Paulo de Faria, teatrólogo e cronista
Uma das coisas que mais gosto de presenciar é estudante e professor fora da sala de aula, nos espaços de arte, no museu, teatro e galeria. E foi nesta que estive na quinta-feira passada, mais precisamente na Benedito Nunes, no Centur, uma galeria que gera polêmica pela sua estrutura. O artista só tem uma parede; a outra é um vidro, que dá um aspecto de vitrine para o público que passa na Conselheiro. Eu achei a galeria bem legal por esse aspecto, e as possibilidades de montagem que cabem nela. Porém, tem o reflexo do sol no vidro das obras, que merece atenção por parte da iluminação do ambiente, pois tem como solucionar.
Essa foi uma questão levantada pela turma de Artes Visuais, do professor Mariano Klautau da Unama. Uma turma incrível de mais de 20 alunos naquela atividade formadora. O papo informal e gostoso foi com o artista José Augusto Simões, com a exposição “A pele da cor expandida” O artista pôde falar de seu processo “com mais transpiração que inspiração”, e a mudança radical do Expressionismo figurativo pro abstrato. Em sua maioria em acrílica, em que as cores dominam as telas, em formas geométricas, com poucas curvas, fugindo do dramático, com volumes e perspectivas em sua negação. “A cor com autonomia e centralidade”.
O conjunto é muito agradável de se ver, pois forma um grande painel, e as cores são soberanas e protagonistas. Um novo e deslumbrante caminho se inicia em sua fecunda trajetória, “fugindo do não abstrato, do que seja carregado de narrativa exógena.” Somente o encontro, o choque entre as cores e o espaço. Mesmo sabendo que muito já foi tratado no passado, que não há nada de novo, e sim o de novo com as cores do artista antropófago. Essas pegadas no caminho ainda estão frescas. De acordo com Simões, “um caminho sem volta, um sepultamento do passado”. Vale a pena ver o artista se reinventando, em conflito, em eterno movimento.
Os títulos das obras dizem do subjetivo do artista no cotidiano de sua criação, como “Dia das mães”, que ele finalizou num dia das mães e são quadradinhos que lembram a figura maternal de sua infância. O ateliê do artista é em Mosqueiro, e se percebe na obra as cores fortes na diversidade do imaginário ribeirinho das Ilhas do Pará. Lá também o artista mora, mas, atualmente, está em tratamento médico, vai ficar todo o período da exposição em Belém. Se quiser bater um papo com Simões é só agendar, ligando na galeria. A exposição fica até 26 de maio, e dia 20 tem o lançamento do catálogo. Confirme na programação oficial os dias e horários. Não perca.
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