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Polícia, Segurança pública, Violência

O que aconteceu na penitenciária?

É um sinal dos tempos de violência no Pará que a reportagem mais rica em informações sobre a rebelião, com 22 mortos, que ocorreu no dia 10, na penitenciária de Santa Izabel, na região metropolitana de Belém, tenha sido publicada, hoje, pela Folha de S. Paulo, escrita por Rogério Pagnan Bruno Santos.

Mesmo que o repórter não tenha desvendado o mistério que continua a cercar o fato, ele apontou as inconsistências, incongruências da versão apresentada pelo governo do Estado, que esconde mais do que revela.

O choque e as mortes resultaram de uma tentativa de invasão da penitenciária para dar fuga a presos selecionados, talvez integrantes do Comando Vermelho, que tem o mando no local?

Foi uma rebelião interna, sem o apoio de fora dos muros da detenção? Foi uma cominação dos dois fatores? Foi um acerto de contas entre grupos de prisioneiros? Ainda que tenha sido isso, a polícia aproveitou para liquidar desafetos? Algumas das mortes foram pura execução? Qual era a condição dos mortos?

Nada disso está claro. Tudo e ainda mais é possível. As autoridades não contaram tudo que sabem ou ainda não sabem tudo que aconteceu?

Mais perguntas seriam feitas e mais respostas teriam que ser dadas se a imprensa paraense apurasse mais, investigasse junto a mais fontes, checasse informações, percorresse as instalações penitenciárias e fizesse, com maior amplitude, o que a Folha de S. Paulo fez. A péssima cobertura cotidiana dos assuntos policiais acabou por entortar a boca do jornalismo desse setor. Por isso, mais um dia se passa de um acontecimento tão grave com muitas perguntas e poucas respostas.

Reproduzo a íntegra da matéria do jornal paulista para cobrar novas explicações do governo,q eu recusa ajuda federal, por sua motivação política, mas não apresenta argumentos convincentes na sua própria defesa diante do crescimento da violência no Estado.

Um cruzamento feito pela Folha entre as fichas cadastrais do sistema penitenciário e a lista de mortos em presídio da Grande Belém derruba parte e coloca em xeque outros pontos da versão oficial do governo do Pará sobre a tentativa de fuga que terminou com 22 mortos na última terça (10).

O governo de Simão Jatene (PSDB) havia informado que: 1) presos que tentaram fugir contaram com a ajuda de criminosos do lado de fora do complexo, e as mortes se deram durante os confrontos; 2) entre os mortos, além de 16 presos e de um agente carcerário, havia cinco integrantes do grupo invasor do presídio.

Nesta quinta (12), porém, a reportagem teve acesso à lista desses cinco supostos invasores mortos e, ao cruzar com as fichas do sistema carcerário paraense, descobriu que todos eram na verdade presos —da unidade do semiaberto.

As listas foram obtidas extraoficialmente pela Folha. O governo paraense não havia divulgado os nomes dos mortos até então, sob a alegação de ainda estar ocorrendo a identificação de todos.

Na quarta (11), disse inclusive ter confirmado os nomes de três mortos integrantes do grupo invasor e que não faziam parte da massa carcerária.

Confrontada pela reportagem nesta quinta, a gestão Jatene recuou e mudou de versão. Admitiu que todos os mortos são detentos do sistema prisional e afirma agora que houve uma falha na identificação do trio. Diz, porém, que a versão divulgada não estava totalmente errada.

O governo divulgou desde terça que um grupo de detentos iniciou um motim, enquanto criminosos do lado de fora tentavam uma invasão para resgatá-los da prisão —utilizando até explosivos.

O confronto com detentos e com esse grupo externo, segundo a gestão estadual, resultou nos 22 mortos —um deles morreu só nesta quinta.

O coronel André Luiz de Almeida e Cunha, secretário-adjunto da Secretaria de Segurança, disse à Folha que a versão de que havia um grupo do lado de fora do presídio ainda está mantida, apesar da confirmação dos cinco mortos que eram detentos.

