Parece que as pessoas estão se desligando dos blogs. Estão se transferindo completamente para os meios de comunicação mais ágeis e leves. Não querem debates mais aprofundados nem se incomodar com os temas que exigem maior esforço de informação, atualização e compreensão. Querem dar recados, trocar interjeições e adjetivações. Ver imagens. Fazer selfies.
Certamente essa diáspora atinge mais profundamente um blog tão árido visualmente e tão exigente da leitura quanto este. Mas há a sensação de que atinge a todos no éter internético, ou seja lá qual nome se lhe dê.
Parece que, empenhados em cultivar o mínimo eu, numa sociedade cada vez mais narcisista e egoísta, as pessoas não querem ser perturbadas por dúvidas, inquirições e cobranças. Querem encontrar do outro lado da interlocução um espelho mágico, que só reflete imagens de felicidade, reconhecimento de beleza e louvores mil.
Mesmo os que exigem mais de si e dos outros evitam se expor através de debates, como os intelectuais, que um dia foram agentes públicos e hoje querem apenas uma carreira lustrosa e o circuito da academia dos imaginariamente melhores.
Na maioria das vezes, disparam um míssil condenatório ou de absolvição – e somem, escapando à reação. Quando estão em causa questões mais complexas, que mexem com a consciência e o dever, a fuga é imediata.Melhor o currículo (Lattes) do que a biografia no plano social. Mesmo se o seu universo seja sustentado pela contribuição tributária do Zé Mané.
Daí o silêncio incômodo sobre temas tão candentes, como o futuro da antiga Companhia Vale do Rio Doce ou decidir se deve-se ou não liberar uma mineração de ouro tão intensa e de curto fôlego como a da Belo Sun no Xingu.
Apenas alguns abnegados vão à liça ou entram na rinha, sabendo que podem haver escoriações generalizadas no embate – arriscado, mas necessário. Ou então, mais uma vez, a história será um trem lotado que não estanca para nos deixar embarcar – como os terríveis ônibus de Santa Maria de Belém do Grão Pará, queimando paradas.
No nosso caso, quem a história queima somos nós, naquilo que Dante descreveu na Divina Comédia como o purgatório, reservado ao mais inócuo dos seres humanos: os indiferentes. Aqueles que sabiam e podiam fazer, mas cruzaram os braços, taparam os ouvidos e fecharam a boca.
É a cultura da corrupção sendo revelada?
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Lúcio,
As pessoas não estão apenas se desligando dos blogs. Elas estão se desligando completamente da realidade nacional. A situação caótica política e econômica fez mal a alma do brasileiro. Creio que estão se sentindo incapazes de mudar a realidade e, como tal, preferem a calmaria das coisas irrelevantes, expressas nos milhões de selfies e discussões superficiais que hoje dominam o cyberespaço. Em resumo: deixaram de ser protagonistas dos seus destinos.
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Será um fenômeno só nosso ou mundial?
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Mais brasileiro. Veja as manifestações contra o Trump nos Estadfos Unidos e outras coisas acontecendo na Europa. A vontade de conhecer mais e debater não morreu lá, apesar dos narcisistas.
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Mas acho que depois das manifestações de rua que não tiveram efeito prático e todas as máscaras caíram, as pessoas se frustraram e se entocaram.
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Vcs tem razão. O q nos assombra em tempos de pós-verdades e manipulações, será qual o porvir dessa tamanha e pavorosa alienação ?!
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Será como no jardim dos Finzi-Contini?
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Acho que a grande maioria já está fortemente anestesiada, pois muito se reclama, muito se denuncia e muito pouca coisa é efetivamente punida, corrigida ou resolvida. A configuração política em todas as esferas, o judiciário cooptado e a imprensa cada vez mais fraca e também cooptada potencializam essa anestesia. Pelo menos é o que vejo há tempos na cara das pessoas todas as vezes que eu pego um ônibus aqui em Ananindeua.
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O encanto, conforme Leandro Karnal, das “coleiras eletrônicas” sobre a personalidade humana é hipnótico. Os sentidos, assim anestesiados com a fluidez de imagens, sons e superficialidades do entretenimento, reduzem a “galinhas”, seres, que têm a missão de serem águias.
Na conformidade da zona de conforto que adormece nosso assombro e discernimento nos impedindo de acionar gatilhos de contestação e manifestação reacionária diante da entropia diuturna, seguimos, dotados de amnésia causal, fragilizados emocionalmente sem ânimo para a minima reação.
