Na capital nacional do barulho, não surpreende que o barulho seja um dos instrumentos de marketing dos políticos que disputam eleição. Neste momento, milhares de pessoas invadem as ruas de Belém atrás de carros-som despejando poluição sonora sobre gregos e troianos, com emissões de ruídos muito acima dos 80 decibéis, nível suportável pelo ouvido humano.
Não satisfeitos, os militantes de aluguel disparam foguetes. Mais atrás, vêm as legiões a agitar bandeiras azuis e amarelas a serviço dos dois candidatos – Helder Barbalho, do MDB, e Márcio Miranda, do DEM, patrocinado por Simão Jatene, do PSDB – que amanhã disputarão o lugar do tucano no governo do Estado.
A intensidade e amplitude dessas charangas impressiona. Pode até entrar no roteiro das infindáveis procissões do Círio quando o calendário eleitoral coincidir com a maior festa religiosa do Pará.
A primeira questão é sobre o efeito dessas iniciativas. Essa agitação, que se mantém há vários dias, se intensificando na véspera da votação, consegue influir sobre o ânimo do eleitor? Pode dar-lhe a impressão (ou ilusão) de força do candidato, mesmo sabendo-se que as pessoas que participam dessas aglomerações são pagas para realizar a tarefa?
É positiva ou negativa a reação do eleitor, entre dar atenção ao barulho e encenação e as contrariedades causadas pela presença desses grupos atravancando as ruas e causando atribulações a pedestres? O saldo é superavitário? Eventuais mudanças de última hora têm alguma contribuição desse recurso? Vale a pena o investimento? Quem investe? De onde vem o dinheiro?
O suporte financeiro a esses atos também impressiona. São milhares de pessoas recrutadas, principalmente nas periferias da cidade, para um trabalho sazonal que, segundo algumas fontes, pode ir de 50 reais a R$ 100 per capita. Diante do aparato, os gastos devem chegar a algumas centenas de milhares de reais. Na prestação de contas geral das campanhas há uma rubrica específica para essa atividade? A justiça eleitoral a fiscaliza para evitar dilapidação do fundo partidário ou algum esquema de lavagem de dinheiro?
São muitas as perguntas ainda carentes de respostas. Mas uma coisa é certa: esse espetáculo de aluguel de personagens para integrar o jogo eleitoral de uma democracia e a violação dos direitos da pessoa por esses grupos barulhentos e invasivos do espaço público é um atestado do primarismo dos costumes políticos entre nós. Partilhado por todos os candidatos, mais preocupados em conquistar um naco de poder do que na educação cívica da população.
Forma arcaica e ineficaz de conquistar o eleitor para os dias atuais. Na minha opinião, as redes sociais são instrumentos baratos e eficazes se utilizados de forma a apresentar os problemas do cotidiano e interagir com a população em busca da apresentação de soluções por parte da mesma.
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