“Sim, eles são internos. Mas isso não tira deles o rótulo de serem membros da equipe de apoio externo.”

O estado diz que essa equipe de apoio seria formada por criminosos armados que atiraram contra as guaritas dos policiais que tentavam evitar a fuga dos presos da unidade.

O governo paraense decidiu divulgar na noite desta quinta uma nota com os nomes da maioria dos mortos —mas sem falar em invasores.

CIRCUNSTÂNCIAS

Esses cinco homens classificados inicialmente de forma equivocada pelo estado foram mortos em um setor do complexo prisional chamado de colônia —e reservado a presos do regime semiaberto e de baixa periculosidade. As circunstâncias dessas mortes ainda são desconhecidas.

O próprio secretário admite que ainda não há provas da participação desses cinco no ataque. A advogada Ivanilda Pontes, do conselho estadual penitenciário, diz que funcionários da unidade afirmaram para ela que nenhum deles teve ligação com esse episódio.

Já os outros 16 morreram do lado externo dos muros da unidade, quando tentavam alcançar uma mata nos fundos da prisão. Com agentes como reféns, eles haviam chegado até ali após usarem explosivos para abrir buracos nas paredes do presídio e cortarem a cerca de alambrados.

O governo diz que esses 16 foram mortos pelos sentinelas das muralhas durante troca de tiros, já que teriam saído atirando contra os PMs.

Todos eles aparecem em vídeo gravado logo depois do fim da troca de tiros. Estão espalhados pelo gramado e vestidos de camisetas com cores vermelha ou laranja, que fazem parte do uniforme.

Já a unidade do semiaberto, segundo a versão oficial, teria sido usada como uma das rotas dos criminosos invasores para atacar os sentinelas das unidades ao lado.

RELATO

O relato da mãe de um dos mortos torna mais obscuras as circunstâncias do episódio. Ela afirmou ter falado com seu filho no final da tarde de terça e, segundo ela, ele afirmava que a tentativa de fuga com troca de tiros já havia ocorrido no complexo.

“Ele me ligou dizendo: ‘Mãe, venha me buscar’”, disse a dona de casa Cristiane do Socorro Costa de Oliveira, 40, mãe do preso Carlos, 25.

O rapaz, segundo ela conta, estava preso em regime semiaberto havia três meses por ter sido apanhado com um carro roubado e iria ao regime aberto ainda neste mês. “Me disseram que ele foi morto na rede”, disse a mãe.

O complexo penitenciário é dominado pela facção criminosa Comando Vermelho e, no total, reúne 3.500 presos, em 9 unidades, entre elas a do centro de segurança máxima —estopim do conflito.

Neste espaço, a capacidade é para 432 detentos, mas abrigava 660, em condições definidas como “péssimas”, segundo relatório do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

O órgão divulgou um relatório em fevereiro deste ano dizendo que as fugas em massa eram recorrentes, apontando uma série de fragilidades e cobrando providências.

Ele solicitava a construção urgente de uma muralha para isolamento da unidade e pedia uma solução para a “profunda superlotação”.

Discussão

9 comentários sobre “O que aconteceu na penitenciária?

  1. É um fato importante em qualquer ocasião. São muitos mortos. Outras rebeliões já foram muito mais noticiadas diante desses fatos. Ainda por cima uma tentativa de fuga com uma possível rebelião. A responsabilidade e violência de uma ação assim seriam debitadas prioritatiamente nas vostas do Estado. Se fala principalmente em poder de facções criminosas e ao mesmo tempo diante de uma série de ataques e chacinas na região metropolotana. Qual o motivo da omissão dos órgãos oficiais, fos de notícia e dos direitos humanos? Neste ínterim foi assasinado também o filho de um agente penitenciário. Os jornais lançam boatos, por que noticias de verdade nao são, de que o assasino fo prefeito de Tucuruí estaria na tentativa de libertação dos presos. O povo parece apatico e ninguém sabe de nada, um autismo informacional advindo também da mídia que nada diz. A polícia diz menoa ainda como se nao tivesse obrigação nenhuma, apenas que está tufo sobe controle.
    O site do perereca da vizinha dava a mesma noticia com a manchete de que o dos mortos seriam detentos.