Assim, complementando a máxima do discípulo do Poeta de Mântua, “Somos cobrados sim pelo mal que ocasionamos, mas também somos cobrados pelo bem que poderíamos ter realizado, mas não o realizamos”.
A indiferença, nos isenta momentaneamente, mas é apenas um válvula de escape, não quita o débito de nossas responsabilidades, antes, adia para o inevitável circulo vicioso, aonde seremos irremediavelmente para nosso próprio bem, provados pela indiferença dos semelhantes.
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Muito bem, Thirson.
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Uma parcela da sociedade desfruta de uma zona de conforto forjada sob as asas dos bandidos políticos profissionais, outra, vive de migalhas. A primeira tem informações suficientes para entender o que ocorre, a segunda, se encontra num estado de prostração, sem forças, por falta de nutrientes. A primeira, adora dizer que o povo não sabe votar, a segunda, troca o voto por migalhas…
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Tecer teorias é fácil, mas na prática, o que fazer prá melhorar este cenário ?
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Que tal tentar uma resposta, Nilson?
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Estava agora conversando sobre isso com um amigo.
O que nossa geração tem feito é absurdamente criminoso, mas somos levados a isso, a culpa não é inteiramente nossa. Relações de troca e interesse hoje se dão por número de likes e comentários em fotos autorreferenciadas. O puxa-saquismo de antes agora se converteu em uma versão muito piorada na qual o diálogo se dá tão somente pelas redes sociais e seus afluentes. É angustiante lidar nessa chave de existência, sobretudo para quem se importa com a condição material e física do humano, da natureza, das questões sociais – mas o que fazer? Como fazer? Já tentei escapar dessa cilada mas me vejo, de quando em quando, recorrendo às redes sociais para afirmar meus pontos de vista, para compartilhar minhas crônicas – se não fosse pelo facebook elas não teriam chegado ao público de São Paulo -, meus trabalhos como ilustradora..
A internet é uma ferramenta política muito eficaz, talvez bizarramente mais eficaz que a realidade. E quanto mais colorido ou chamativo for o espaço melhor, quanto mais bonitas forem as fotos melhor, quanto mais contatos você tiver no facebook melhor… É um jeito muito especial e triste de encobrir a amargura dessa vida real que temos vivido de forma tão passiva – e quanto aos blogs, quanto mais eles forem parecidos com a vida real, quanto mais tocarem nela enquanto tema, menos serão procurados… É mais fácil lidar com a pós-verdade, com o fragmento, com o tweet, do que tratar das coisas como elas de fato são. Será de fato a morte decretada do jornalismo? E da literatura?
Abs.
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As provocações da Paloma sao muito boas. Quem mais entra na roda?
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Esse não é o primeiro passo para substituir a realidade pela virtualidade, tal como já previam alguns autores de ficção cientifica? O mundo está andando rápido demais, o fluxo de informação é enorme e as pessoas não tem capacidade e nem tempo de separar o joio do trigo. Em circunstâncias normais, esse seria o papel do jornalismo sério. Entretanto, as pessoas têm também dificuldades de identificar o que é o jornalismo sério, pois houve a opção da imprensa por um nivelamento por baixo devido a razões políticas e comerciais.
Talvez esse artigo da Wired ajude um pouco a explicar a luta que os jornais consolidados estão passando para se manter viáveis em mundo digital (https://www.wired.com/2017/02/new-york-times-digital-journalism/).
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Olha só a Paloma descreveu exatamente o perfil dela no Facebook.
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Pode vasculhar. Perfil de facebook é público, você acha quem quiser. Ficou mais fácil caçar comunista agora que o Mark Zuckeberg faz isso pra você, né?
Passam-se as décadas e os covardes continuam protegidos pelo mesmo véu de covardia, burrice e ignorância. Não tenho medo da sua mediocridade.
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Paloma é uma pessoa maravilhosa e uma intelectual de grande valor. Lamento que seja vítima de um cidadão inquisitorial, infenso ao contrário, avesso à democracia. Tive a honra de ler e prefaciar os manuscritos de um livro que ela escreveu. Espero que saia logo para todos confirmarem o que digo.
Este blog não é lugar para caçador de ideias. É um espaço aberto à divergência e ao contrário. Espero que essa diretriz seja respeitada por todos que aqui se manifestarem.
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Obrigada, Lúcio.
Minha editora está com problemas – o mercado está recessivo e houve toda a quela questão no ano passado – mas conversei com meu editor essa semana e faremos de tudo para que o lançamento não passe de março aqui em São Paulo.
