VALTIN, Jan. Do Fundo da Noite (Memórias de um famoso espião e agitador alemão), 785 páginas. José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1942, coleção O Romance da Vida, volume 20. Tradução de R. Magalhães Júnior e A. [Antônio] C. [Carlos] Callado (do original Out of the Night, de 1941). Capa de Santa Rosa.
Do subtítulo também consta: “Comintern – Profintern – Gestapo – G. P. U. – Scotland Yard…”.
O verdadeiro nome do autor é Richard Julius Hermann Krebs.
O livro foi publicado nos Estados Unidos enquanto Valtin estava preso, tornando-se o maior “best-seller” de 1941, no meio da duração da Segunda Guerra Mundial.
Comprei o volume no sebo O Arqueólogo. Nessa época era apenas uma loja, na Galeria da Assembleia Paraense, loja 6 (fone: 241-3892), onde começou a carreira do Ricardo Carrazai em Belém. Hoje, pertence ao Anderson e à dona Edna, dois antigos e queridos amigos.
Livro bem encadernado, embora a encadernação já estivesse deteriorada. O encadernador era bom profissional: manteve a capa original, de Santa Rosa, embora a refilação tenha eliminado uma pequena tira na parte inferior da capa. Tem papel de guarda.
O livro integrou a biblioteca de Abel de Gouvêa Miranda. Foi registrado com o número 1544 e colocado na prateleira 3a da estante 7. Custou 40 cruzeiros, em 3/4/1943.
O livro pertenceu depois a Jaime Augusto Ferreira. Junto com seu carimbo, ele assinalou, com sua letra, a data: 19/01/88.
Na primeira página do livro está também anotado o número 618, que deve ser o da incorporação à biblioteca.
Não havia qualquer anotação no livro quando o comprei. Estava sujo, mas razoavelmente bem conservado, exceto pelo desgaste na encadernação.
Recomendo a leitura.
Overreaction – a morte do Joca
Ao contrário do desconhecido motorista de aplicativo morto poucos dias antes, que pagou com a própria vida por transitar nas ruas de São Paulo – porque quem tem dinheiro neste país pode fazer o que quiser no trânsito, inclusive matar os outros – o cão “Joca” tornou-se uma celebridade póstuma e conquistou a comiseração e os protestos de milhares de pessoas. Gente que nunca se manifestou saiu às ruas em defesa de cães e gatos que precisam de transporte aéreo. Uma reação provocada pela maldade que cometeram contra o bichinho. Como os brasileiros são sensíveis à morte de pets.
No bojo deste alarido nacional promovido pelos corações humanos sensíveis à vítima do descaso da transportadora aérea, ouve-se veterinários já pleiteando que doravante, para uma simples viagem de pets, seja exigido um grande número de avaliações clínicas, laboratoriais e psico comportamentais em diferentes especialidades vet. Também é certo que a ANVISA entre na causa e crie mais exigências. A morte de um cão tão amado como Joca nunca é um evento aleatório e sim uma consequência de tudo que não foi exigido até hoje. Isto já está ganhando um cheirinho de mais um “cartório” a ser oficializado.
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Partilho a indignação! O presidente falou, a Janja intrometeu-se para exigir que a ANAC “aperte” a empresa aérea, o ministro X prometeu agir, o pai do joca numa aluvião de lágrimas, reportagem no Fantástico, enfim, comoção nacional! Nunca pensei que a morte de um cachorro (não sei se na China, sempre pragmática, eles ainda conservam o hábito de comê-los) provocasse tamanha mobilização, faltou pouco para igualar-se à das “Diretas Já”.
Enquanto isso, um pai de família, madrugando para colocar um prato de comida em casa, é cruelmente assassinado por um bandido que estava a emendar uma farra em outra. O pulha assassino tem dinheiro; a mãe, isto é, a pulha, apressou-se, com a cumplicidade dos policiais, a retirá-lo da cena do crime. O juiz, por sua vez, recusa-se a decretar a prisão do canalha, bêbado no momento do homicídio. Isso não é real! Não existe! São sombras, é o espelho do “Mito da Caverna” de Platão.