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    Publicado por Fabrício | 14 de abril de 2018, 00:05
  2. Pelo que eu li, pegaram uma mulher que dirigia o veículo e hâ uma foto de armas no mato. Se houve ataque externo, os que estavam de fora podem não ter sido mortos.

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    Publicado por jjss555 | 14 de abril de 2018, 06:47
  3. De todo esse quadro de (indi)gestão, não se pode crer que o volume de recurso$ dispendido c/ propaganda (e não é pouco), não tenha aplicação no custeio da gestão setor Seg.Pública q está claramente sucateado, afora alguns raros investimentos. Com a palavra a Alepa, o MPContas e o MPE.

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    Publicado por Amélia A. de Oliveira | 14 de abril de 2018, 12:36
  4. Essa matéria joga mais no fundo do poço a imprensa de Belém. Para sabermos o que se passa aqui, temos que nos informar por veículos de SP ou RJ, porque o que nos resta são pasquins – na pior acepção do termo (ressalvados os honrosos profissinais). E fica a dúvida: não é feita a apuração dos fatos por incúria ou por a linha editorial ser de acordo com as informações que vêm do Governo Estadual?

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    Publicado por Igor Silva | 14 de abril de 2018, 12:42
    • Os repórteres ganham pessimamente, não têm estímulos, a edição de matérias polêmicas passa por cima de quem as produziu, há a promiscuidade entre a empresa e o governo, o padece do mal da virtualidade, o trabalho é mesmo muito perigoso, etc.trabalho é arriscado, há uma carência de repórteres de linha de frente, o trabalho é mesmo muito perigoso, a cobertura diária do setor o desnatura, a linha editorial é sensacionalista e por aí vai. Ou não vai.

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      Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 14 de abril de 2018, 15:53
  5. Lúcio, por onde anda o governador do estado? Toda vez que ocorre um fato trágico Simão Jatene desaparece da mídia por uns tempos, para emergir novamente em propagandas políticas em véspera de inaugurações; e não foi diferente em todas as edições e reedições de chacinas ocorridas na área metropolitana e no sul do estado.
    Belém virou um faroeste e as chacinas não param; e os principais atores neste cenário estão cada vez mais evidentes: polícia matando bandido e bandido matando polícia e cidadãos comuns nas ruas; sendo que as facilidades da pistolagem – que se diga de passagem em ambos os fronts – estão cada vez mais viabilizando, a preços módicos, o aumento daquelas execuções em que os envolvidos (mandante e vítima) não são bandidos fichados nem policiais, mas pessoas envolvidas em trapaças, imprudências no trânsito, quizilas entre vizinhos, etc.

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    Publicado por j.jorge | 15 de abril de 2018, 08:24
    • É verdade: o governador parece estar fugindo dos problemas que estão no âmbito da sua responsabilidade, se isolando num mundo de fantasia. Sabemos o nome clínico desse processo. Nessas ocasiões, me vem à memória a foto impressionante do então governador da Guanabara (o Rio de Janeiro de hoje), na penitenciária Lemos Brito, cercado por detentos em rebelião. Sem um único segurança. Quando o execrável Lacerda começou a falar, as atitudes e olhares eram hostis para ele. Na evolução do discurso, os presos começaram a se sentar. No final, todos ouviam, como que hipnotizados, as palavras de Lacerda, que saiu aplaudido.
      Não se pretende que Jatene imite Lacerda, um dos maiores oradores da história do Brasil (que tive a felicidade de ouvir, mesmo sendo contra ele). Simplesmente que interprete o papel de governador do Pará. O d cantor e músico ele pode retomar em 1º de janeiro de 2019.

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      Publicado por Lúcio Flávio Pinto | 15 de abril de 2018, 09:52
  6. Tirando os erros do psdb, faz tempo que Jatene desistiu de governar.

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    Publicado por jjss555 | 15 de abril de 2018, 21:25

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