justiça, que, por certo, leria a decisão judicial que determinava a reintegração de posse.

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    Publicado por Valerio Alves. | 7 de junho de 2017, 19:24

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