Há muito lodo para poucas flores neste país
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Enfim, é mais uma situação normal no país da casa-grande e da senzala.
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https://oantagonico.net.br/a-primeira-dama-e-o-ministro/
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Como recomenda, caríssimo? Com tudo isso? O cartapácio tem 785 páginas, traduzido em 1942, uma relíquia.
Tenho um amigo, que na juventude residia nas proximidades da histórica Vila Letícia, e por isso participava dos folguedos que lá transcorriam, moradores da vila e os das cercanias, constituíam uma grande família. No perímetro, os jovens eram conhecidos como a “turma da vila”. Falo de tempos imemoriais. Meu amigo foi contemporâneo do Constellation, da saia godê, da Lambreta, da 15 de Agosto[1] e viu muita coisa, pasmem, viu, até como Getúlio, a genitália da Virgínia Lane, vedete que se exibia no teatro do Félix Rocque, por ocasião de uma festa nazarena qualquer; num passo acrobaticamente mais ousado da jovem corista, o frágil tecido da calcinha rompeu-se ao não resistir a força daquele imenso monte púbico represado. Um escândalo! Paulo Maranhão proibiu que seus jornais noticiassem o fato, A Província silenciou e o Liberal, eterno carente de credibilidade, nada publicou, cientes os editores que nem os pessedistas e os linotipistas acreditariam no jornal, e assim a população ficou sabendo do acontecido pelo boca a boca, inclusive do momento cômico, quando senhoras que assistiam ao espetáculo, egressas da missa derradeira, se dividiam na indecisão de fechar os olhos do marido ou os próprios. Getúlio viu o matagal em outras plácidas circunstâncias, disse a precursora da Leila Diniz em centenas de entrevistas concedidas. Ah, tempos felizes que já lhe são pouco mais do que um cisco na memória, confessa o amigo. Naquela época, a turma da Vila Letícia[2] que idolatrava Marilyn Monroe, lia Proust, mas não conhecia música, só escutava rock e jazz, embora não fosse páreo para a “Turma da Bailique”, pois não era integrada por delinquentes, podia caminhar impunemente na extensão da principal avenida da cidade, sem receios de polícia ou bandido, por isso, vez ou outra, os meninos surripiavam esmola de cego, por farra e não precisão, e já com mais frequência, atormentavam o infeliz “espanhol”, ao gritar em coro, tenores e barítonos em formação, com o vigor dos pulmões adolescentes, o amaldiçoado gentílico, em crueldade comparável à do Artióm de Gorki (os leticianos leram tudo da excepcional literatura russa) nas humilhações que infligia ao desgraçado do Kháim. Ora, com tudo isso, e tendo sido levado ao VI Congresso Eucarístico Nacional para rezar, quando beijou a mão de dom Alberto Ramos esse, tempos depois, algoz de Dalila Ohana e alcaguete na Revolução de 64, vê-se que o meu dileto camarada, como nós, eu e o autor do blog, está avançadíssimo em idade (eu pior que os dois) e por viver essa fase outonal, a última da existência, diz que somente lê coisas leves e ligeiras, muito ligeiras, nada que demande nímio esforço. Não lhe sou solidário; nas minhas leituras anárquicas, tangido por indomada curiosidade, leio coisas pesadas e vagarosas, até àquelas que o cérebro, comprometido por inexorável cansaço, ao lado de uma duvidosa inteligência, não consegue absorver. Contudo, a despeito dessa postura audaz, insubmissa às circunstâncias limitativas, não me animo a seguir sua recomendação, que são sempre valiosas e respeitáveis. No caso, são muitas páginas, 785??? Para provavelmente muitas mentiras.
O livro fez grande sucesso na época e pode ser excelente, não duvido. Porém o New York Mirror disse que se trata de uma enorme farsa literária e o Daily Worker, que na verdade os autores do livro eram Isaac Don Levine, Walter Krivitski e Freda Utley, e não Julius Krebs. Não sei se é verdade, li na internet.
[1] O ditador assassino de 1937, e nome de rua em todas as capitais do Brasil.