Que seja uma obra da liberdade e não do aprisionamento.
Abs
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O lançamento em março, em São Paulo, já é uma boa notícia. Em Belém será mais fácil. Tenho certeza que a Débora, da Fox, apoiará.
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Acredito que atualmente ocorre uma transição entre os meios tradicionais de jornalismo – com os blogs – e a maturação da internet em facilitar a expansão do próprio jornalismo.
No entanto, os valores individuais da sociedade emancipada ou invisibilizada em sua alienação é que tornam a tecnologia obsoleta para afunda-la no ostracismo intelectual e a perda da percepção da realidade, mas é a mesma que estabiliza a navegação para captação da informação fidedigna ao cotidiano.
Semelhante a Fênix da mitologia, o jornalismo bem como a literatura, sempre reascendem das cinzas dos períodos históricos obscuros da humanidade.
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Pela democracia direta: Abstenção Já!
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POLÍTICA é a palavra chave. Ao invés da politicagem (“mão invisível” da corrupção), que há muito mantém o status quo.
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Vivemos sempre correndo, cada vez mais apressados.Atualmente temos ilusão de que estamos sempre atrasados para o compromisso mais importante da nossa vida, mesmo quando não temos nada para fazer;tanto é verdade que os textos que são usados para se comunicar nas redes sociais (um dos meios de comunicação mais usados atualmente)são todos incompletos. E um bom dia? Quem ainda é capaz de dizer ou responder a esse cumprimento tão usual? E no trânsito?…
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Lúcio,
Talvez sem querer, mas pela necessidade de então e em função das barreiras que lhe foram impostas na época, você tenha sido o precursor daquilo que hoje está dominando a comunicação: Jornal Pessoal. Sim, agora, com o mundo digital, cada cidadão é “dono” do seu jornal e tem, com isso, a possibilidade de se comunicar e se posicionar das maneiras mais diversas. Claro que isso é bom, mas também é preocupante devido muita gente ainda não ter o preparo para o uso correto dessa ferramenta, o que é, convenhamos, até normal pelas circunstâncias e velocidade com que essas mudanças estão acontecendo.
Na verdade, quem se atreve a dizer qual é a melhor forma , ou a forma correta de usar essa mídia digital em todos os seus aspectos? Passamos por um momento delicado, de grandes transformações, quando quem mais sabe, vai ver daqui a pouco que não sabe de quase sada.
É preciso ficar atento para que o Jornal Pessoal lá de trás, o blog de ainda pouco, o face de agora e a nova ferramenta que surgirá logo ali, resistam sempre para valorizar , cada vez mais, a discussão e o embate de ideias, evitando com isso que a sociedade seja anestesiada e se encante, tão somente, pelos fascínios das novas tecnologias.
Sem o pensar, não teremos o fazer.
Um forte abraço,
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Obrigado, Orly. Estamos num momento da mais acelerada transição na história da humanidade, acho eu. Não conseguimos avaliar ainda o quanto (e o quê) perdemos e quanto (e o quê) ganhamos. Em consequência, ainda é impossível fazer o balanço e chegar ao resultado: superávit ou prejuízo? Da minha parte, tento preservar os valores de empreendimentos como o Jornal Pessoal, dando-lhe mais difusão através da internet. Mas não é um caminho tranquilo. Pedregoso e espinhoso é o que ele é. Não surpreendem os ferimentos e as quedas. Por enquanto, apesar disso, vamos em frente. Na companhia de pessoas valiosas e amigas, como tu.
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O sintoma mais vísivel (pelo menos para os americanos, mas certamente vádido também para os brasileiros) da aceleração da vida das pessoas:
https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-02-23/social-media-is-driving-americans-insane?bcomANews=true
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Este blog talvez poderia refundar a POLÍTICA, sabotada há muito pelos bandidos políticos profissionais e seus asseclas.
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Eu concordo com as manifestações acima que falam como a vida está corrida e que há pouco tempo para leituras mais demoradas e reflexões mais profundas. As redes sociais são tão coloridas e sedutoras que as pessoas esperam que as reflexões ja cheguem mastigadas por lá, esperando apenas um resumo das principais correntes de opinião, para concordar, discordar ou trolar/avacalhar. Os blogs serão moradas dos intelectuais, e estes serão como sempre foram os propagadores da cultura para o mundo de senso comum das redes sociais. Precisamos que os intelectuais não desistam e continuem a discutir idéias, mastigar, regurgitar para que os fazedores de memes as difundem no mundo real.
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