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Imprensa

Imprensa vermelha

O caderno de polícia da edição de ontem do Diário do Pará merece mais dois registros. O primeiro, por publicar 13 fotos de cadáveres relativas a 11 assassinatos praticados no último final de semana. O segundo, por abrigar foto – quase de close – do cadáver de Anderson Santana da Silva, de 27 anos, morto com dois tiros ao tentar assaltar um PM, em Salinópolis.

O morto, de peito para o ar, está de olhos abertos e em seu corpo aparecem as perfurações das balas. O jornal sequer recorreu à tarja eletrônica para evitar a identificação do morto. Se está morto e não é nenhum ricaço ou protegido, que importa? Presta-se ao sensacionalismo e escândalo para a venda de mais jornal, sob o comando do premiado Klester Cavalcanti, importado do sul do país para abrilhantar o Diário com os conhecimentos que amealhou por editar a revista Capricho, a das fofocas e futilidades.

Imagine a cena: um cidadão de outro Estado ou país que passe pelo aeroporto de Belém, compre o jornal e siga viagem. Como reagirá ao folhear as oito páginas do tabloide de um senador da república, Jader Barbalho, e deparar com imagens de cadáveres ensanguentados, com tiros e facadas expostos pelo corpo, numa sangria de açougue?

Por aqui, o Ministério Público, a OAB, as entidades de defesa dos direitos humanos e todos mais não reagem com a consciência contemporânea. Todos se acomodam e ignoram a violação diária do jornal à imagem e integridade das pessoas assassinadas.

O tratamento, porém, não é indiscriminado nem igualitário: só aparecem na morgue impressa do Diário os pobres e humilhados, os desvalidos e desfavorecidos. Suas famílias não irão acionar o jornal e seus defensores in pectori preferirão evitar comprar essa briga. Não surpreende que a cada dia o jornal avance mais na sua atividade de predador de cadáveres. Vendendo honra e dignidade para se banquetear com a desgraça alheia.

Discussão

2 comentários sobre “Imprensa vermelha

  1. A banalização da violência e humilhação dos desvalidos pelo jornal dos Barbalhos é tema recorrente, em minhas aulas. Vez outra leio a página policial do Diário do Pará, quase sempre com vontade de vomitar.

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    Publicado por Edney Paiva | 29 de dezembro de 2015, 11:40
  2. Penso que se as famílias desses desvalidos tiverem meios para acionar a justiça talvez esse tipo de prática jornalística diminuísse. Mas como sabemos as autoridades competentes que deveriam se pronunciar não o fazem, nessa mesma maneira as famílias também se calam deixando que a vitrine continue aberta para vender jornais. Lamentável.

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    Publicado por viniciospp30 | 29 de dezembro de 2015, 11:56

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