[2] Nem tudo aqui é verdade.
P. S. – Um dia procurei o sebo, estava fechado e os vizinhos disseram que não mais existia. Lendo o post, liguei para o número indicado, só dá ocupado. Ainda existe?
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Quando me perguntam se vale a pena ler um livro tão volumoso, pergunto ao Tomé se ele gosta de chocolate. Se gosta, pergunto se ele prefere um único chocolate ou uma caixa. Assim, se o livro é bom (e este é e é também absolutamente verdadeiro, apesar dos dois jornais americanos ruins), vou até a última página. E já passei de mil páginas.
O sebo continua funcionando. Funciona na Carlos Gomes, próximo à Presidente Vargas.
Fui assíduo frequentador da mansarda dos Dória de Vasconcelos: Palmério pai, dona Nazaré, Valdemar e Palmério filho (ou o bode). Praticava jogo de botão, gol a gol de cabeça (campeão) e participava das audições musicais, principalmente jazz e Bossa Nova.
O seu comentário bem que podia dar início a um livro, tantas as histórias e tão bem contadas,
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O ALCIDES ME CITOU, COM CERTEZA. PORISSO, AQUIVAI A HISTÓRIA DA VILA LETICIA:
TINHA EU, MEUS QUINZE ANOS E FREQUENTAVA DIÁRIAMENTE A VILA LETÍCIA, LOCALIZADA NA “PARTE ALTA DA Ó DE ALMEIDA”, ERA CASA DE PALMÉRIO E NAZARÉ VASCONCELOS, PACIENTES SUFICIENTE PRA ATURAR UM BANDO DE ADOLESCENTES QUE IAM LÁ CONVERSAR, OUVIR MÚSICA, ASSISTIR TELEVISÃO, ENFIM, ENCHER O SACO. ERAM ASSÍDUOS, ALÉM DE MIM, OS FILHOS, VALDEMAR, PALMÉRIO E BETINA, O LÚCIO FLAVIO, O RONALD PASTOR, O VLADMIR CONDE, O CANINDÉ, QUE ACABOU CASANDO COM A BETINA, POR LÁ APARECIAM SEMPRE A TIA ROSA E O MARIDO CÂNDIDO IMBIRIBA E AS FILHAS CARLA E SOLANGE. TENHO QUE REGISTRAR, FOI NA VILA LETÍCIA QUE CONHECI O “CINEMA DE ARTE”, A PARTIR DAS DISCUSSÕES SOBRE A NOUVELLE VAGUE, O CINEMA NOVO E DA CINECITTA. FOI LÁ QUE CONHECI A BOSSA NOVA, PRINCIPALMENTE ATRAVÉS DOS LPS DO RONALD, UM AFICSIONADO E PRINCIPALMENTE O JAZZ, A PARTIR DO “TIME OUT”, O LP DO DAVE BRUBECK QUE O VALDEMAR NOS APRESENTOU.
O “SEU” PALMÉRIO, SE OUTRAS QUALIDADES NÃO TIVESSE, ERA TORCEDOR FERRENHO DO PAYSANDÚ E GANHOU FAMA POR TER SIDO O “GARDA VALAS DO 7 X 0”. MAS, SE IRRITOU COMIGO E ME EXPULSOU DE CASA… EU TINHA IDÉIAS COMUNISTAS. COMO SE ISSO FOSSE POSSÍVEL PRA UM CARA QUE NUNCA LEU MARXS. DE NADA ADIANTOU, NO DIA SEGUINTE, LÁ ESTAVA EU E A PATOTA. NADA HAVIA ACONTECIDO.
