Memória – O dinheiro do boi

A coluna “Pelos 4 Cantos da Cidade”, da Folha Vespertina, noticiou, em agosto de 1963: “Estão sendo distribuídos na cidade discos para a propaganda do sr. Gilberto Mestrinho ao Governo do Estado em 1965. A distribuição é feita pela Associação dos Cabos Eleitorais, que recebeu 50 mil exemplares”.

Alguns dados para os mais novos perceberem a sutileza venenosa da nota. Mestrinho, um dos maiores líderes políticos do Amazonas, queria deixar o cargo de governador amazonense para se desincompatibilizar e disputar o governo do Pará na eleição de 1965, dois anos depois da publicação dessa nota pelo vespertino da Folha do Norte.

Para realizar esse projeto, que seria inédito se ele vencesse, se tornaria o primeiro e único governador de dois Estados vizinhos que se hostilizavam. Ele investia em empreendimentos econômicos no Pará, como o edifício ao lado da praça Batista Campos, em Belém, que tem o nome dele. Assim, conseguiu reunir em seu apoio empresários paraenses, como Ocyr Proença. Ocyr foi o intermediário na compra, em 1965, de O Liberal, antigo jornal doado em 1930 ao coronel Magalhães Barata por seus amigos. O Liberal apoiou Alacid No ano seguinte, Romulo Maorana o adquiriu.

Cassado pelo regime militar de 1964, por alegada corrupção, Mestrinho suspendeu (mas não eliminou) sua carreira política. Continuou a investir no Pará. Deu dinheiro para a campanha eleitoral do major Alacid Nunes ao governo, em 1965. Quando questionado pelo coronel Passarinho sobre essa relação com um cassado, Alacid respondeu que o dinheiro era se destinava a comprar boi para a conquista de votos através dos tradicionais churrascos aos cabos eleitorais.