HOJE, DOU INTEIRA RAZÃO À IRRITAÇÃO DO PALMÉRIO PAI, SER COMUNISTA, PRA MIM, HOJE SOA TÃO EXÓTICO QUANTO ACREDITAR QUE A TERRA É PLANA…
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Ronald Pastor e Palmério se foram, os donos da casa também. Waldemar mora em Curitiba. Lúcio, depois de figurar no time dos “paraenses que brilham no Sul”, retornou aos pagos de origem onde erigiu-se ícone do jornalismo amazônida, reverenciado por seus iguais e merecidamente homenageado mundo afora. Já o afável personagem da minha crônica, pesquisador, está para a música clássica, assim como o irritadiço José Ramos Tinhorão esteve para à popular. Conhece tudo! Não há diferença de conhecimento entre os dois estetas, senão de temperamento: enquanto àquele nasceu e permaneceu enfezado a vida toda; o meu amigo já saiu do ventre materno como personagem do “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, do Carnegie, tal a sua cativante jovialidade e placidez.
Os demais, Cândido, Betina…. não os conheci e tampouco sei o destino que a vida lhes reservou. Um abraço.
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Cândido morreu. A Rosa também. As lindas filhas, Solange e Carla, também vivem. Não tive mais notícia da Betina, mas acho que também está viva.
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…e o Valdemar, agora é curitibano. um sãbio
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Esse livro fez muito sucesso nos EUA, e valeu pra Valtin/Krebs, um convite — prazerosamente aceito — pra brilhar como dedo duro no famigerado “Comitê de Atividades Antiamericanas”.
Depois descobriu-se que o livro era uma impostura, e isso ferrou com a reputação de Valtin, como uma espécie de “especialista em União Soviética”. A Marinha americana o declarou “indigno de confiança e amoral”.
Esquecendo tudo isso, e lendo o livro como uma obra de ficção — no fim das contas é isso mesmo — ele é muito bom.
Agora que o Lúcio postou sobre a obra de Valtin, lembrei do outro livro dele — Crianças de Ontem — sobre a guerra do Pacífico, da qual ele participou, como marinheiro da Marinha americana. Vou voltar a procurá-lo, em sebos.
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Quando alguém escreve um livro como esse, vai sofrer ataques furiosos e radicais de todas as origens, de esquerda, direita e centro. O PCUS o odiava, a Marinha não confiava nele (de resto, muito poucos ou ninguém). Vatin era um anarquista, um homem disposto a viver todas as aventuras ao seu alcance. Daí quantas história. É o melhor depoimento pessoal sobre o projeto da revolução permanente, de Trótski. Sem tocar em teoria, relata histórias incríveis sobre o empenho dos bolcheviques e spartakistas de incorporar a Alemanha à revolução dos sovietes. Foi um dos momentos mais dramáticos do século XX.
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Ok. Vocês estão me forçando a procurar o livro, que vou lê-lo como ficção. Tdo espião, por dever de ofício ou vício, mente.
Histórias? Você às tem bem mais do que eu; de vez em quando larga uma interessante (como todas) acontecidas há milhares de anos.
Você podia fazer um livro à moda Oriana Fallaci sobre os personagens que entrevistou ou conviveu.
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Comecei a série no JP, mas parei. Retomarei.
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Advertência: gente, gente. O meu comentário sobre a Vila Letícia, como o livro do Krebs/Valtin é ficção (segundo jornais americanos). A diferença é que o livro, ficção ou realidade, é muito bom na opinião de quem já leu. Já a minha, rastaquera, valorizada pela bondade do Lúcio, é mero exercício em favor do cérebro, tão desgastado como os livros mal conservados.
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Os comentários estão impagáveis, eu me diverti muito lendo. Lembrei da minha mãe falando de saia godê, ela era de geração anterior a do Alcides, falava muito do Automóvel Club.
Achei no kindle o livro Out of the night, com 1097 páginas, edição da Convivivm Editorial, que adiciona “um prefácio revolucionário e antipático ao escritor Jan Valtin, ilustrativo da rusga criada pela edição desta obra em 1941 sobre os meios comunistas, que ficaram extremamente irritados com as revelações contidas aqui e que tanto atrapalhavam “a revolução”.
Em contraposição ao prefácio, o livro inclui um posfácio, “que versa sobre as dúvidas sobre a veracidade dos relatos de Krebs; expediente usado pela esquerda para tentar desacreditar o autor e suas revelações. Em The “Truth” about Jan Valtin, o professor da Princeton University e crítico literário John Vincent Fleming explica a perseguição a Krebs.”
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